Infonet - Blogs - Luíz A. Barreto - 30/03/2005.
Aracaju, Doenças, Aterros e Obras.
Por Luíz Antônio Barreto.
A decisão do presidente Inácio Barbosa de mudar a capital
ainda carece de mais amplo e melhor entendimento, para que certas lacunas sejam
preenchidas com informações contidas nos documentos públicos, com as quais será
possível consignar, nos anais da história, o papel de pelo menos quatro figuras
de destaque político: o próprio presidente Inácio Barbosa, o Barão de Propriá –
comandante José da Trindade Prado, da Guarda Nacional -, o Barão de Maruim –
João Gomes de Melo - e o presidente Salvador Corrêa de Sá e Benevides. Inácio
Barbosa foi nomeado presidente da Província de Sergipe em 7 de outubro de 1853,
tomou posse em 17 de novembro do mesmo ano, governando até 6 de setembro de
1855, quando chamou a assumir a administração o vice-Barão de Propriá, que permaneceu
a frente do Governo até 26 de setembro, passando a chefia da Província ao Barão
de Maruim. Salvador Corrêa de Sá e Benevides, nomeado em 24 de dezembro de
1855, tomou posse em 27 de fevereiro de 1856, ficando em Sergipe até 11 de
abril de 1857.
Inácio Barbosa tinha pressa em dotar Aracaju das condições
de habitabilidade e convocou os capitalistas mais próximos para participarem da
somação de esforços em pelo menos três medidas imediatas: o aterro da área
central da nova cidade – a Olaria, a construção das várias obras e o combate às
doenças que ameaçavam mais que as próprias “febres do Aracaju”. O engenheiro
Sebastião José Basílio Pirro, que desde 1848 estava na Província, comissionado,
contou com a colaboração de mais dois colegas, para implantar seu projeto, que
não era tão simples como querem supor alguns intérpretes da história da capital
sergipana. O tenente Coronel José Xavier Garcia de Almeida, encarregado de
obras gerais, e Capitão Francisco Pereira da Silva, responsável pelas obras da
Província.
As obras começaram em ritmo alucinante. A primeira delas, o
Palácio Provisório (atual prédio da Delegacia Fiscal) foi contratada em 23 de
março de 1855, menos de uma semana depois da Resolução da mudança, com o
tenente coronel Antonio Carneiro de Menezes. Era uma construção relativamente
simples, com dois quartos, duas salas de frente, um gabinete, uma sala de
jantar, dispensa e cozinha. O presidente Salvador Corrêa de Sá e Benevides
mandou ampliar o Palacete, com mais dois quartos, uma estrebaria e um muro. Em
18 de abril, foi contratada a obra da Alfândega, (prédio que está fechado, no
fundo da praça General Valadão), construído sobre as ruínas da Alfândega velha.
Em 23 de abril o Quartel da Polícia (atual prédio, sem uso, da Secretaria de
Estado da Educação, a avenida Ivo do Prado). Em 22 de maio foi lançada a pedra
fundamental da Catedral, que não passou de parte do alicerce, e em 15 de junho
teve início, no terreno onde deveria ser construída a Catedral, a obra do
Palacete da Assembléia Legislativa Provincial. As obras de esgotamento
sanitário e de aterro tiveram como responsável o Capitão Francisco Pereira da
Silva, enquanto as três fontes que Inácio Barbosa mandou cavar ficaram sob a
responsabilidade do tenente coronel José Xavier Garcia de Almeida.
A historiografia sergipana é pródiga para com os presidentes
titulares, mas trata pouco dos vices, geralmente quatro, para cumprir certos
períodos. Quando foi chamado a assumir o Governo, o Barão de Propriá era o 3º
vice-presidente. O Barão de Maruim, que era o 1º vice, estava fora da Província
e o 2º vice ou tinha morrido ou estava com algum impedimento. Apesar de passar
apenas 20 dias como presidente interino, o Barão de Propriá teve de enfrentar o
cólera, tomando providências que livraram Sergipe de uma epidemia de graves
proporções. Doente, em Estância, o presidente Inácio Barbosa temia que o cólera
que grassava na Província da Bahia pudesse atrapalhar os seus planos de povoar
Aracaju com funcionários públicos transferidos de São Cristóvão e com sergipanos
de vários lugares. Foi Inácio Barbosa, no leito de morte, quem declarou a
“Quarentena” para as embarcações procedentes de portos onde houvesse a epidemia
do cólera e criou uma Comissão de 3 médicos para Estância, dentre eles o poeta
José Maria Gomes de Souza, um para São Cristóvão – Dr. Francisco Sabino Coelho
de Sampaio, e um para Aracaju, o Dr. José Antonio de Freitas Júnior,
encarregada do monitoramento da providência.
Inácio Barbosa, em 6 de setembro de 1855, convocou o Barão
de Propriá e o mandou assumir o Governo da Província, para tomar outras
medidas, como a de contatar com os presidentes das Províncias de Pernambuco e
de Alagoas, garantindo o abastecimento de Sergipe, principalmente de comidas e
remédios, prejudicado com a decisão de fechar as entradas para os barcos da
Bahia e de outros portos ao Sul. O Barão de Propriá, em Relatório datado de 26
de setembro de 1855, com o qual passa a administração da Província ao Barão de
Maruim, demonstra toda a sua preocupação com a situação ameaçadora, como um
percalço ao intencionário do presidente Inácio Joaquim Barbosa.
As circunstâncias desfavoráveis daquela quadra, incluindo a
morte prematura do presidente, não impediram, contudo, o sucesso do projeto de
mudança da capital. Os aterros se tornaram rotineiros e vararam o tempo, as
doenças foram combatidas, as áreas das construções saneadas, e as obras fizeram
de Aracaju um grande canteiro de trabalho, como atesta o relato da visita de
Dom Pedro II e sua comitiva a capital sergipana, em janeiro de 1860. Aracaju
foi, também, uma vitória da determinação.
Fonte: "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet".
institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 28 de novembro de 2013.
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