Amaral Cavalcante.
No Dia do Meu Aniversário.
(Sim, toda mensagem de amor será bem vinda, mas hoje é um
dia em que eu tenho mesmo que trabalhar, e não há melhor comemoração que esta.
Para todos vocês um texto que refaço a cada ano, com grande respeitp ao tempo.
tempo que sempre me põe melhor)
Aos 68,
Acho que inicio as inquietações do meu aguardado ancionato.
Sempre quis ser o ancião da polis, coberto de tardias honras
e respeitosas comiserações, para poder transgredir, retomar semvergonha ao
tônus anterior que me alimentou a irresponsável juventude e que sempre me
conservou tão bonito.
KKK, serei um ancião inimputável, prometo-lhes!
Como seria espetacular minha entrada em cadeira de rodas
numa solenidade careta, gritando palavras de ordem. Como reagiriam os
bam-bam-bans da ordem estabelecida ao meu consentido surto de anarquia cidadã,
como me seria bom estar defendendo a vida das amebas, a inadequação dos
vocábulos descartados como um tição apagado no velho fogão da língua, as mais
belas palavras de amor temporariamente desusadas como um solerte amor,
inconsútil alumbramento, hei de te ter no coração remido, beijando-te a face
com imorredouro amor, queridos amores de antigas linguagens.
E se não é para ser assimm, que não seja, qual é o problema?
Aos sessenta e oito é uma boa hora de volver, aproveitar na
louça do banquete a gordura que ficou na cozinha da festa, o vinho que sobrou
em taças mal bebidas. Voltar à embriaguês para que os meus demônios se
realimentem dos restos que sobram e inda queiram me corromper.
O demônio da vaidade, cintilante e vesgo, morre em mim
deinanição. O da soberba não resistiu a tabula rasa da realidade e se
estuporou, empanzinado de estrelas. A inveja nunca dormiu comigo, só o cão da
luxúria, exuberante e belo, logrou vencer minha cidadela. Ele me cercou de
falanges lindas e ainda agora me promete grandes prazeres, quimeras que ainda
me incentivem ao gozo e à luxuria.
A luxúria é o meu demônio querido, cotidiano, ele mora aqui
na minha velha camarinha, um cão danado entre os meus lençóis.
Conto 68 anos e os meus demônios estão em completa
atividade.
Espero que os próximos anos me sejam ricos em saciedade, que
a madureza me traga conforto, além da proficuidade amorosa, o gozo do amor
confortável sem o prazer fugidio das conquistas fortuitas.
Cada dia me dedico mais a reencontrar, com mais cinismo e
muita abnegação, o centro das minhas convicções juvenis. Porque não? Ora!
Enquanto eu estiver buscando combater o alvoroço da minha inadequação etária
estarei reinventando um velho e rebelde ser onde acomodar a personalidade final
que busco, e busco, e juro que vou encontrar, ancha do prazer ignorante e da
saciedade que o deuses me prometeram.
Então, meus amigos, cuidem bem de mim.
O meus demônios são imortais e eu, poeta envelhecido no
deserto das palavras, pelo amor de vocês pretendo vencer a obsolescência e, de
qualquer modo, tornar imortal o que somos.
É o que me basta
Por enquanto, escolho arder no fogaréu da poesia.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 11 de julho de 2014.
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