Para este grupo Minha Terra é Sergipe, que eu respeito e
sigo:
Amigos
Acho que inicio agora as inquietações do meu aguardado
ancionato. Sempre quis ser o ancião da polis, coberto de tardias honras e
respeitosa comiseração, para poder transgredir, retomar o tom que me fez
bonito, kkk! Um ancião imputável.
Penso como seria espetacular minha entrada em cadeira de
rodas numa solenidade careta, gritando palavras de ordem. Como reagiriam os
bam-bam-bans da ordem estabelecida ao meu consentido surto de anarquia cidadã,
como me seria bom estar defendendo a vida das amebas, ainda íntegro e perene.
E se não for assim, não será, qual é o problema?
Aos sessenta e sete é uma boa hora de volver, aproveitar na
louça do banquete a gordura que ficou na cozinha da festa, o vinho que sobrou
em taças mal bebidas. Voltar à embriaguês, para que os meus demônios inda me
corrompam e façam arder em mim o fogaréu da vida.
Dos meus demônios, o da vaidade, cintilante e vesgo, morreu
de inanição. O da soberba não resistiu a tabula rasa da realidade e se
estuporou, empanzinado de estrelas. A inveja nunca dormiu comigo, só o cão da
luxúria, exuberante e belo, logrou vencer minha cidadela. Ele me cercou de
falanges lindas e, ainda agora, promete-me grandes prazeres, incômodas
quimeras. A luxúria é o meu demônio querido, cotidiano, ele mora aqui na velha
camarinha, um cão danado entre os meus lençóis.
Conto 67 anos e os meus demônios estão exaustos.
Espero que os próximos anos me sejam ricos em saciedade. Que
a madureza me traga conforto além da proficuidade amorosa, o gozo do amor
confortável sem o prazer fugidio das conquistas fortuitas.
Cada dia me dedico a reencontrar, com mais cinismo e muita
abnegação, o centro das minhas convicções juvenis. Porque não? Ora! Enquanto eu
estiver buscando combater o alvoroço da minha inadequação, estarei reinventando
uma personalidade definitiva onde acomodar a novidade que busco, busco, mas não
consigo ser.
Então, meus amigos, cuidem bem de mim. O meus demônios são
eternos e eu, poeta envelhecido no deserto das palavras, pelo amor de vocês
pretendo sobreviver à desimportância. Só isto já me basta.
Escolho arder para sempre no fogaréu da poesia.
Beijos e amores,
Amaral Cavalcante.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 11 de Julho de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário