Os 100 anos de Gonçalo Rollemberg Leite
Por Luiz Antônio Barreto
Gonçalo Rollemberg Leite, nascido em Riachuelo em 14 de
fevereiro de 1906, no seio de uma família rica e ilustre, abraçou a carreira
jurídica bacharelando-se em Minas Gerais, em 1927
Gonçalo Rollemberg
Leite, nascido em Riachuelo em 14 de fevereiro de 1906, no seio de uma família
rica e ilustre, abraçou a carreira jurídica bacharelando-se em Minas Gerais, em
1927, e ocupando funções que o mantiveram sempre próximo daquilo que Tobias Barreto
caracterizava como a luta pelo Direito. Promotor público, Advogado de causas
cíveis e penais, com atuação no Tribunal do Júri, Procurador Geral do Estado,
em três períodos – 1942/1951, 1964/1967 E 1970/1972 – agregando ainda as
atividades de professor de História, no Ateneu e noutras escolas secundárias de
Aracaju.
Além de tais atividades, Gonçalo Rollemberg Leite foi um dos
fundadores da Faculdade de Direito de Sergipe, em 1950, ao lado de Carvalho
Neto, Cabral Machado, Álvaro Silva, Enock Santiago, Armando Leite Rollemberg,
Afonso Moreira Temporal, que era Inspetor Federal do Ensino Superior, e de
outros, proferindo a Aula Magna inauguratória dos cursos jurídicos em Sergipe,
em 15 de março de 1951, no salão nobre do Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe, e assumindo a cátedra de Direito Civil.
Com a morte do desembargador Octávio de Souza Leite, em 13
de janeiro de 1953, que dirigia a Faculdade, o Dr. Gonçalo Rollemberg Leite,
que era o vice diretor, assumiu a direção e nela permaneceu até 1970,
presidindo as providências para a federalização da escola e participando,
ativamente, do movimento em favor da criação da Universidade Federal de
Sergipe, em 1967, criando a Revista da Faculdade de Direito de Sergipe, cujo
primeiro número circulou em 1953, e vendo florescer a vida cultural, política e
social entre os estudantes, através Centro Acadêmico Silvio Romero, fundado em 1951, do jornal Academus, também
fundado em 1951, e da Associação Atlética da Faculdade de Direito de Sergipe.
A presença de Gonçalo Rollemberg Leite na direção da
Faculdade de Direito de Sergipe não serviu apenas para produzir uma imagem do
compromisso de professores e estudantes com a tradição do pensamento jurídico
sergipano, firmado nas obras dos grandes mestres, como Tobias Barreto, Silvio
Romero, Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, dentre outros, que atraiu visitantes
dos mais ilustres do País, como Hermes Lima, Gilberto Freire, Orlando Gomes,
Miguel Reale, dentre muitos outros, mas serviu, também, para reagir a todas as
tentativas de interferência indevida na vida da escola.
Os tumultos de 1954, quando da morte de Getúlio Vargas, a
agitação dos anos seguintes, e o golpe militar de 1964 não abateram o ânimo do
Diretor, que estabeleceu uma espécie de portão moral, protegendo a Faculdade de
qualquer tentativa de coação, livrando-a da indesejada presença de militares em
suas dependências. Gonçalo Rollemberg Leite mostrou-se a altura daquela
circunstância e abrigou estudantes, sergipanos e de outros Estados, tidos como
subversivos. Os jovens presos em 1964 não tiveram qualquer embaraço para
ingressarem no curso jurídico da Faculdade de Direito de Sergipe e isto
deveu-se, é certo, a postura firme, independente, corajosa, do seu Diretor.
Na luta pela criação da Universidade, a posição do Dr.
Gonçalo Rollemberg Leite foi a favor de uma autarquia federal, permitindo que
os alunos manifestassem, de todas as formas, a mesma posição, enfrentando o
esforço de Dom Luciano Cabral Duarte que defendia, afinado com o MEC e com o
Conselho Federal de Educação, a solução fundacional, que terminou prevalecendo.
Irrepreensível, portanto, a direção do Dr. Gonçalo Rollemberg Leite na
Faculdade de Direito de Sergipe.
Procurador Geral do Estado, e constitucionalmente também
chefe do Ministério Público, o Dr. Gonçalo Rollemberg Leite atravessou longo
período, desde a Interventoria até os Governos indiretos, passando por lapsos
democráticos nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Firme em suas posições, rico em
seus pensamentos jurídicos, Gonçalo Rollemberg Leite deixou na Justiça
sergipana um rastro luminoso que ainda hoje inspira os profissionais do
Direito, que representam o Estado e a sociedade.
Jornalista, fundador, diretor e principal redator do jornal
A República, em 1932, manejava sua pena, em editoriais e artigos assinados,
alguns sob o pseudônimo de Disraeli, com a orientação do Partido Social
Progressista, partido criado para as eleições de 1934 e que reunia dois antigos
rivais, Graccho Cardoso e Augusto Maynard Gomes, Leite Neto, e outros quadros
que enfrentavam o Partido Social Democático, o primeiro, liderado por Leandro
Maciel, Luiz Garcia, Pedro Diniz Gonçalves Filho, e outros e a força
interiorana da União Republicana, liderada pelos irmãos Augusto e Júlio Leite e
contava com a participação de Gonçalo Prado, de Maroim, e de outros senhores de
terra e de usinas de açúcar. Os embates,
radicalizados, esfriaram as relações familiares, principalmente entre Gonçalo
Rollemberg Leite e seu tio Augusto César Leite.
Intelectual, Gonçalo Rollemberg Leite fez conferências,
escreveu ensaios, e ingressou, em 1967, na Academia Sergipana de Letras,
ocupando a Cadeira 23, antes ocupada pelo irmão Leite Neto, falecido em 1964,
como senador. O magistério, porém, fascinava o seu talento de humanista, um dos
grandes do seu tempo, da linhagem intelectual de Clodomir Silva, Prado Sampaio,
Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Florentino Menezes, Artur Fortes, Mário
Cabral, José Calasans, e de muitos outros notáveis sergipanos.
Membro destacado de uma família grande – Leite Neto, José
Rollemberg Leite, Alfredo Rollemberg, Márcio Rollemberg, Josefina Leite Campos,
Fernando Leite Sampaio, Clara Leite de Rezende, seus irmãos -, Gonçalo
Rollemberg Leite morreu em Aracaju, em 17 de julho de 1977, deixando várias
obras, entre as quais se destacam: Direito Civil, Contratos Imorais, O Direito
e as Letras, Expressão Cultural de Sergipe, e o documentário Faculdade de
Direito de Sergipe (1951-1970).
*Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 8 de Maio de 2012.
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