A Historiadora Maria Thétis Nunes.
Por GILFRANCISCO *
“Já, estou aposentada pela Universidade Federal de Sergipe
há mais de oito anos. depois de ter ensinado durante quarenta e sete. De certa
forma ultrapassei um pouco o tempo estipulado para que um trabalhador
aposente-se. Só me aposentei porque todo mundo se aposenta um dia e também por
causa das determinações que foram realizadas para que eu me aposentasse. Mas
isso não fez com que ficasse parada, sempre participo de debates como
palestrante sou presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e
faço parte do Conselho de Cultura do Estado”. (Maria Thétis Nunes).
Os pesquisadores da historiografia brasileira são pessoas
possuidoras de um tipo especial de obstinação. A vista das circunstâncias, elas
vão de fungos e cupins, de reformas e demolições, até a falta de compreensão
dos dirigentes de instituições que possuem documentos importantes em seus
arquivos.
Em Maria Thétis Nunes reuniram-se algumas das mais altas,
puras e nobres características a que uma pesquisadora pode aspirar: a retidão e
firmeza de caráter, a exemplar coerência de pensamento e aguda capacidade de
interpretação. Ou seja, Thétis é, de fato, uma historiadora que alia à pesquisa
cuidadosa uma forma correta de escrever sobre o tema escolhido. Por certo, essa
sua personalidade foi fator determinante para torná-la numa das primeiras
historiadoras sergipanas a consignar a seu nome uma dimensão pública.
Ao aliar talento, rigor profissional e capacidade de
trabalho, a professora Thétis possui hoje uma bibliografia formada por mais de
dez títulos, entre os quais Os Árabes: Sua Contribuição à Civilização
Ocidental, 1945; Ensino Secundário e Sociedade Brasileira, 1962; Sergipe no
Processo da Independência do Brasil, 1973; Sílvio Romero e Manuel Bonfim:
Pioneiros de uma Ideologia Nacional, 1976, Ocupação Territorial da Vila de
Itabaiana: a Disputa entre Lavradores e Criadores, 1976, História de Sergipe a
partir de 1820,1978; Geografia, Antropologia e História em José Américo, 1982,
juntamente com Manuel Correia de Andrade e José Otávio Melo; A Política
Educacional de Pombal e sua Repercussão no Brasil-Colônia, 1983; História da
Educação em Sergipe, 1984; Sergipe Colonial I, 1989; Sergipe Colonial II, 1996.
Com a publicação de textos em vários periódicos do país,
chegando a mais de duas centenas de artigos e ensaios – isso, de 1948 até 1999
– a maioria deles sobre temas sergipanos, alcançamos os objetos obsessivamente
perseguidos e trabalhados pela autora na lapidação de suas questões fundamentais
e inaugurando uma perspectiva historiográfica nova. Ou seja, tudo isso ajuda a
compreender melhor o sentido de sua reflexão sobre a história do nosso Estado.
A postura, o fazer e a sua interpretação como pensadora da
cultura brasileira acentua o relevo de sua obra, mais do que isso, a sua visão
arguta do espaço histórico é algo impossível de não se reconhecer no seu
trabalho, aliás, como o faz nas contribuições modelares, Ensino Secundário e
Sociedade Brasileira e A Política Educacional de Pombal e sua Repercussão no
Brasil-Colônia.
Criadora de uma obra séria, erudita, que traz elementos
novos à compreensão da historiografia brasileira, provando que a historiadora
se afirma pela descoberta feita nos arquivos, antes, de mais nada; e pelo
conhecimento de fontes numerosas nem sempre fáceis de serem encontradas.
Pesquisadora arguta e incansável, Maria Thétis Nunes busca
novos caminhos, novos objetos e novas interpretações no quadro da História do
Brasil. Algumas de suas obras já se tornaram leitura obrigatória para quem quer
ter uma visão não acadêmica, não tradicional, de fatos tão marcantes de nosso
passado. Sem falar na importante contribuição à vida cultural brasileira com a
autora comentando obras de terceiros, responsável muitas vezes pelo enriquecimento
de algumas delas ou pelo impulso que deu a alguns autores estreantes, ou
contribuindo para edições póstumas de autores consagrados.
Suas pesquisas sempre provocam amplo debate sobe o tema,
abordado, visto que suas análises não ficam nas “meias palavras”. Ataca
frontalmente, batendo duro no resgate do passado “maquiado” pela historiografia
“oficial e comprometida”. Sua obra encontra-se ao alcance de professores e
estudiosos da nossa historiografia, consulta obrigatória para qualquer
brasileiro culto.
Por isso, não pode deixar de ser lida sob pena de
incorrer-se em distorções e omissões. Seus estudos representam um momento
culminante em nossas letras quer na avaliação dos contemporâneos, quer na
análise de obras do passado, de um João Ribeiro, Tobias Barreto, Felisbelo
Freire e inúmeros outros os quais se pronunciou Maria Thétis Nunes com acerto.
Portanto, o seu nome é um dos mais importantes no campo da
divulgação do pensamento dos grandes de nosso passado, destacando-se pela
posição pioneira que ocupa em nossas letras.
Nota
A professora Maria Thétis Nunes, faleceu em Aracaju, a 25 de
outubro de 2009, aos 86 anos.
Aracaju. Jornal da Cidade, 20 de setembro de 2000.
*GILFRANCISCO: jornalista, professor da Faculdade São Luís e
membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
gilfrancisco.santos@gmail.com
Texto e fotos reproduzidos do blog:
sergipeeducacaoecultura.blogspot.com.br
Postagem originária da página do Facebook/Grupo MTéSERGIPE, em 12 de agosto de 2013.
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