Poesia e legado de Mário Jorge continuam vivos
Por George W.O. Silva.
Se vivo estivesse, o poeta sergipano Mário Jorge Vieira
estaria completando 66 anos neste 23 de novembro. Nascido em Aracaju em 1946,
primeiro poeta vanguardista de Sergipe, Mário Jorge perdeu a vida num trágico
desastre de automóvel, no dia 11 de janeiro de 1973, aos 27 anos.
Mesmo com a curta trajetória e tendo publicado apenas um
único trabalho em vida, o envelope Revolição – lançado em Aracaju em 1968 –,
além de alguns fragmentos, poemas e artigos publicados em jornais e revistas de
Sergipe, o poeta sergipano deixou um rico e denso material, entre poesias e
ilustrações, alguns publicados postumamente, como Poemas de Mário Jorge (1982),
Silêncios Soltos(1993), Cuidado, Silêncios Soltos (versão modificada, edita
pela Unicamp, em 1993), De Repente, há Urgência (1997), e A Noite que nos
Habita, obra que o poeta deixou organizada, mas só publicada em 2003, com apoio
da Prefeitura de Aracaju.
“Mario Jorge tinha uma produção artística muito intensa, e
mesmo tendo morrido muito jovem, deixou muita coisa que ainda está por ser
publicada. Em 2013 completam-se 40 anos da sua morte. Vamos buscar organizar
esse material inédito e viabilizar a sua publicação, além de estar reeditando
seus livros e promovendo outras atividades que resgatem a sua memória”, revela
a deputada estadual Ana Lúcia, irmã do poeta.
“Os sergipanos, principalmente a juventude, precisam
conhecer muito mais quem foi Mário Jorge e o valor da sua poesia, do seu
legado, que continuam muito atuais. Ele era vanguardista e ainda hoje sua
produção soa vanguardista, tal a força, o engajamento social, a consistência e
a riqueza dos seus poemas e textos. Ele sempre esteve muito à frente da sua
geração. Isso precisa chegar às pessoas, às novas gerações”, enfatiza Ana
Lúcia.
POETA QUE ERA E É
O jornalista e também poeta Jozailto Lima – autor de cinco
livros publicados, o último, Viagem na Argila, lançado este ano – entende que a
morte prematura de Mário Jorge deixou menos próspera a poesia sergipana e
brasileira. Para ele, o acidente que o vitimou em 1973 tirou do panorama da
literatura um poeta extremamente promissor.
“Um poeta significativo, fértil, ousado. Muito rigoroso em
seus objetivos literários, apesar de as intervenções dele soarem, à tradição da
época e a alguns reacionários de hoje, como inconsequentes, desenquadradas. Mas
estava ali um poeta que era e é”, analisa o baiano, radicado em Sergipe há 22
anos.
Ainda segundo o jornalista, “a poesia de Mário Jorge,
adensada nos poucos livros que deixou, tinha vida. Tinha tônus. Tinha elo e
liga. Tinha, sobretudo, poesia”.
E vai mais além: “Digo isso porque há gente fazendo poesia
sem poesia. Mijando os pés de paredes da escrita e ostentando isso como arte.
Mário Jorge não. Um verso dele que se lesse, um desenho, um diagrama, um
parangolé qualquer que esboçasse, via-se a marca da poesia. Era um sujeito que
sabia o que fazia. Via-se nele o elo com os seus e com o instrumento do seu
trabalho, a palavra”.
Para Jozailto, como poeta singular que foi, Mário Jorge
soube cutucar o “o silêncio que dorme nas palavras”. “Ele soube instigá-las, ir
além do silogismo literário, da mera metáfora, da gostosa, pura e simples
aliteração que faz dançar autores e leitores, e tentou dar sentido social,
armá-las como um braço forte, num tom de quem escrevia no viveiro aperreante
dos anos 70, sob o fulcro de uma ditadura militar”, enfatizou.
“O destino foi bruto, muito lenhador com ele. Deveria ter
deixado que estivesse aqui e fizesse 66 anos neste 23 de novembro”, lamentou o
jornalista e poeta.
MAIS SOBRE O POETA
Mário Jorge nasceu e morreu em Aracaju. Iniciou seus estudos
no Educandário Brasília e depois no Atheneu Sergipense, de onde foi expulso por
atuar fortemente como liderança no movimento estudantil secundarista e
incomodar o regime. Graças ao acolhimento do Monsenhor Carvalho, conseguiu
ingresso no Colégio Arquidiocesano (por pressões políticas, nenhuma outra
escola aceitou receber o estudante), onde terminou o Secundário.
Em 1966 começou a estudar na Faculdade de Direito de
Sergipe, mas pressionado pela atmosfera sufocante da repressão militar em uma
cidade ainda pequena como Aracaju, no ano seguinte mudou-se para São Paulo,
onde cursou Sociologia e era poeta festejado nos corredores da USP. Abandonou
ambos os cursos.
Militante ativo e consequente do movimento político e
estudantil, filiado ao PCB, foi preso em 1968, acusado de ‘atividades
subversivas’, em parte pelo impacto desconcertante de sua única obra publicada
em vida, a edição envelope Revolição. Respondeu ao processo em liberdade, sendo
absolvido em 1972.
Publicado originalmente em: 23/11/2012, no Plenário.
Texto: reproduzido do site faxaju.com.br
Foto: reproduzida do site: antoniomiranda.com.br
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 12 de Dezembro/2012.
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