Publicado no Portal Infonet, em 17/03/2012.
Aracaju: Rua da Frente e Flor.
Por Araripe Coutinho.
Abraçado à balaustrada da rua da frente, vejo desmoronar meu
sonho de infância, pré-adolescente recém chegado na cidade pela rodoviária Luiz
Garcia, em 79, quando, indo morar na rua Santo Amaro, 59, num palacete que ia
até a rua Capela e chorava querendo decifrar e já os enigmas do relógio da
catedral, que de meia em meia hora tocava. Tudo era colonial, cristaleira de
chipandelle, palmeiras de folhas recortadas nunca vistas pelas beira do RJ e um
piso secular que desenhava nos ladrilhos a história de minha tia Donana Araújo.
Acrescido de muita história, fui para o colégio Lourival Baptista, depois Jackson
de Figueiredo e depois o famoso GA – Ginásio de Aplicação da UFS.
Com o passar do tempo fui vendo o meu sonho desmoronar. Eu
que tanto amei o centro de Aracaju, ainda peguei o Cine Vitória, o Aracaju e o
Palace, sem falar do Rio Branco que era uma história à parte. Pude me perder,
como tantos, no cabaré de Maria Augusta, uma espécie de pousada entre o Maria
Feliciana e o bar do meio e namorar um guarda do Banorte, um banco no calçadão,
que me deu tantas alegrias.
Apaixonado por Aracaju, fui me embrenhando pelos personagens
da cidade, e lá se vão incontáveis nomes como J.Inacio, Muirlo Mellins, Junot
Silveira que escreveu a crônica mais bonita que já li sobre a cidade, dona
Celina Rollemberg, dona Marocas Caldas, dona Quinha, dona Acácia Cruz e Maria Ezequiel
e monsenhor Claudionor Fontes, dom Luciano Duarte, Clara Angélica Porto que me
convidou para escrever no “O Que” de Luiz Eduardo Costa. Depois fui descobrir
Nubia Marques, Carmelita Fontes e Giselda Moraes em “Verde Outono”, depois veio
o convite de Antonio Garcia Filho para entrar como emérito no Mac da Academia
Sergipana de Letras. E depois veio a minha irmã querida Amorosa, Paulo Lobo,
Joésia Ramos, Lânia Duarte, Pedrito Barreto, Ester Jacob e Vieira Neto. Foram
vindo depois os irmãos João de Barros, Augustinho Maynard, Cristina Souza,
Roberto Batista, João Barreto Neto, meu eterno gente gentíssima ,e Karmen
Mesquita e Amilton Andrade. Depois na UFS, veio Clodoaldo Alencar, Aloísio
Campos, Gilson Cajueiro de Holanda, professor José Paulino da Silva, José
Roberto Torres Gomes,Cezar Britto, Pafôncio Barros Neto, Lisboa, John Kennedy
Azevedo by colunista social , Alberto Falk e Eugênia Ribeiro, Artur , Wagner e
Marcelo e ainda Carlos Ayres Britto pelos corredores escuros das didáticas com
Fernando Lins dando aulas magistrais e eu escondido ouvindo atrás da porta e
Conceição Ouro Reis, Lígia Pina, José Jefferson Euzébio Ribeiro, Laranjeiras,
Caetano Quaranta, Arinaldo Silva Andrade, Magaly Santos Pinto, Selma Duarte,
Euza Missano, Iolanda Guimarães, Ana de Cássia Martins, Claudio e Celio Nunes,
Antonio Francisco de Jesus, nosso saracura, Rui Pinheiro, Augusto Cesar Lobão
Moreira, Padre Iranilton, Jaci Rosa Cruz, Adriana Hagenbeck, Sayonara
Viana,Suzana Prado de Oliveira, Clemildes Maria Barbosa, Iara Mendes Freire,
Augusto Redin e tantos mestres. Depois veio Fátima Ribeiro, a mais amada filha
de José da Silva Ribeiro, com ela aprendi a chorar em silêncio e ter um colo
pra morrer no Portão do Mar, palco de tantos risos e jantares. Fui descobrir a
grandeza de Luciano Barreto, o humor de Ismar Barreto, Lindolfo Amaral, Jorge
Lins, Zé Peixe e a poesia do meu eterno instante amarelo Amaral Cavalcante e
Hunald Alencar.
