A vocação do homem é de eternidade:
Crônicas do Desembargador Luiz Rabelo Leite
Por Manoel Leonardo Santana Dantas. 1
“A vocação do homem é de eternidade. Por onde ele passa vai
deixando atrás de si marcas desta vocação e sinetes desta eternidade. Traz ele
no fundo de sua alma a presença do grande Presente – Deus – Supremo Ser que
plenifica todos os seres. Viandante das estradas da terra, o homem – peregrino
do absoluto – carrega dentro de seu coração uma vontade incontida de marcar a
sua passagem com o signo de gratidão à aquele que o criou. Deo Gratias é o
grito que ecoa por toda a natureza, num hino de reconhecimento de todos os
seres vivos. Mesmo aquelas criaturas que dizem negar Deus – sentem nos
escrínios de seu ser a angustia de Deus, a nostalgia do Criador.”2 O
intelectual Rabelo Leite escreveu e publicou crônicas para o jornal católico “A
Cruzada”, mesclando o gênero jornalístico e literário ao mesmo tempo,
sobretudo, embasando sua escrita no campo religioso, conforme evidenciado nesta
citação.
A vida de Luiz Rabelo Leite é a existência de um sergipano
nascido na cidade de Propriá em 27 de abril de 1926, tendo como avós paternos
José Rabelo Leite e D. Amélia de Oliveira Leite, e genitores o Dr. Moacyr
Rabelo Leite e D. Adalgisa Rabelo Leite. Formado em 1954 no Curso de Ciências
Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Bahia, foi Promotor de
Justiça, Cronista, Diretor de Educação e Cultura do Município de Aracaju, Chefe
do Posto do INIC-Instituto Nacional de Imigração e Colonização, Diretor do
Jornal “A Cruzada”, Radialista na Rádio Jornal de Sergipe, Professor
Universitário, Secretário de Educação, Cultura e Saúde do Estado, Presidente do
Rotary Clube Aracaju-Norte, membro do Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe, Desembargador do Tribunal de Justiça e Imortal da Academia Sergipana
de Letras.
Como colaborador da coluna “A crônica da semana” no Jornal A
Cruzada, Luiz Rabelo Leite se firma como cronista, explicita sem sectarismo
religioso suas convicções religiosas com base católica, elaborando um texto
suave com constante referência às Escrituras Sagradas, Deus, Jesus Cristo, Mãe
Maria e Igreja. Com um viés na Doutrina Social da Igreja, as crônicas de Rabelo
Leite fazem críticas a classe burguesa que procura, a toda prova, defender os
seus privilégios à base de explorações e imoralidades. A crônica enquanto
narrativa literária trata de problemas do cotidiano, assim o nosso cronista abordou
em seus escritos temas como: Religião, Morte, Direito, Amizade, Educação,
Cultura, Propriedade, Habitação, Economia, Forças Armadas, Nacionalismo,
Agricultura, Família, Urbanismo e Desenvolvimento.
A Amizade foi um tema recorrente em suas crônicas, fazendo
referência a amizade de seu pai, o médico Moacyr Rabelo Leite. A ponta da pena
escreveu: “Moacyr Leite, meu pai, marcou a nossa vida pela sua presença de
fogo, pela sua voz de profeta, pelos seus olhos claros de esperança, pela sua
inteligência magnífica, pela sua amizade leal e franca. Moacyr Leite, meu amigo
pai, que sofreu uma tempestade de dor, imensa como um mar e arrasadora como a
morte, foi entregue a terra, que tanto engrandeceu e dignificou em um domingo
de setembro, claro como a esperança de ressurreição e límpido como as lágrimas
derramadas pelos seus."3
O cronista enfatizou uma constante defesa da Doutrina Social
da Igreja, afirmando que a propriedade privada é o fruto natural do trabalho,
produto de uma intensa atividade do homem que pelos seus esforços deve criar
para si mesmo e para os seus um domínio de justa liberdade, não somente em
matéria econômica, mas também, política, cultural e religiosa. Assim sendo, o
trabalhador deve possuir a sua casa para morar, seus instrumentos de trabalho e
uma certa soma de bens a fim de que possa levar com seus familiares uma vida
independente.
O Dr. Luiz Rabelo Leite além do engajamento com a área
sociocultural, seguiu a carreira jurídica com intensa dedicação, militando na
advocacia ao lado de Dr. Manoel Cabral Machado, bem como, adentrou a carreira
do Ministério Público, no cargo de Promotor de Justiça, que permitiu sua
ascensão ao Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe como Desembargador,
exercendo a Presidência da Egrégia Corte no biênio 1983/1984. Foi ainda
Corregedor Geral de Justiça, Presidente do TRE-Tribunal Regional Eleitoral e
Diretor da ESMESE- Escola Superior da Magistratura do Estado de Sergipe. Uma
década já se passou do seu descanso eterno, e o cronista nos deixou uma lição
que a vocação do homem é a eternidade.
1 Especialista em Sergipe: Sociedade e Cultura, e Técnico do
Memorial do Poder Judiciário (TJ-SE)
2 Leite, Luiz Rabelo. A Mensagem do Sinal, 1954.
3 Leite, Luiz Rabelo. Dois Amigos, 1961.
Memorial do Tribunal de Justiça de Sergipe.
Foto e texto reproduzidos do site:
tjse.jus.br/memorial/artigos
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 17 de Dezembro/2012.
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