Amaral Cavalcante.
O bar dos muito machos.
Alguém ai sabe se o Bar do Caldinho ainda funciona na
esquina de Estância com Arauá?
Criado nos idos setenta por um itabaianense para atender ao
contingente de universitários conterrâneos que crescia em Aracaju, acabou
virando o point da mais convicta macheza disponível nesta capital.
Servia carneiro com inhaca de bode, tripa de porco assada
ainda com o cheirinho da natureza,espetinho de pescoço, sarapatel ao
extravagante cominho e até culhões de boi ao óleo e alho - um agravante
perigosíssimo à excessiva testosterona solta no ar.
A cerveja abria-se no dente.
Garçom, pegava-se pelos fundilhos.
E cuspia-se muito.
Tirando o exagero literário era ali o bar dos muito machos.
Dia de futebol lotava de torcedores a xingar a mãe do juiz, a interpretar os 90
minutos da peleja aos berros e imprecações.
Desde as mesas mais disputadas, situadas na calçada, até a
última que ninguém queria, no fedor do WC, era uma zoada infernal de paixões
exasperadas. Gritava-se pelo time, pelo zagueiro, pela euforia da vitória, pelo
simples prazer de provocar arruaça.
Agora, mulher no recinto, nem uma pra remédio.
Não preciso reproduzir aqui o furdunço de uma confraria de
machos desacompanhados discutindo futebol com o incentivo da cerveja e da
rabada com pimenta. Vocês podem imaginar.
Mas se eu quisesse lhes falar de um lugar onde a emoção era
dominante e primitiva seria de lá do Bar do Caldinho, onde me acostumei a ir
nos sábados á tarde.
É que andávamos nós, os intelectuais, sobraçando a
quintessência da cultura universal sob os doutos sovacos, experimentando mesas
de bar que nos acatassem.
Na Primeira vez em que fui levado pesquisar as primitivas
emoções da natureza humana no Bar do Caldinho, saí de lá bêbado de matar de
lenço. Inebriado por sovaqueiras terríveis, declarei convicto o meu eterno amor
pelo time mais macho que todos, o serrano Itabaiana, glorioso time de macheza
inconteste, conforme me convenceram os machões itabaianeses.
Voltei muito lá, mas ai já é outro filme.
Amaral Cavalcante março/2009.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 16 de junho de 2014.
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