Amaral Cavalcante.
(Que me releve este respeitável grupo, tão apolíneo e bem
intencionado. mas este é um capítulo indelével da nossa história recente e,
como tal, merece ser contado. Infeizmente, se não for por mim, por quem o
será?).
De Bar em Bar:
Penetrando na Atlética
A noite começou daquelas. Dos degraus da catedral à Ponte do
Imperador andamos, mais ou menos, umas vinte andadas pra lá e pra cá, colocando
a cabeça em ordem.
- Vitório caiu! Os “home” fizeram um cerco na Praça da
Bandeira, deram baculejo em tudo. Só sobrou uma merrequinha com Mané Liamba.
- Mas eu tenho! Disse Harolno, catando no bolso uma berlota
entrouxada.
- Vamos matar esta coisa que a noite vai ser massa!
Ai já assumia Waltinho, mestre apertador como não havia
igual.
Éramos cinco, cada qual mais espalhafatoso. Eu mesmo, um
jardim suspenso em tamanco de tábua e coro cru, calça florida de cordãozinho na
cintura, bata de voal e farta bigodeira. Cabelo domado num rabo-de-cavalo,
finalizado num tufo crespo, duro de conter. Melhorzinho só Evandro, já bancário
do Banese, em gabardine e ban-lon. Popó, chinês e querendo mais, sobraçava a
sua providencial maleta farmacológica, onde havia de um tudo: desde o xarope
Romilar aos mais disputados comprimidos. Estávamos devidamente apetrechados.
Cruzávamos ene vezes a passarela da Sorveteria Iara com a
maior cara cínica, imbuídos na sagrada missão de descolar uma coisa - que a
noite ia ser massa!
E foi. Primeiro uma talagada de Pitu no Beco do Mijo,
depois, uma festa de arrombar: os 15 anos de Maria Odília na Associação Atlética
com a banda Los Guaranys e tudo de cima. O poréns é que só havia um convite, e
assim mesmo, afanado. Dirigido a Meyre Bareto, por artes e ofícios foi parar
nos pertences do seu mano Ismar.
Valeu pros cinco, depois de uma conversinha animada com o porteiro
Geraldão, ali no beco.
Geraldo, um avantajado negão conhecido pelas suas
malcriações eróticas, calhou que quedava a asa por um de nós. Ora! O que é que
tem? Por uma noite massa, até que valeu a pena! Quem foi o encarregado da
tramóia eu não digo, nem sob tortura.
Lá dentro, pura nata! Menininhas de longo e saltinhos
colegiais, não paravam quietas. Por qualquer motivo atravessavam o salão
arrufando os vastos panos em adeusinhos e pivôs. As mães, tilintando no peito
berloques de um conto e tanto, gritavam:
- Lucila, se aquieta menina!
Já os pais, dando graças a Deus pela mesa que conseguiram
alcançar, disfarçavam rogando praga:
- Tomara que escorregue e caia! Ou vinha, ou o mundo se
acabava!
E lá estávamos nós empreitando os garçons, flanando no baile
com a alegria peculiar dos penetras, comendo e bebendo sem gastar um puto. De
repente, já era meia noite! A orquestra atacou um Danúbio Azul e eis que
adentra o salão um bolo de três andares, com um beija-flor periclitando em
cima.
Se eu tivesse juízo terminaria aqui esta história, sem falar
de Rezende - o que de nós mais costumava aloprar. Não se sabe por que o rapaz
não podia misturar gererê com chocolate. Ficava assim meio leso, cheirando o
tempo como um perdigueiro e daí, era batata: lá vinha aprontação!
Rezende partiu para o bolo e atacou a primeira camada – um
quarto era dele e o resto, dizia o doido, seria nosso. Catei chão e não achei.
Waltinho, que explicava para o pai da debutante a cosmologia do Bhagavad Gitâ,
só se deu conta depois que anteparou um sopapo nas fuças. E os outros, eu só os
vi depois, já apertando outro fino debaixo de um frondoso oiti na Praça
Camerino, rindo, não me ocorre de que.
Foi uma noite massa!
Amaral Cavalcante – fevereiro/2009.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de julho de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário