quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mário Jorge (1946- 1973).



Poesia e legado de Mário Jorge continuam vivos
Por George W.O. Silva.

Se vivo estivesse, o poeta sergipano Mário Jorge Vieira estaria completando 66 anos neste 23 de novembro. Nascido em Aracaju em 1946, primeiro poeta vanguardista de Sergipe, Mário Jorge perdeu a vida num trágico desastre de automóvel, no dia 11 de janeiro de 1973, aos 27 anos.

Mesmo com a curta trajetória e tendo publicado apenas um único trabalho em vida, o envelope Revolição – lançado em Aracaju em 1968 –, além de alguns fragmentos, poemas e artigos publicados em jornais e revistas de Sergipe, o poeta sergipano deixou um rico e denso material, entre poesias e ilustrações, alguns publicados postumamente, como Poemas de Mário Jorge (1982), Silêncios Soltos(1993), Cuidado, Silêncios Soltos (versão modificada, edita pela Unicamp, em 1993), De Repente, há Urgência (1997), e A Noite que nos Habita, obra que o poeta deixou organizada, mas só publicada em 2003, com apoio da Prefeitura de Aracaju.

“Mario Jorge tinha uma produção artística muito intensa, e mesmo tendo morrido muito jovem, deixou muita coisa que ainda está por ser publicada. Em 2013 completam-se 40 anos da sua morte. Vamos buscar organizar esse material inédito e viabilizar a sua publicação, além de estar reeditando seus livros e promovendo outras atividades que resgatem a sua memória”, revela a deputada estadual Ana Lúcia, irmã do poeta.

“Os sergipanos, principalmente a juventude, precisam conhecer muito mais quem foi Mário Jorge e o valor da sua poesia, do seu legado, que continuam muito atuais. Ele era vanguardista e ainda hoje sua produção soa vanguardista, tal a força, o engajamento social, a consistência e a riqueza dos seus poemas e textos. Ele sempre esteve muito à frente da sua geração. Isso precisa chegar às pessoas, às novas gerações”, enfatiza Ana Lúcia.

POETA QUE ERA E É

O jornalista e também poeta Jozailto Lima – autor de cinco livros publicados, o último, Viagem na Argila, lançado este ano – entende que a morte prematura de Mário Jorge deixou menos próspera a poesia sergipana e brasileira. Para ele, o acidente que o vitimou em 1973 tirou do panorama da literatura um poeta extremamente promissor.

“Um poeta significativo, fértil, ousado. Muito rigoroso em seus objetivos literários, apesar de as intervenções dele soarem, à tradição da época e a alguns reacionários de hoje, como inconsequentes, desenquadradas. Mas estava ali um poeta que era e é”, analisa o baiano, radicado em Sergipe há 22 anos.

Ainda segundo o jornalista, “a poesia de Mário Jorge, adensada nos poucos livros que deixou, tinha vida. Tinha tônus. Tinha elo e liga. Tinha, sobretudo, poesia”.

E vai mais além: “Digo isso porque há gente fazendo poesia sem poesia. Mijando os pés de paredes da escrita e ostentando isso como arte. Mário Jorge não. Um verso dele que se lesse, um desenho, um diagrama, um parangolé qualquer que esboçasse, via-se a marca da poesia. Era um sujeito que sabia o que fazia. Via-se nele o elo com os seus e com o instrumento do seu trabalho, a palavra”.

Para Jozailto, como poeta singular que foi, Mário Jorge soube cutucar o “o silêncio que dorme nas palavras”. “Ele soube instigá-las, ir além do silogismo literário, da mera metáfora, da gostosa, pura e simples aliteração que faz dançar autores e leitores, e tentou dar sentido social, armá-las como um braço forte, num tom de quem escrevia no viveiro aperreante dos anos 70, sob o fulcro de uma ditadura militar”, enfatizou.

“O destino foi bruto, muito lenhador com ele. Deveria ter deixado que estivesse aqui e fizesse 66 anos neste 23 de novembro”, lamentou o jornalista e poeta.

MAIS SOBRE O POETA

Mário Jorge nasceu e morreu em Aracaju. Iniciou seus estudos no Educandário Brasília e depois no Atheneu Sergipense, de onde foi expulso por atuar fortemente como liderança no movimento estudantil secundarista e incomodar o regime. Graças ao acolhimento do Monsenhor Carvalho, conseguiu ingresso no Colégio Arquidiocesano (por pressões políticas, nenhuma outra escola aceitou receber o estudante), onde terminou o Secundário.

Em 1966 começou a estudar na Faculdade de Direito de Sergipe, mas pressionado pela atmosfera sufocante da repressão militar em uma cidade ainda pequena como Aracaju, no ano seguinte mudou-se para São Paulo, onde cursou Sociologia e era poeta festejado nos corredores da USP. Abandonou ambos os cursos.

Militante ativo e consequente do movimento político e estudantil, filiado ao PCB, foi preso em 1968, acusado de ‘atividades subversivas’, em parte pelo impacto desconcertante de sua única obra publicada em vida, a edição envelope Revolição. Respondeu ao processo em liberdade, sendo absolvido em 1972.

Publicado originalmente em: 23/11/2012, no Plenário.
Texto: reproduzido do site faxaju.com.br

Foto: reproduzida do site: antoniomiranda.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 12 de Dezembro/2012.

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