Folclore sergipano II
Por Luiz Antônio Barreto
Em 1977, quando a então Campanha de Defesa do Folclore
Brasileiro, dirigida por Bráulio do Nascimento, promoveu a pesquisa do Atlas
Folclórico do Brasil o Estado de Sergipe foi o que mais apresentou grupos
folclóricos sobreviventes: 220. Eram bandas de Zabumba, grupos de São Gonçalo,
Reisado, Guerreiro, Cacumbí, Taieira, Maracatu, Pastoril, Candomblé ou Xangô,
Chegança, Bacamarteiros, Samba de Coco, Samba de Aboio, Batucada, Pisa Pólvora,
Batalhões, Parafusos, Cangaceiros, dentre muitos outros.
Os 220 grupos, que davam a Sergipe a condição de maior
reserva folclórica do Brasil, estavam espalhados por quase todo o Estado e se
apresentavam em períodos de festas, ou cumprindo promessas, como as Zabumbas
quando acompanham procissão pedindo chuva, ou os grupos ligados ao calendário
litúrgico, como os de Laranjeiras e os de Japaratuba.
Laranjeiras é, por excelência, a terra do folclore, com
manifestações ligadas ao Catolicismo e aos cultos negros. Na Festa de Reis os
grupos participam da Missa e da Procissão de São Benedito, desfilando pelas
ruas sinuosas da cidade. Alguns grupos são do povoado Mussuca, onde parece
estar a maior concentração, e de onde saem, todos os anos, o grupo do São Gonçalo,
formado por homens, que vestem calças compridas cobertas com saiotes e com
camisas cobertas de fitas, e o grupo do Samba de Parelha, com suas quadras,
seus estribilhos e sua dança de coco. Outros grupos, de outros povoados, se
somam aos de Laranjeiras para participarem da festa tradicional, uma das mais
antigas de Sergipe.
Vários pesquisadores e escritores fizeram o registro do
folclore laranjeirense, dentro do contexto sergipano, como Beatriz Góes Dantas,
que a partir do estudo que fez da Taieira, ainda dirigida por Bilina, ampliou
sua interpretação das danças ligadas ao ciclo de festas católicas de
Laranjeiras. A professora estudou o São Gonçalo e a Chegança, à época comandada
por Oscar, e que era um dos mais organizados grupos folclóricos do Estado. Beatriz
Góes Dantas estudou a contribuição indígena, negra, e em seus livros estão os
mais importantes registros antropológicos sergipanos.
Outro autor que tem dedicado parte de sua obra ao folclore é
Jackson da Silva Lima, que publicou um volume de romances – O Romanceiro em
Sergipe – e organizou uma extensa bibliografia folclórica, resgatando autores e
títulos referenciais do folclore sergipano. Paulo Carvalho – Neto, recentemente
falecido, é outro autor importante, cuja obra foi ampliada com suas participações
nos Encontros Culturais de Laranjeiras. Carvalho Déda, de Simão Dias, autor de
Brefaias e Burundangas do Folclore Sergipano, recentemente reeditado, é outro
estudioso importante, cuja contribuição amplia bastante o conhecimento dos
fatos folclóricos no Estado.
Autores como Felte Bezerra, Aglaé Fontes de Alencar, Núbia
Marques, contribuíram para que a bibliografia sergipana de folclore ganhasse
títulos importantes, que revelam a beleza e a variedade das danças, dos
folguedos e da literatura oral. Outros aspectos da cultura popular, como a
culinária e o artesanato, ganham também seus pesquisadores e intérpretes.
Desde 1976 que é realizado em Laranjeiras, durante o período
da festa de Reis, o Encontro Cultural de Laranjeiras. O Encontro, que tem como
tripé a pesquisa, o estudo e a divulgação do folclore, tem reunido
especialistas de todo o País e alguns do exterior, todos interessados nas
temáticas que anualmente são eleitas para estudo. Um levantamento feito por
Bráulio do Nascimento, por ocasião dos 20 anos de Encontro, constatou-se que
grande número de pesquisadores deram à bibliografia brasileira do folclore mais
de 300 títulos novos, resultantes de conferências, comunicações, debates, e
outras participações.
Assim como é possível reconhecer a contribuição que os
Encontros Culturais de Laranjeiras têm dado ao Brasil, com sua bibliografia
própria, se poderá dizer que Laranjeiras hoje é uma Escola de Folclore,
reconhecida e respeitada por estudiosos e instituições ligadas à cultura
popular do Brasil.
Os Encontros expõem e debatem temas folclóricos, com a mais
absoluta liberdade de expressão, permitindo mudança nos conceitos e no
entendimento do fato folclórico, e por isso mesmo renovando o aprendizado. Para
aprofundar ainda mais os estudos foi criada a Jornada de Estudos da Cultura
Medieval, convidando à participação especialistas dos Estados Unidos, da
Itália, da Espanha, de Portugal, da França, e de várias partes do Brasil. Tanto
os Encontros, como as Jornadas, tiveram parte do material editado em Anais.
O Artesanato, a Literatura de Cordel, a Medicina Popular, a
Culinária, os Jogos Infantis, o Conto Popular, a Arte e a Educação, o Folclore
Negro, a Música, a Dança e os Folguedos, foram alguns dos temas discutidos em
Laranjeiras, enquanto era mostrado o folclore dos grupos, em cortejo pelas ruas
e em apresentações especiais. Lambe Sujo e Caboclinhos, Taieira, com Maria de
Lourdes, recentemente falecida, Reisado de Lalinha, com ela e depois dela
encantar-se, Chegança, de Oscar e depois dele ter partido para a eternidade, o
Cacumbi, e outros grupos locais deram as boas vindas para que Sergipe todo
mostrasse a riqueza do seu folclore.
Texto reproduzido do site: sulanca.com/pesquisa
Foto reproduzida do site: palacioolimpiocampos.se.gov.br
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 16 de agosto de 2015.
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