Fernando Sávio na redação do jornal "Folha da Praia", em Aracaju.
Foto: arquivo Amaral Cavalcante.
Fernando Sávio Brandão de Oliveira
Gostava de ser chamado com todos os efes e erres, um nome de
quatro costados como exigia sua imponente figura de brancuras europeias e olhar
ultramarino. Quando o conheci, na década de 1970, caía-lhe sobre os ombros uma
viçosa cabeleira de fios negros e sedosos, largados ao desalinho para acentuar
a rebeldia que imperava nele todo. Grandão, malandro de conversa fácil e boa
praça, o jornalista Fernando Sávio trazia no peito uma marca inquietante: a
enorme cicatriz que lhe deixara uma cirurgia coronária, riscando-lhe o tórax de
cima a baixo, e que ele gozava prazer em mostrar abrindo sempre a camisa até o
terceiro botão, o que o tornava mais notável entre nós.
Ficamos amigos. Quando lançamos em 1981 o alternativo Folha
da Praia, Fernando era o nosso principal articulista, a novidade literária que
orientou nossa empreitada por uma nova linguagem jornalística em nosso meio. O
seu texto era terno, preciso, literariamente culto e perfeitamente acumpliciado
com as grandes questões políticas daqueles tempos, inaugurando, naqueles idos,
uma conversa exitosa com os leitores, tão sequiosos disto.
Mas a sua mais inesquecível qualidade é a elegante
malandragem, a entrega absoluta aos prazeres da vida, essas coisas que nos
fazem eternamente amados e saudosos porque nos mantém na lembrança das ruas,
elas que, verdadeiramente, detém o poder de nos acenar com certa imortalidade.
Fernando, talvez porque nunca se importasse com as consequências
revolucionárias do que fazia, firma-se agora com um grande revolucionário no
seu tempo.
Fernando Sávio Brandão de Oliveira era, sobretudo, um boêmio
consciente da sua genialidade, um homem emocionado com a sua própria capacidade
de alumbramento, um escritor completo de bem humoradas convicções, um letrado
de bem com a sua escrita e um amigo bom pra caralho.
Voltarei ao assunto.
Amaral Cavalcante - novembro/2013.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário