Publicação do Blog do Alencar, em 29 de junho de 2009.
Vilermando Orico - 25 anos de sua morte (2009)
Por Clodoaldo de Alencar Filho.
O rádio revitalizou a vida cultural sergipana, ampliando o
contato de artistas com o público. Ainda que tenha sido criada como emissora
oficial do Estado Novo em Sergipe, com o nome de Rádio Palácio, a Rádio
Difusora, instalada no prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe,
construído no final dos anos de 1930, cumpriu um papel magistral levando ao ar
as vozes e os instrumentos que davam trilha sonora à vida da capital sergipana.
Vozes que ficaram imortalizadas, como a de João Melo, que além de cantar é,
ainda hoje, um exímio violonista, compositor aplaudido e produtor vitorioso no
Rio de Janeiro, a de Raimundo Santos, que pode ser ouvida, ainda hoje, cantando
o Hino do Clube Esportivo Sergipe, neste ano completando um século de “luta e
de glória”, a de Antonio Teles, talvez a mais romântica, a de Dão, dando graça
ao samba, a de Floriano Valente, com seu repertório de valsas, dentre muitas
outras embaladas pela Rádio Orquestra de Pinduca, pelos Regionais de Eutímio,
Honor Gregório, João Argolo, Carnera e tantos outros astros de primeira
grandeza, que fizeram a radiofonia dos primeiros tempos e abriram caminho para
os artistas da atualidade.
Havia um grupo de meninos: Alexandre Diniz, Vilermando
Orico, Adilson Alves, o Gravatinha e Edildécio Andrade, buscando espaço entre
os ouvintes, ancorados por programas de auditório apresentados por Santos
Mendonça, Aglaé Fontes, Nelson Souza, e outros. Cada um com seu estilo, sua voz
identificada facilmente, seu repertório. Dentre eles, Vilermando Orico camava
mais a atenção dos ouvintes, porque seu pai, o alagoano sergipanizado José
Orico, que montou em casa um estúdio de gravação, acompanhava as exibições do
filho, gravando-as diretamente do sistema de som dos velhos receptores Mulard,
ABC, para os pesados acetatos, que eram, depois, reproduzidos no rádio.
Alexandre Diniz, que gostava de cantar sentado, fez carreira como professor de
Geografia na Universidade Federal de Sergipe, destacando-se como um dos
expoentes da sua geração. Adilson Alves gravou alguns discos, fez shows, mas,
com o passar do tempo e o domínio da TV, na qual teve participação, afastou-se.
Edildécio Andrade foi mais longe, pois é o violão e a voz do Trio Irakitan, um
dos mais antigos grupos musicais do Brasil.
Vilermando Orico tinha uma voz extensa, de fortes agudos, e
cantava quase tudo, incluindo as músicas que fazia, ainda menino, como o
“dobrado” Terra da Promissão, dedicada a Aracaju, em 1955, ano do centenário da
mudança da capital. Cantava e tocava piano, vestindo-se como um astro de
Hollywood, com direito a Fã Clube, como o que foi organizado na avenida Carlos
Burlamaqui, sob a direção de Cordélia Alves (Presidente), Isabel Silva
(Secretária) e Normélia Alves França (Tesoureira), do qual dá notícia
testemunhal o professor Vilder Santos. Menino prodígio, bem vestido, Vilermando
Orico fez de sua infância um projeto artístico, sempre contando com a presença
forte do seu pai. Passada a fase infantil, Vilermando Orico sofreu com a
mudança da voz, como tinha ocorrido com Paulo Molin, do Recife, uma jovem
promessa de cantor. Foram longos anos fora do rádio e do estúdio de gravação.
Dominando o piano, Vilermando Orico passou a tocar teclado e montou um Trio,
com o nome de Nino, e fez enorme sucesso nas tardes de domingo, na Associação
Atlética de Sergipe, tocando inclusive bossa nova.
O sucesso de Nino como músico em nada fazia lembrar o menino
Vilermando Orico. Aquele tempo estava apenas na memória dos amigos de infância,
e no arquivo do pai. Depois do sucesso com o Trio, Nino foi para Salvador, como
piano-bar, lá casou e depois dos aplausos resolveu aceitar uma proposta do
Hotel 4 Rodas, de São Luiz do Maranhão, onde repetiu suas performances, e
mereceu os aplausos dos ouvintes. Um dia, na praia com a família, sentiu dor no
peito, tratou-se mas morreu, em junho de 1984, como sabe Vilder Santos, aos 42
anos. A voz, muito antes já calada, ficou na lembrança da família e dos amigos,
em velhos e estragados acetatos, ou salvos em fitas de rolo. A parte do músico
ficou, certamente, na memória dos casais, de homens e mulheres que o viram
tocar nos hotéis de Salvador e de São Luiz.
A morte de Vilermando Orico, há exatos 25 anos, interrompeu
uma das mais brilhantes carreiras de artista sergipano. Nascido em Viçosa,
Alagoas, vindo com poucos anos para viver em Aracaju, aqui criado e aqui
revelado como artista múltiplo, de uma capacidade extraordinária para a música,
Vilermando Orico, o Nino, trajou os melhores figurinos para circular, ainda
criança, entre todos e demonstrar sua intimidade com o microfone. Aracaju não
pode esquecer Vilermando Orico.
Foto e texto reproduzidos do blog:
clodoaldoalencar.blogspot.com.br
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 15 de agosto de 2013.
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