Amaral Cavalcante.
O membro explícito.
O Dr. Celso de Carvalho, herdeiro nobiliárquico do Barão de
Santa Rosa (de Simão Dias) e liderança do PSD, foi eleito vice pelo voto
popular, mas ascendeu ao cobiçado posto de governador de Sergipe por artimanhas
do golpe militar de 64 que destituiu o titular, o governador Seixas Dórea. Não
que Celso tivesse conspirado para tanto, mas acontece que o cavalo passou
selado e só lhe restou montá-lo. E o fez com tanta destreza que conduziu com
brandura e sabedoria as rédeas do Estado, em meio a tortuosos caminhos naqueles
tempos difíceis.
Levou para o palácio Olympio Campos, além da fleuma
conquistada como senhor feudal das elegâncias simãodienses sua bela esposa,
Bertildes de Carvalho , senhora de tradições oligárquicas que mantinha por aqui
o gosto pelo tailleur bem cortado com um fio de pérolas ao colo, pelo
chapeuzinho discreto sobre cachos curtos e bem alinhados, eventualmente por
luvas e sapatos meio-salto da cor do chapéu. Era a sobriedade fashion
universalizada por Jacqueline Kennedy, felizmente adotada pela nossa primeira
dama. D. Bertildes era, então, a imagem do poder contido na elegância de um
sorriso. Uma mulher e tanto.
Ocorre que as relações entre os governos estaduais e a
ditadura militar estavam incertas e complicadas, não se sabendo ainda como as
coisas deveriam ser conduzidas. Então, veio a Sergipe um importantíssimo membro
do Conselho Político da nova ordem, conversar com o novo governador.
O palácio Olympio Campos cuidou de recebê-lo com a pompa que
ele acreditava merecer. Deu-se um jantar no salão nobre do paço e, em
programada seqüência, o visitante desceria as escadarias para declarar à
imprensa contida no Hall, o que viera fazer por aqui. Ao chegar ao patamar da
escadaria ele parou, estufou o peito e esperou que cessassem os aplausos.
Foi então que se deu a desgraça.
Lá de baixo ouviu-se a voz poderosa do radialista Santos
Santana, funcionário da comunicação palaciana transmitindo o evento para os
ouvintes da Rádio Difusora:
- Neste momento o governador Celso de Carvalho está descendo
a escadaria do palácio com o...o... membro de fora!. (Deixara aonde o
papelzinho com o nome da autoridade?).
Eis que, voando baixo, o Dr. Marques Guimarães ,
cerimonialista e grande conhecedor dos rapapés palacianos, seqüestrou o
microfone das trêmulas mãos de Santana e passou a irradiar a cerimônia.
O “membro de fora“ empertigado lá no alto aceitou as
desculpas com um sorriso abaixo do zero grau. Já o nosso querido Santos Santana
saiu de fininho e foi afogar a vergonha pela sua involuntária contribuição
cívica á resistência democrática no Bhrama’s Bar .
Amaral Cavalcante.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 25 de fevereiro de 2012.
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