sexta-feira, 12 de julho de 2013

Para este grupo Minha Terra é Sergipe, que eu respeito e sigo:


Para este grupo Minha Terra é Sergipe, que eu respeito e sigo:

Amigos

Acho que inicio agora as inquietações do meu aguardado ancionato. Sempre quis ser o ancião da polis, coberto de tardias honras e respeitosa comiseração, para poder transgredir, retomar o tom que me fez bonito, kkk! Um ancião imputável.
Penso como seria espetacular minha entrada em cadeira de rodas numa solenidade careta, gritando palavras de ordem. Como reagiriam os bam-bam-bans da ordem estabelecida ao meu consentido surto de anarquia cidadã, como me seria bom estar defendendo a vida das amebas, ainda íntegro e perene.

E se não for assim, não será, qual é o problema?

Aos sessenta e sete é uma boa hora de volver, aproveitar na louça do banquete a gordura que ficou na cozinha da festa, o vinho que sobrou em taças mal bebidas. Voltar à embriaguês, para que os meus demônios inda me corrompam e façam arder em mim o fogaréu da vida.

Dos meus demônios, o da vaidade, cintilante e vesgo, morreu de inanição. O da soberba não resistiu a tabula rasa da realidade e se estuporou, empanzinado de estrelas. A inveja nunca dormiu comigo, só o cão da luxúria, exuberante e belo, logrou vencer minha cidadela. Ele me cercou de falanges lindas e, ainda agora, promete-me grandes prazeres, incômodas quimeras. A luxúria é o meu demônio querido, cotidiano, ele mora aqui na velha camarinha, um cão danado entre os meus lençóis.

Conto 67 anos e os meus demônios estão exaustos.
Espero que os próximos anos me sejam ricos em saciedade. Que a madureza me traga conforto além da proficuidade amorosa, o gozo do amor confortável sem o prazer fugidio das conquistas fortuitas.
Cada dia me dedico a reencontrar, com mais cinismo e muita abnegação, o centro das minhas convicções juvenis. Porque não? Ora! Enquanto eu estiver buscando combater o alvoroço da minha inadequação, estarei reinventando uma personalidade definitiva onde acomodar a novidade que busco, busco, mas não consigo ser.
Então, meus amigos, cuidem bem de mim. O meus demônios são eternos e eu, poeta envelhecido no deserto das palavras, pelo amor de vocês pretendo sobreviver à desimportância. Só isto já me basta.

Escolho arder para sempre no fogaréu da poesia.

Beijos e amores,

Amaral Cavalcante.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 11 de Julho de 2013.

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