Trânsito no início do século XX
Foi-se o tempo em que os sergipanos podiam se gabar de não
enfrentar engarrafamentos. Ainda não estamos passando pela situação caótica dos
paulistas, mas Aracaju definitivamente não é mais a mesma. O elevado número de
veículos e os “descuidos” de alguns motoristas têm complicado o trânsito na
capital. Em função das facilidades para adquirir um veículo mais pessoas têm
procurado as revendedoras de automóveis, bem como as auto-escolas e o Detran em
Sergipe para conseguir a carteira nacional de habilitação. Assim, o que se nota
é que aumentou o número de veículos, motoristas e a agitação no trânsito. Tudo
isso acaba tumultuando o fluxo, principalmente quando as pessoas seguem para o
trabalho, escola, no horário do almoço ou no retorno para casa. E ainda há os
que se julgam mais esperto que e simplesmente não cumprem as determinações do
código de trânsito.
O resultado é confusão, e no pior dos casos os acidentes com
vítimas. Regras claras e simples são desobedecidas diariamente por pessoas que
enxergam vantagem em andar acima do limite de velocidade, ou não usar
sinalização. As desobediências às normas do trânsito são passíveis de multa,
mas nem sempre o Detran dispõe de agentes suficientes para lembrar aos cidadãos
que é errado invadir a contramão de uma via. E apesar desse comportamento, a
normatização do trânsito não é assunto recente. O primeiro código de transito
brasileiro é de 1941, mas antes disso os municípios já arbitravam sobre o
assunto. O surgimento dos automóveis nas cidades acarretou a necessidade de
instituir normas. Desde 1912 os códigos de posturas dos municípios sergipanos
tratavam da circulação de veículos e pedestres no Estado. Nas décadas de 1910 e
1920 nem todos poderiam guiar automóveis. Inicialmente o candidato a motorista
deveria ter no mínimo 18 anos. Além disso, era preciso registrar o veículo
junto ao município e adquirir uma placa, isso já implicava no pagamento de um
imposto. Era proibido aos condutores subir nas calçadas, deixar o veículo em
qualquer lugar, e parar em pontes e bueiros. Até o início dos anos 20, não
existiam revendedoras de automóveis em Sergipe, por isso os veículos,
principalmente os novos, eram comprados fora do Estado. Aqui se negociava os
usados. Nesse tipo de comércio a boa e velha propaganda boca-a-boca e os
anúncios em jornais sempre ajudavam.
Os automóveis disputavam espaço com os veículos a tração
animal que circulavam pela capital sergipana e, principalmente, nas cidades do
interior. Os pedestres precisavam competir com carroças, bicicletas e bondes.
Mas o veículo mais perigoso parecia ser mesmo o automóvel. Daí porque a
necessidade de regulamentar o comportamento dos condutores. Qualquer agente da
municipalidade ou mesmo da polícia estava autorizado a abordar motoristas que
se portassem de maneira irregular nas ruas.
A desobediência às normas, com a consequente perturbação da
ordem pública ou o ocasionamento de acidentes deveriam ser punidos com multas
ou prisões. Mas não era apenas na capital que os automóveis precisavam de
freios. As cidades do interior também formularam roteiros para os condutores de
veículos automotores. Um regulamento de 1927 determina que nas cidades os
automóveis não poderiam desenvolver velocidade superior a 10 km/h, e que em
cruzamentos, curvas, becos e travessas, a velocidade deveria ser reduzida ao
mínimo. A velocidade mínima deveria ser mantida quando houvesse aglomeração nas
ruas. Imaginar um automóvel reduzir sua velocidade de 10 km/h para o mínimo
pode parecer impossível, mas vale lembrar que o desempenho dos carros das
décadas de 10 e 20, não se compara ao dos automóveis de hoje. Além disso, as
pessoas precisavam se acostumar à novidade dos veículos que se moviam com um
motor, ao invés da força animal.
Todos os automóveis deveriam ser providos de buzinas, freios
e faróis. A buzina servia para avisar aos transeuntes a sua aproximação, mas
ela também deveria ser utilizada nas curvas, cruzamentos de ruas e passagens
nos becos e travessas. Já os faróis obrigatoriamente deveriam ser acessos à
noite. Assim, não bastava ter a posse do veículo para sair com ele às ruas. Era
preciso saber guiá-lo e conhecer as normas para as situações em que elas fossem
aplicadas. Hoje, é claro, as normas são mais complexas, já que as necessidades
são outras. Mas o desejo de evitar acidentes utilizando a direção de modo
responsável deve permanecer. Ninguém precisa andar a 10 km/h, mas acender os
faróis à noite continua sendo obrigatório, já que este é um item de segurança,
não um acessório. Em qualquer tempo o bom senso e cortesia no trânsito não
fazem mal a ninguém.
______________
Texto de Andreza Maynard (Mestre em História do Brasil pela
Universidade de Pernambuco, Coordenadora da Especialização em Ensino de
História da Faculdade São Luís de França, Membro do GET/UFS.
_____________________________
*Foto e texto reproduzidos do blog:
fontesdahistoriadesergipe.blogspot
*De: ADAILTON DOS SANTOS ANDRADE.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 20 de dezembro de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário