Luiz Garcia.
Estação Rodoviária.
Hotel Pálace.
Luiz Garcia, um governante inovador.
Por Luiz Antônio Barreto.
Luiz Garcia, filho de Antonio Garcia Sobrinho e de Antonia
Garcias, nasceu em Rosário do Catete em 14 de outubro de 1910. Seu pai,
alternando atividades comerciais com a de funcionário público, encaminhou os
filhos para os estudos, enquanto dava o exemplo político do engajamento, como
quando apoiou o movimento tenentista de Augusto Maynard Gomes. Família grande –
Luiz, Robério, Antonio, Carlos, José – para citar apenas os homens que saíram
de Rosário do Catete e se tornaram advogados, médico, engenheiro -, apenas
Robério Garcia não teve formação superior, sacrificando-se, por opção pessoal,
para ajudar a que os irmãos obtivessem o grau nas profissões que escolheram.
Luiz Garcia bacharelou-se em Direito e exerceu, plenamente,
a advocacia com escritório em Aracaju e no Rio de Janeiro, conciliando com as
atividades jornalísticas, intelectuais e políticas. Redigiu vários jornais,
demorando-se no Correio de Aracaju, do qual foi Diretor. Foram os seus artigos,
alguns deles de crítica literária, discursos, conferências que motivaram os
acadêmicos para elegê-lo membro da Academia Sergipana de Letras, ocupando,
desde 1942, a Cadeira nº 37 do Sodalício.
Quando da organização dos partidos políticos locais, em
1933/34, ingressou no PSD, ao lado de Leandro Maciel, com quem conviviria
sempre, na UDN e na ARENA, disputando muitos mandatos. Foi eleito Deputado
Estadual em 1934, participando da elaboração da Constituição de 1935. Em 1945,
quando da formação dos partidos nacionais, ingressou na União Democrática
Nacional, candidatando-se à Câmara Federal, ficando na 1ª Suplência. Na eleição
de janeiro de 1947 foi candidato ao Governo do Estado, enfrentando as
candidaturas de José Rollemberg Leite e de Orlando Dantas.
A campanha de governador se transformou numa batalha sem
precedentes. A hierarquia da Igreja católica resolveu assumir bandeiras
doutrinárias, para evitar que os eleitores votassem em candidatos que fossem a
favor do divórcio e do aborto, dentre outras posições, fundou a Liga Eleitoral
Católica, entregando a sua direção, em Sergipe, ao advogado e empresário Hélio
Ribeiro, de tradicional família de empresários. A LEC fez uma intensa campanha
de mobilização do eleitorado católico, e conclamou os políticos e candidatos a
que firmassem, de público, compromissos com as teses defendidas pela Igreja. A
UDN e seus candidatos, inclusive Luiz Garcia, firmaram com a LEC um protocolo
de defesa dos ideais católicos, mas, no curso da campanha, os udenistas
romperam o acordo e foram buscar os votos dos comunistas, que participaram, com
sigla própria, das eleições. A Liga Eleitoral Católica reagiu, apoiou a
candidatura de José Rollemberg Leite, deu sinal verde para Orlando Dantas, e
ameaçou de excomunhão os católicos que votassem nos candidatos udenistas.
Conta-se que em Laranjeiras, reduto udenista, o padre
Filadelfo Jônatas de Oliveira recebeu a Nota Oficial da Diocese, assinada pelo
Bispo Dom José Tomás Gomes da Silva, para que fosse lida na missa dominical da
paróquia, repudiando os candidatos da UDN. Como o padre tinha simpatias pelos
udenistas, transpôs o texto para o latim e fez a leitura para os fiéis, que não
entenderam nada. A radicalização dos católicos levou a um resultado eleitoral
consagrador, tornando clara a vitória da LEC elegendo o engenheiro e professor
José Rollemberg Leite, do Partido Social Democrático – PSD, governador do
Estado, na primeira das eleições diretas, desde 1930.