Na comunicação fui encontrar a força e maestria de Albano
Franco, sempre presente em minha vida, Antonio Carlos Franco e Walter, além da
gloriosa Tereza Franco, símbolo da coragem e da força feminina, Hugo Costa,
Roberto Batista e Margarete Abreu Mendes,minha madrinha, além dos meus médicos
Fábio Moraes, Joel Carvalhal, Fedro Portugal, Mario Vidal, Jeronimo Silva,
Fabio Ribas e meus colegas de GA, Fabiano Oliveira e Waldoilson Leite. E meus
queridos Laurinho Menezes, Gustavo Faro, Hulda e Jair Araujo e Laércio Oliveira
e Edivan e Eduardo Amorim.
Amordaçado agora, abraço a balaustrada da rua da frente, e
vejo o meu sonho de menino ainda desvirginar minha esperança última. As casas
que amava viraram estacionamentos, o prédio da Assembléia Legislativa é uma
caixa de pandora, o Trópicos Hotel de Rubens Chaves virou hospital dos Rins, a
casa dos Leite virou Caixa Econômica e as da avenida Barão de Maruim, foram
sumindo, aos poucos, a olhos nus.
Avanço prolongadamente pela rua da frente, onde amparo meu
último andor de Bom Jesus dos Navegantes, de seu Djalma, e lembro de Rosa Faria
me recebendo todos os domingos para o café com cuscuz em xícara assinada por
ela. Aos domingos líamos o “Arte e Literatura” de José Abud e eu já metido a
estrela, brilhava na Gazeta de Sergipe em poemas citados por Clodoaldo Alencar
de “Caleidoscópio”.
Ai, como eu morri de lá pra cá. E tanto! Como renasci das
cinzas e nem sei como estou ainda vivo! Fui coroinha da catedral, fui
sacristão, fui seminarista, fazia hóstias – imagine! - lá em cima perto do
órgão de tubo, doação do Barão de Maruim. Ainda tem minha letra no livro dos proclamas
e dos batistérios!
Assim, abraçado à balaustrada da rua da frente, sob o rio
Sergipe, mirando as ondas do mar de Paulo Miguel, vou arrastando o meu andor de
sangue, rosas e alegrias pela cidade esvaziada de sentidos e com todos eles.
Vago rasteiramente pelas mangabas do mercado e vejo Magnólia ainda vendendo
meias e calcinhas – não pode haver maior riqueza! Solto agora para a veneziana
do meu encosto último e fui morar exatamente de frente para o rio, na General
Calazans, do bairro Industrial, a Orlinha que Dedinha, no dizer carinhoso de
Dilma, fez.
Assim, em lágrimas, suprimido de qualquer arrependimento ,
vou debruçado pela balaustrada da rua da frente, onde mora Ilma Fontes e onde o
carro do tempo, foi conduzido no botão de bananeira de J.Inacio, Joubert
Moraes, Tintiliano, Lucio Telles,Wellington, Lineu Lins, o mago da fotografia,
Zeus, Caã , Eurico Luiz, Adauto, Hortência, Ana Medina, Luiz Antonio Barreto,
Eugenio Nascimento, Cauê, Marcos Cardoso, Ivan para sempre Valença,Acácia
Trindade, Denisson Santana, Gilvan Manoel, Eugênio Nascimento,Marcio Lyncoln,
Jackson Barreto, Max Augusto, minha musa Sacuntala Guimarães, Thais Bezerra,
Cesar Gama, Yara Belchior, Pires Winni, Mario Cabral, Ariosvaldo Figueiredo,Ivo
Adnil, Zenóbio Alfano, Gelio Albuquerque, Maria Nely Santos, João Oliva,
Terezinha Oliva e Beto Pezão e Lu Spinelli, Dorinha Teixeira, Benjamin
Teixeira, Anderson Kundalê, Mucio Miranda,Iracema Maynard e Paulo e Simone
Gusmão, Luiz Eduardo Oliva, Clovis Barbosa, Laete Fraga, Oliveira Jr, Claudio
Regis, Jaime da Line e Stenio Andrade e todos os que passei a amar neste
tratado de amoraju.
Como se não bastassem minhas lágrimas , abraço-me à
balaustrada da rua da frente e espero a primeira cesta de beiju e mal casado
passar gritando a única frase da minha vida: quem quer mal casado, quem quer
beiju?
Foto: reproduzida do Facebook/Aracaju Antiga Minha Terra
Serigy.
Texto reproduzido do site: infonet.com.br/araripe
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 7 de agosto de 2013.
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