Infonet > Blog Luíz A. Barreto > 15/10/2004.
Um novo livro de Biografias.(2004).
Por Luiz Antônio Barreto
Osmário Santos, autor do livro Memórias de Políticos de
Sergipe no século XX (Aracaju: UFSE/Fundação Oviêdo Teixeira/BANESE, 2002),
organizado com a colaboração do professor Afonso Nascimento, repete o feito de
retirar das páginas domingueiras do Jornal da Cidade os textos que emolduram
biografias sergipanas. Não há mesmo como não comparar um e outro livros. Oxente
essa é a nossa gente, de 450 páginas, 71 nomes, não tendo a pretensão de ser um
dicionário de memórias, ao final complementa o livro anterior, ampliando não
apenas as 123 biografias, distribuídas em 824 páginas, mas a visão do Estado e
especialmente da vida política e social de Aracaju.
Um livro sobre ou de políticos é sempre alguma coisa pesada
e medida, rebuscada para deixar a melhor das impressões, como uma exigência
comportamental, perante um leitorado que julga, aplaude e vota. Já um livro de
pessoas simples, flagradas em seu cotidiano e urdidas em suas histórias de
vida, é outra coisa, mais livre, límpida, sincera.
Os jornais são fontes preciosas de documentos, sempre
fornecendo dados, fatos, opiniões, perfis, que podem servir de roteiro ao
conhecimento ampliado da realidade. O dia a dia do jornal nas mãos dos leitores
encobre essa função profunda, exclusiva, que a imprensa desempenha ao fixar na
memória social as suas páginas, e notadamente as suas colunas. Osmário Santos
fez da sua página semanal um amplo registro e agora seleciona, organiza e
oferece, de uma só vez, o produto de anos de trabalho.
Os livros de Osmário Santos, bem preparados, mantendo
informações substanciosas, construídas através dos depoimentos tomados e
gravados, são singulares, únicos e estão destinados a cumprir, no futuro bem
próximo, um papel referencial igualmente destacado. Tudo começa com a escolha
das personalidades entrevistadas, espécie de calçada da fama, ditada pelo
prestígio de cada um, no seu ambiente de convivência. Depois, a edição,
limitada ao espaço de uma página, deixando aparas e sobras que passam
desapercebidas do leitor comum. Por fim, depois de anos nas estantes das
bibliotecas, quase sem consulta, eles ganham nova vida nas páginas dos livros,
onde vão recircular.
A fórmula de Osmário Santos deu certo. Tanto ele já produziu
um número gigantesco de horas gravadas, com centenas de pessoas, como soube selecionar
dois conjuntos de personagens, primeiro os do mundo da política, agora os dos
vários segmentos sociais, apanhados como se fossem tipos populares, sem aquela
conotação de pessoas excêntricas, portadoras de singularidades.
Os homens e mulheres que figuram em Oxente essa é a nossa
gente ocupam, na memória sergipana, lugares especiais, por conta do modo como
viveram ou vivem. São pessoas das mais variadas profissões e condição social,
alguns dos quais marginalizados pelas suas opções de vida, e que engrossam os
grupos que dão calor e ritmo ao viver sergipano. Explorando particularidades,
Osmário Santos produz a oportunidade de revelar, integralmente, pessoas que,
nem sempre, o tempo glorifica.
O leitor terá uma agradável surpresa ao folhear e a consultar
Oxente essa é a nossa gente e aprenderá, de forma simples, com quantos
sergipanos se faz uma cultura. E terá, ainda, a certeza de que os jornais
guardam tesouros em suas páginas, como as entrevistas de Osmário Santos. Uma
riqueza agora partilhada, como exercício jornalístico da melhor validade.
O livro de Osmário Santos repete a fórmula de transpor
textos das páginas de jornais para as páginas do livro, como a verter
jornalismo em literatura, combinação que tem dado muito certo no Brasil. São
poucos os intelectuais, fora da academia, que não exercem papéis de cronistas,
críticos, articulistas, nos jornais e revistas nacionais. Basta conferir entre
os imortais da Academia Brasileira de Letras aqueles que, como Antonio Calado,
Arnaldo Neskier, Murilo Melo Filho, têm uma militância na imprensa. Outros,
como Austregésilo de Ataide, Carlos Castelo Branco, Roberto Marinho, que já
morreram, elevaram o texto diário às mais altas ressonâncias da escritura
literária.
Foi lançado outro livro que nasceu nas redações dos jornais:
Sobretudo a Imprensa, de autoria de João Oliva Alves, um jornalista
reconhecidamente literário, que fez por merecer seu ingresso na Academia
Sergipana de Letras, onde Bemvindo Sales de Campos, Luiz Eduardo Costa, ocupam
lugares com suas biografias de jornalistas. Antes também outros luminares da
imprensa, como Humberto Olegário Dantas, Zózimo Lima, ocuparam cadeiras no
Sodalício. Não há, portanto, uma fronteira que limite os autores. Os textos de
Osmário Santos deixaram de ser jornalísticos e são agora literários, pela magia
que o livro encerra como objeto e como suporte de cultura.
As contribuições de Osmário Santos e de João Oliva valorizam
o batente do jornal, a tarefa cotidiana em busca da notícia e o esforço
interpretativo dos fatos. No primeiro, as vozes amplificam o campo das
influências, no segundo é a reflexão do autor que predomina além dos fatos e
sobre eles. Osmário Santos e João Oliva não são únicos. Outros autores, como os
professores Francisco José Alves, doutores da história, contribuem para que
jornais e revistas que circulam em Aracaju contenham textos que ajudam a
sociedade na compreensão dos fatos. Jorge Carvalho do Nascimento já é acadêmico
da ASL, Francisco José Alves pode aspirar uma candidatura, com todos os méritos
e chance de também figurar entre os 40 sócios efetivos da Casa de José da Silva
Ribeiro, que neste ano completou 75 anos de fundada.
Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet".
Contato: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Texto e imagens reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 28 de julho de 2015.
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