Publicado em 8 de julho de 2010, Blog jornal-contexto.blogspot
Morte de ícone da literatura sergipana completa 121 anos.
(2010)
por Layanna Machado.
“Pobres ervinhas brotarão viçosas, E o esquecimento brotará
também”. Sem saber, Tobias Barreto de Menezes, escrevia aí, em seu poema
intitulado Pressentimento, a representação de que o futuro traria reflexões
sobre o que foi a sua vida, a sua obra e os anos que sucederam a sua morte. O
eu lírico, ainda que timidamente, acredita que seus “frutos” germinarão, mas
tomado por um pessimismo,crê que algo os sufocará.
Poeta, crítico, jurista, filósofo, criador do condoreirismo
e patrono da cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras. A sua importância
para a história da literatura brasileira e principalmente local é inegável, mas
teve grande parte dos seus escritos, principalmente os poéticos, depreciados
pela crítica e seu nome deixado de lado em detrimento de outros escritores da
mesma época, como Castro Alves.
Em 7 de junho de 1836, em Vila de Campos do Rio Real,
atualmente conhecida como Tobias Barreto, nome que é também atribuído a uma
praça da capital sergipana em sua homenagem, nascia o filho de Pedro Barreto de
Menezes e Emerenciana de Menezes. Estudou latim, foi cantor e flautista da
atual Filarmônica Nossa Senhora da Conceição e no início da maturidade seguiu para
a Bahia com a pretensão de frequentar um seminário, desistindo por falta de
vocação. Retornou a Sergipe e logo depois partiu para Pernambuco, onde
matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, chamada carinhosamente de “A
Casa de Tobias”. Antes e durante o curso, lecionou aulas particulares de
diversas matérias para sobreviver.
Mestiço e vivendo em uma época e sociedade marcadas pelo
preconceito racial, teve sua vida amorosa prejudicada. Ainda assim, casou-se
antes mesmo de concluir o curso de direito com a filha de um coronel rico do
interior, proprietário de engenhos no município de Escada, onde viveu por cerca
de 10 anos.
Em seu tempo livre, se dedicava à leitura de autores
evolucionistas, sobretudo os alemães, língua com a qual desenvolveu uma forte
relação. Hermes Lima, autor de obra biográfica sobre Tobias, conta que ele
"para irritar o burguês, com uma nota mais ostensiva de superioridade,
abria freqüentemente seu luminoso leque de pavão: o germanismo". Ainda em
Escada, Pernambuco, redigiu o periódico bilíngue Deutscher Kampfer"(O
lutador alemão), que teve pouco alcance e uma breve duração. Um pouco mais
tarde publicaria os “Estudos Alemães” (no qual difundia idéias germânicas), mas
foi duramente criticado, pois segundo alguns, não passavam de paráfrases de
autores alemães.
Com a morte do sogro e devido às disputas pela herança,
Tobias voltou para Recife e começou a lecionar na Faculdade de Direito. É nesse
momento de sua história que participou e liderou o movimento da Escola do
Recife (importante movimento cultural que surge na Faculdade de Direito em 1860
e que contribuiu para a produção intelectual brasileira).
O ícone sergipano passeou por ensaios, críticas, pelo âmbito
jurídico e filosófico. Sua poesia se aproximava do simbolismo de Cruz e Souza.
Criticou a escravidão e o regime monárquico, por vezes questionou os dogmas
religiosos, foi cético, outras sensível, lírico e menos contestador. Seu único
livro de poesia “Dias e Noites”, revela uma pluralidade de temas e estilos
muitas vezes controversos entre si. Boa parte dos críticos considera Tobias
Barreto um grande pensador, filósofo, revolucionário, mas não um poeta.
O crítico Afrânio Coutinho afirma que sua produção lírica
descai para o mau gosto e para a banalidade, “Dias e Noites (1881) nada vale.
Ninguém se lembraria de Tobias Barreto, se dependesse dessa obra”. Ele ainda
afirma que alguns de seus textos nada mais eram que plágio das poesias de
Casimiro de Abreu.
Próximo aos 50 anos, o escritor adoece, sem nenhum dinheiro
e já desesperado, envia uma carta a seu antigo colega de faculdade Silvio
Romero e diz que está à beira da morte, pedindo algum dinheiro. Sete dias
depois vem a falecer na casa de um amigo onde estava hospedado. O seguinte
relato foi feito por Graça Aranha sobre a presença de Tobias diante da banca
examinadora para o ingresso na Faculdade de Direito: “Tobias, mulato
desengonçado, entrava sob o delírio das ovações. Era feio, desgracioso,
transformava-se, na arguição e nos debates de concurso. Os seus olhos
flamejavam, da sua boca, escancarada, roxa, imóvel, saía uma voz maravilhosa,
de múltiplos timbres, sua gesticulação transbordante, porém sempre expressiva e
completando o pensamento. O que ele dizia era novo, profundo, sugestivo”. Em 26
de junho, completou-se 121 anos de sua morte.
Foto e texto reproduzidos do blog: jornal-contexto.blogspot
Postagem originária da página do Facebook/Grupo MTéSERGIPE, em 12 de agosto de 2013.
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