Amendoim cozido - coisa de Sergipe
Por Aglacy Mary
Amendoim é um objeto cheio de segredos. Pra começo de
conversa, a gente nunca sabe direito como classificar o danado. Sim, ele é uma
planta que tem legume - você deve ter lembrado dos feijões e da ervilha, né?
'PoiZé'. Uma caixinha curiosa que, ao contrário das outras, nasce embaixo da
terra e não se abre, por livre vontade, pra liberar suas sementes. Cheio de
charme.
Se você quiser conhecê-lo melhor, pode começar cultivando a
planta. Espere a flor nascer e se curvar e se enterrar para depois gerar o
amendoim. Depois você vai colher e cozinhar as vagens, que guardam os grãos. A
experiência vale ainda mais se você tem por perto uma criança sem ideia sobre a
origem dessa delícia. Pronto pra cozinhar, posso até dar a receita, que só leva
água e sal numa panela, simples até para mim, que quase desconheço o caminho do
fogão. Mas acho melhor mesmo indicar o caminho do nosso Mercado Thales Ferraz,
que reúne muitas outras curiosidades.
A vantagem de ir ao Thales Ferraz para comprar amendoim
cozido - assim, cozido, não se encontra em qualquer canto deste país - está no
pacote cultural que você ganha de brinde. Lá você tem também a possibilidade de
escolher, entre os vendedores, as vagens mais ou menos secas, que guardam grãos
mais ou menos molhadinhos, conforme seu gosto. Desde menina adivinho seu
conteúdo só de olhar. Meu pai me flagrava separando, um a um, aqueles de que
mais gosto - os que têm o tecido interno da casca na cor marrom escura (visão
de raio X) -, pois o grão estará durinho e menos salgado. Depois é só reunir os
amigos e ir comendo sem conseguir parar, ou até encontrar juízo fora da
desculpa de que o Arachis hypogaea é rico em proteína.
Nas praias sergipanas, é muito comum que as pessoas nos
bares sejam abordadas com a oferta de um mundo de amendoins em um grande cesto.
"Quantas latas?" - pergunta o vendedor depois de ter deixado umas
três vagens bem escolhidas em sua mesa. A iguaria é, em grande parte das vezes,
o que se aprecia antes de se fazer qualquer pedido de comida num barzinho. Se
você estiver esperando alguém, faça contagens regressivas brincando de comê-la
devagarinho, grão a grão, apostando no momento em que sua companhia vai chegar.
Esse lado brinquedo do amendoim também se revelava em minha infância, quando
fazíamos brincos simplesmente forçando um tantinho de uma das extremidades da
casca. Agora era só colocar a pontinha da orelha ali dentro e começar o desfile
com um acessório muito singular. Fazia também graciosos barquinhos, que
flutuavam sobre a lâmina d'água do rio (banheira de minha irmã) Poxim.
Vixe! Esses flagrantes de infância trazem a minha lembrança
a preocupação de minha mãe com a limpeza do amendoim, sobretudo porque eu não
conseguia ainda romper a vagem com a pressão dos dedos; então ia tudo à boca,
casca e grãos e boa quantidade de sal que a casca retém. A propósito, alguém
conhece quem, estando na rua, lave amendoim antes de comer? Talvez minha irmã
mais velha.
Em tempos de festejos juninos, o amendoim cozido se espalha
pelas ruas de Aracaju. Ele é mais consumido por gente de toda idade do que o
juízo de Santo Antônio o é pelas moças casadouras. Eu estou no meio dessa
gente, que é capaz de comer mais amendoim do que milho no São João. Anavant,
que o Mercado está aberto desde cedo!
Texto e imagens reproduzidos do blog: aglacy.blogspot.com.br
Fotos:
Aglacy Mary (Abaís, jan/2010).
Postagem originária do Facebook/MTéSERGIPE, em 15 de agosto de 2013.
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