Luiz Garcia, homem de fé, manteve-se no Catolicismo e nos
mandatos de Deputado Federal, quatro ao todo, (1951-1955, 1955-1959, 1967-1971,
e 1971-1975 e 1º Suplente de 1979-1983), deu mostras da sua fidelidade
religiosa, combatendo os projetos que davam direitos às companheiras e os que
estabeleciam o divórcio no Brasil, notadamente as tentativas feitas por Nelson
Carneiro. Estão nos Anais da Câmara Federal os discursos memoráveis, em defesa
do magistério moral da Igreja. O episódio da eleição de 1947 e as indisposições
com a LEC pareceram, sempre, completamente superados.
Em 1958 Luiz Garcia foi eleito Governador do Estado,
vencendo a José Rollemberg Leite e sucedendo a Leandro Maciel na chefia do
Governo. Instala-se uma administração de grandes inovações e empreendimentos,
que modernizaria Sergipe, a começar pela criação do Conselho de Desenvolvimento
Econômico de Sergipe (Condese), uma espécie de escola de Governo, priorizando o
planejamento e formando quadros para a administração pública, ao tempo em que
fixava as grandes linhas da administração. Seguiram-se o Banco de Fomento
(atual Banese), a Energipe, o Ipes, a Secretaria de Educação, Cultura e Saúde,
confiada ao irmão, o médico e intelectual Antonio Garcia Filho, e obras
essenciais como a Estação Rodoviária, construída na Esplanada do Bonfim, o
Hotel Palace de Aracaju, no lugar onde havia o Quartel do 28 BC, na praça
General Valadão, o Centro de Reabilitação Ninota Garcia, na velha Usina do
bairro Industrial, o Salão de Passageiros do Aeroporto de Santa Maria, o Museu
Histórico de Sergipe, em São Cristóvão, instalado no prédio do antigo Paço
Provincial, e criou a Faculdade de Medicina.
Além da construção de grupos escolares, jardins de infância,
postos médicos, estradas, serviços de água e de luz, o Governo Luiz Garcia deu
destaque as atividades culturais, criando núcleos, como o de Artes Plásticas,
colocando painéis artísticos de Jenner Augusto em obras públicas, como o Hotel
Palace e a Estação de Passageiros do Aeroporto de Aracaju, e publicando livros,
como forma de valorização da literatura sergipana.
A família de Luiz Garcia, toda ela, construiu biografias
notáveis. Robério, como dirigente desportivo, presidente da Federação Sergipana
de Futebol, profissionalizou o futebol e foi, ainda, membro destacado do
Partido Comunista Brasileiro. Carlos Garcia, jornalista, escritor, advogado,
elegeu-se vereador em Aracaju, pela legenda do PCB, e seu cunhado, o médico
baiano Armando Domingues foi eleito deputado estadual, na Assembléia Estadual
Constituinte de 1947. Carlos Garcia mudou-se para o Rio de Janeiro onde
trabalhou no sistema previdenciário e manteve escritório de advocacia. Antonio
Garcia Filho, médico, professor, escritor e compositor, foi também vereador em
Aracaju, pelo Partido Socialista Brasileiro, presidente da Academia Sergipana
de Letras. José Garcia Neto, engenheiro, fez carreira política no Mato Grosso,
sendo vice governador daquele Estado. No Governo do seu irmão, dirigiu o
Departamento de Estradas de Rodagens em Sergipe.
Casado com Maria Emília Pinto Garcia, Luiz Garcia teve 4
filhos: Fernando, Gilton, Antonio Amândio e Vânia. Antonio Amândio tentou a
política e foi candidato a deputado estadual, na eleição de 1974, mas não foi
eleito. Gilton Garcia elegeu-se deputado estadual em 1968, deputado federal em
1982 e foi governador do Amapá, nomeado pelo presidente Fernando Collor de
Melo. Fernando é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Amapá. Luiz
Garcia, que foi um dos professores fundadores da Faculdade de Direito de
Sergipe, morreu em Aracaju, em 11 de agosto de 2001.
Fotos e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Grupo MTéSERGIPE, em 23 de agosto de 2013.
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