sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Curta Sergipano é Selecionado Para Festival em Cuba

André Aragão: "seleção para Festival é responsabilidade".
Publicado pelo Portal Infonet em 05/12/2012 *

Curta sergipano é selecionado para festival em Cuba

'Derredor' foi inteiramente produzido em Rosário do Catete

Genuinamente sergipano, o curta-metragem Derredor levará o nome do Estado para Cuba a partir do dia 4 de dezembro, no Festival Del Nuevo Cine Latinoamericano. Gravado no município de Rosário do Catete e realizado de forma independente, Derredor estará ao lado de grandes produções do cinema mundial. O Festival, que se estende até dia 14 de dezembro e está em sua 34ª edição, reúne diretores consagrados e projeta talentos todos os anos. Dirigido por André Aragão e produzido por Isaac Dourado, Marcel Magalhães e André Aragão, Derredor já conquistou prêmios em festivais e mostras em Aracaju e Brasília.

Em conversa com o Portal Infonet, o diretor André Aragão conta a respeito do processo de concepção e realização do filme, e revela suas concepções sobre a cena da produção cultural em Sergipe.

Portal Infonet: Como foi o processo de concepção do filme e a adaptação das pessoas em Rosário do Catete, onde o curta foi gravado?
André Aragão: A gente queria fazer uma coisa diferente. Já tínhamos abordado uma temática urbana em outras oportunidades, e queríamos agora fazer uma coisa não tão contemporânea, mais voltada para o interior e mais rústica. Rosário do Catete é uma cidade em que ninguém, nem os moradores, sabem o que é que tem lá. Por isso a gente foi desbravando. E por ser uma produção independente as coisas são mais complicadas. O elenco do filme é todo formado pelo próprio povo de Rosário. A gente não tem cachê, não tem preparador de elenco, não tem equipe... Então é um trabalho que requer paciência e convencimento. O pessoal é desconfiado, mas aos poucos eles foram aceitando, abrindo suas casas.

Portal Infonet: Quanto tempo durou a produção, desde a gravação até o lançamento?
André: A gravação foi feita em dois finais de semana, em fevereiro, e a primeira exibição aconteceu em julho deste ano, no Sercine.

Portal Infonet: Como o filme conseguiu chegar ao Festival Del Nuevo Cine Latinoamericano?
André: Como em todos os festivais, foi uma seletiva muito grande, com uma série de jurados. A gente inscreveu por inscrever mesmo, mais para divulgar, mas acabou dando certo. A inscrição foi feita em agosto. Mandamos o DVD, o pôster, os dados técnicos do filme. E na primeira semana de outubro recebemos a confirmação da seletiva, e depois chegou a notícia de que fomos selecionados. Ficamos surpresos, e começamos a correr atrás das passagens. Foram mais ou menos 500 filmes inscritos em todas as categorias, entre longas, curtas e animações. Fomos escolhidos na categoria Panorama Latinoamericano.

Portal Infonet: Qual a história de Derredor e que mensagem o filme quer passar?
André: A história se passa nos anos 1960, em Rosário do Catete, e gira em torno de um menino de 11 anos que acaba de perder o pai. Naquela solidão ele encontra um pistoleiro, e se deslumbra por aquela figura, que no olhar dele acaba assumindo uma feição paterna. A mensagem final não é lá muito bonita, e a gente deixa em aberto. Mas acho que o filme não tem sempre que ser feliz, por que a realidade nem sempre é feliz. Mas o desenrolar da história é interessante, acho que vale a pena.

Portal Infonet: E o que você aponta como diferencial da história para atrair o público?
André: Acho que é a pureza do filme. Apesar de ser tecnicamente muito bem feito, é um filme delicado, de uma sutileza bem grande. Acho que é isso que prende as pessoas. E o fato de não ter diálogos reforça essa mensagem, por que toda a emoção é passada através do olhar, da expressão. A pessoa se identifica do personagem, cria esperanças e expectativas sobre o que vai acontecer.

Portal Infonet: Como você descreve a sensação de ter um filme em um festival de proporções internacionais, sendo um dos precursores do cinema sergipano?
André: Mais do que ganhar prêmio, acho que a maior referência é estar no meio. Lá vão ser mostrados filmes da Fernanda Montenegro, do Cláudio Assis... Isso sem falar em diretores como Almodóvar e Spielberg, que vão estar presentes. É muito importante sair de Sergipe e estar no meio desse pessoal. Ao mesmo tempo é uma grande responsabilidade, por que eu não levo só o meu nome. A gente leva nas costas o nome de todo realizador sergipano. Todo mundo pode perceber que a gente está seguindo no caminho certo, que é viável, que Sergipe existe e faz coisas boas, e quem está lá fora reconhece isso. Assim como a gente conseguiu, ano que vem pode ser outro realizador. É isso que representa.

Portal Infonet: Como você vê a cena do cinema em Sergipe hoje? Vale a pena produzir cultura no Estado?
André: Muita gente não sabe que existe cinema aqui, e ainda está começando a conhecer os realizadores. No início dos anos 1980 existia um desenvolvimento do cinema em Sergipe, depois deu uma parada, e esses tempos voltou a existir de forma bem restrita: eu sou um realizador, e mostro pra você que também é realizador. É um público muito seleto ainda. As pessoas comuns, do povo, não costumam ver cinema sergipano como uma forma de entretenimento.

Mas os festivais estão aí, abrindo portas. E tem também a questão do processo de conquista, que vai desde a iniciativa privada até o governo. Nós temos que mostrar que o cinema é uma coisa rentável, que traz benefícios. Aos poucos estão chegando os incentivos fiscais, a Lei de Incentivo à Cultura... Está começando a valer a pena. Embora seja pequeno, o público está começando a acompanhar os filmes a cada exibição, se fidelizando mesmo. E isso vai nos recompensando aos poucos. Claro que existe aquela coisa: quando você diz que faz cinema, eles perguntam o que você faz de verdade e levam na brincadeira. Mas é legal ver quando o público está curtindo, que o filme está sendo bem recebido.

Portal Infonet: Que indicação você dá para aqueles que são apaixonados por cinema e tem vontade de produzir, mas acabam perdendo a coragem pela instabilidade da carreira?
André: Eu me coloco como exemplo. Sempre gostei de cinema, mas segui outro caminho e me formei em direito. Mas chegou um ponto em que eu cansei, vi que não queria aquilo. Eu não podia insistir em uma coisa que apesar de ser certa, rentável, não me traria satisfação. A gente sempre se pergunta: ‘você está deixando uma carreira que tem todo um status nas costas por uma coisa que parece uma brincadeira?’ Mas existe um mercado para isso, e é interessante por que não há uma capacitação técnica para muita gente. Então quem começar a fazer vai se dar bem. Muita gente espera que alguém faça primeiro e que dê certo para se motivar a começar. Acho que alguém tem que sair na frente, por que quem sai na frente costuma chegar primeiro. A gente tem que ‘meter as caras’, não pode se acomodar, e mostrar que nosso filme existe.

*Por Nayara Arêdes e Kátia Susanna.

*Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/cultura

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 6 de Dezembro/2012.

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