Estudante quer garantir preservação de patrimônio estadual
A gota d’água para o Brasil entrar na II Guerra Mundial caiu
no litoral sergipano, a exatamente 20 milhas de Aracaju. Há 68 anos, três
navios da Marinha Mercante brasileira foram bombardeados na costa do Estado de
Sergipe, causando a morte de quase 600 pessoas – entre elas mulheres e
crianças, passageiros dos navios Baependi, Aníbal Benévolo e Araraquara. Grande
parte dos corpos veio dar na praia, conhecida hoje como Praia dos Náufragos. A
maioria foi enterrada ali mesmo num cemitério criado para receber as vítimas
desses naufrágios. O local foi tombado em 1973 pelo patrimônio estadual, mas se
encontra abandonado. O estudante de História Luís Fernando Reis Menezes quer
resgatar esse fato histórico e tornar o Cemitério dos Náufragos Patrimônio
Nacional para garantir a sua preservação.
“Meu pai, o jornalista Carlos Lúcio Menezes, e a minha mãe,
Maria Celina Reis Menezes, viveram boa parte desta história. Meu pai alistou-se
como voluntário da Força Aérea Brasileira logo após o torpedeamento e esteve no
local para ajudar na remoção dos corpos. Minha mãe confeccionava roupas para
enviar aos campos de batalha. Quando criança, visitei o Cemitério dos Náufragos
com meus pais, que me contaram a sua história”, disse o estudante. Para ele,
preservar esse monumento é contribuir para o resgate da história e exaltar o
sentimento de patriotismo.
Ele contou que recentemente, ao passar pelo Cemitério dos
Náufragos, ficou desolado com a
quantidade de lixo e mato que havia no local. Na semana
passada, o cenário era menos desolador. Moradores da região que tem familiares
sepultados naquele cemitério queimaram o matagal e retiraram parte do lixo para
reverenciar os mortos no Dia de Finados.
Interditado
Até três anos atrás, o Cemitério dos Náufragos ainda recebia
sepultamentos. Mas em 2007 uma sentença judicial iniciada em 2006 interditou o
local. A ação movida pela Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público
Estadual pedia a interdição do espaço para evitar poluição do lençol freático.
Todo o cemitério foi cercado com arame farpado para impedir o acesso de
visitantes. A comunidade do Robalo protestou. “Não podemos mais vir aqui limpar
o cemitério como a gente sempre fez, só no Dia de Finados. E assim mesmo porque
tiramos parte da cerca, pois queremos trazer flores para nossos mortos”, disse
dona Izaulina Maria Marques da Vitória, 77.
O Cemitério dos Náufragos está a 20 quilômetros do centro de
Aracaju. À frente dele está a Rodovia José Sarney, que entre 1985 e 1987,
enquanto era construída, levou mais da metade do cemitério, segundo os
moradores. “Passaram por cima de tudo. Reviraram as covas e depois colocaram
tudo no cemitério do Mosqueiro”, relembra o irmão dela, José Vitório da Silva,
73.
Mais de 100 anos
Cruzes quebradas jogadas ao chão, covas e sepulturas
abertas, mato e lixo tomam conta da pequena área surgida entre os dias 15 e 20
de agosto, quando os corpos foram sepultados naquele local (ver boxe). Os
moradores garantem, porém, que ele já existia, sob outro nome (Cemitério dos
Campinhos), para enterrar as pessoas que moravam naquele povoado. “Já tinha há
mais de 100 anos. Meus pais sempre moraram aqui e contavam que seus avós foram
enterrados no Campinhos”, relatou dona Izaulina.
Para ela, para o irmão e os vizinhos, Adelaido Marques, 65 e
Claudionor Andrade, 62, todos pescadores nascidos e criados no Robalo,
preservar é bom, transformá-lo em patrimônio nacional, melhor ainda, mas desde
que a prefeitura construa um novo cemitério para atender a comunidade.
De acordo com o Dicionário dos Médicos de Sergipe, o
Cemitério dos Náufragos foi fundado pelo médico baiano Carlos Moraes de
Menezes, que trabalhou em várias cidades de Sergipe, tendo inclusive
participado do acontecimento. O historiador e pesquisador Luís Antônio Barreto
ressaltou o valor histórico do local e disse que parte dos corpos foi sepultado
naquele lugar tombado elevado à monumento histórico estadual pelo decreto
n°2.571, de 20 de maio de 1973. Segundo Luís Antonio, o bombardeio dos três
navios em Sergipe foi o estopim para o Brasil sair da neutralidade e declarar
guerra à Alemanha, à Itália e ao Japão.
Ataque dos submarinos alemães
A II Guerra Mundial começou em 1º de setembro de 1939,
quando a Alemanha invadiu a Polônia, e terminou em 2 de setembro de 1945. O
Brasil entrou na guerra em agosto de 1942 depois de sofrer uma série de ataques
de submarinos alemães a 20 navios da Marinha Mercante Brasileira, entre eles os
três que vieram a pique na costa sergipana (dois deles em apenas uma noite em
um espaço de 10 horas).
No intervalo de apenas dois dias, 15 e 17 de agosto de 1942,
foram torpedeados pelo submarino nazista U-507 o Bapendi, com 74 tripulantes e
235 passageiros; o Araraquara, que levava a bordo 73 tripulantes e 69
passageiros além de carga geral; e o Aníbal Benévolo, com 64 tripulantes e 83
passageiros, praticamente todos dormindo na ocasião do torpedeamento. Quase 600
pessoas morreram (os números divergem um pouco segundo os registros históricos
consultados, mas em todas as publicações, o número de mortos ultrapassou 550).
Cinco dias depois, em 22 de agosto de 1942, Getúlio Vargas declarou guerra ao
Eixo.
O aposentado Rosalvo Fontes, 90, era funcionário público na
época e ficou encarregado de transportar os corpos. “Levamos para os Cemitérios
dos Cambuís e Santa Isabel, em Aracaju, mas depois não deu tempo, pois o mal
cheiro era grande. Então enterramos ali mesmo onde hoje é o Cemitério dos
Náufragos”, falou.
Fonte: Jornal da Cidade.
Texto reproduzido do site: clicksergipe.com.br
Foto reproduzida do blog: conhecendocesad.blogspot.com.br
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 19 de março de 2013.
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