Publicado originalmente no Facebook/Petrônio Gomes.
O Carro Ideal.
Por Petrônio Gomes.
Quando eu tinha automóvel, minhas obrigações diárias eram
intermináveis, pois era necessário que juntasse aos deveres normais os cuidados
com o veículo. Era o nível de óleo para conferir, a bateria para examinar, a
pressão dos pneus para observar. E alcancei a época dos radiadores que exigiam
limpeza temporária. Era preciso levá-los para a oficina a fim de proceder ao
desentupimento, chamado “varetagem”.
Havia também os “grilos” na carroçaria, um barulhinho
enjoado que a gente não sabia de onde vinha, mas que nos deixava nervosos.
Tive um colega que gastava mundos e fundos para calar os
grilos do carro. Corria para o mecânico e voltava para o Banco a pé, contanto
que tivesse a certeza de que o silêncio voltaria quando o apanhasse de volta.
Coincidência ou não, sabe-se que o mecânico prosperou bastante.
Outro dever semanal era lavar o carro. Eu fazia questão de
assistir à cerimônia, embora recebendo no rosto os respingos da mangueira,
antes do almoço sabatino, precisamente o mais tranquilo. Entretanto, primeiro o
carro, depois eu. Parecia ser este o nosso lema naqueles tempos que hoje me
fazem rir.
Há uma época para tudo. Depois, tudo irá mudando na vida da
gente. Por uma razão misteriosa, nossas predileções vão seguindo outros rumos.
Somos o palco vivo em que milhões de células nascem e morrem a cada minuto.
Fico hoje pasmado quando me lembro das horas intermináveis que consumi,
procurando melhorar a aparência de calhambeques cansados, gastando dinheiro e
tempo com o que já estava perto do fim.
Mas depois da cirurgia nos olhos, quando o médico me
recomendou uma série de cuidados, fui perdendo, aos poucos, o apetite para
dirigir. Meu carro passou a ser um táxi, que no meu tempo de moço era chamado
de “carro de praça”. Foram-se os dias de luta, dos deveres antipáticos, dos
sábados perdidos.
Disco um número que já sabemos de cor, a digníssima consorte
e eu, peço um veículo de quatro portas, com ar condicionado e rádio
convenientemente desligado. A primeira condição, porque não tenho mais
desenvoltura para aprender contorcionismo, pois um carro de duas portas para o
público deveria ser proibido; a segunda condição, porque vivo com calor, dia e
noite; e a terceira, porque afasto o perigo de aparecer um rádio ligado com
“axé”.
Mas posso citar outras vantagens:
a) um carro de praça nos deixa na porta, sem a obrigação de
estacionar a 2 quilômetros de distância;
b) isenção de pagar taxa aos “flanelinhas”;
c) isenção total do IPVA;
d) isenção de qualquer espécie de multas;
e) despreocupação angelical com os aumentos de gasolina;
f) despreocupação com despesas com oficinas;
g) direito a um chofer particular, com quem a gente conversa
se quiser;
h) e finalmente, uma garagem livre em casa, onde poderemos
guardar todas as coisas inúteis...
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Petrônio Gomes.
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de agosto de 2015.
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