(Falta a foto tirada pelo próprio Déda, de uma mulher estendendo um pano vermelho sobre a cerca).
Bandeira no varal
De Marcelo Déda
Hasteia no varal
do teu suplício
a rubra bandeira
de todos os dias
como quem faz
um atávico sacrifício,
como quem cumpre
uma velha liturgia.
Lava as manchas
das lágrimas,
da ânsia, da agonia;
oculta o rastro dos orgasmos,
apaga a última alegria:
quara o úmido tesão
na luz intensa do dia.
Abra o estandarte encarnado
sobre as estacas
deste feudo esquálido.
Deixa o sol pagão
inundar de calor o pano,
secar as saudades,
desidratar a memória
- fundar no lençol um extenso sertão,
deserto expropriado
de àgua e de história.
Agora volta,
pois é hora.
A vida urge,
o tempo cobra:
saca da farpa aguda e fria
a bandeira febril da agonia
hasteada a meio pau
no que lhe coube dessa sesmaria.
Volta, pois
outra vez é noite -
enfrenta o espelho,
maldiga o destino,
sapeca na face
um véu de rouge,
pinta de vermelho
o lábio fino.
Sobre a cama
arreia de novo
o pálio antigo:
e minta
que o seu amor
é seu amigo.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 19 de novembro de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário