Conluios com a Web
Meu processo de escrita tem sido sempre o mesmo. Visto uma
bermuda velha de agradáveis passados, calço uma havaiana furada no calcanhar e
aviso aos circundantes domésticos com falso mau humor: vou beber no facebook.
Todos riem nesta hora. Depois abro um vinho e coloco dois prevenidos latões de
cerveja no congelador, para segurar, até mais tarde, o papo virtual com os
amigos seguidores.
Abro o feed e leio tudo o que me toca o entusiasmo, às vezes
comentando ou apenas curtindo e outras compartilhando, quando o que leio é o
que eu gostaria de ter postado e tem a minha inteira concordância. Levo em
conta também os seguidores que interagem comigo e que me fazem estar aqui,
nesta conversa de viciosa inteligência que tanto me apraz.
Meia garrafa depois eu escrevo. Levo um tempo buscando no
Google a melhor ilustração para a minha viajem e curto muito achar naquela
Babilônia a ilustração ideal para o sentimento que quero remeter aos meus
benéficos leitores.
Ai então me resta aguardar as manifestações de apreço e
concordância, os reparos certeiros, as raras obtemporações e os profusos
elogios ao que eu posto, o necessário acumpliciamento diverso que me anima a
continuar escrevendo e postando no Facebook. Saibam que levo muito a sério o
julgamento de todos vocês, já que nada os obriga a me curtir. Esta moderna
interação entre escritor e leitor é a mais profícua novidade na cadeia
produtiva que move a literatura nesses tempos ainda mal entendidos da
comunicação via Web.
Já no pé da garrafa eu costumo recorrer ao joguinho da
Paciência, outro vício que o computador nos traz, e jogo o jogo até que algum
de vocês faça soar a sineta da sua presença em meu universo virtual.
Gosto muito de compreender esse novo tempo.
Amaral Cavalcante.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 23 de novembro de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário