quarta-feira, 24 de julho de 2013

Comentário de Clara Angélica Porto no Facebook/MTéSERGIPE


Santos Mendonça faz parte das minhas mais lindas recordações. Quando eu era bem menina ainda, e fazia parte dos seus programas de auditório quando em vez, levada por Aglaé, sempre a pedido dele, eu adorava participar. Uma certa vez, acho que já escrevi aqui sobre algo que escreveu o Armando Maynard, participei de um concursinho de contos no programa de auditório dele da Rádio Liberdade, na Rua Itabaianinha (grande programa, ele trazia, inclusive, grandes cantores nacionais), e ganhei. Mendonça lia os contos e ficamos duas finalistas, eu e uma menina mineira, chamada Célia Otoni. Mendonça leu mais uma vez e a platéia aplaudia. No final, ganhei eu, com uma historinha emocionante de duas menininhas gêmeas que eram órfãs, 'não tinham nem pai, nem mãe...' Como tinha participado de uma pequena dramatização de Natal, vim com a camisolinha longa cor de rosa (era a menina que acordava para ver Papai Noel), receber o prêmio, debaixo dos aplausos da platéia (tinha 7 anos). Mendonça me recebeu com tanto carinho (nunca esqueço esse momento), ele era um homem lindo, uma espécie de herói para mim, como meu pai. Lembro que ficou acocorado para me dar o prêmio, notas estalando de novas que ele pessoalmente pegava no Banco do Brasil, aquele cheiro de dinheiro novo no ar e eu, toda encabulada, as mãozinhas pra trás... ele ia contando alto e, quando me deu metade do dinheiro, perguntou: "Posso ficar com o resto"? Eu disse: "Pode..." Ele sorriu, me abraçou e botou no braço e me deu o resto do dinheiro: "Não seja boba, é todo seu". Parecia tanto dinheiro... Foi nesse programa de Mendonça que nasceu a ideia do programa Gato de Botas, com as pequenas dramatizações que Aglaé levava para os programas dele. Depois, Dom Távora fundou a rádio Cultura, na Ação Católica da rua de Propriá com Simão Dias, e nasceu o programa que ficaria vários anos no ar. Foi quando Mendonça começou a fazer o Calendário, um programa que marcou Sergipe, a maior audiência, acredito, da história do rádio sergipano. Ainda hoje toca na minha memória a música do programa e escuto a voz de Santos Mendonça, um apresentador sem igual, nunca vi ninguém como ele, nem no Rio, nem em S. Paulo. Lembro que foi o Calendário, fazendo jornalismo investigativo espetacular, quem levou a polícia a desvendar o horrendo crime de La Conga, um (sapateiro?) que matou uma criancinha, acredito que no Bairro América (era tão criança que teria que pesquisar detalhes). A mulher de La Conga, Edite, que era gaga, tinha sido nossa empregada por uma semana e mamãe botou para fora porque havia roubado uns cortes de linho inglês que mamãe havia comprado no Rio para fazer ternos para papai. Pouco tempo depois, olha lá, a Edite no Calendário, toda gaga e Mendonça, se divertindo e seríssimo, tudo ao mesmo tempo, uma águia de inteligência, colhendo informações para a polícia. O estado inteiro de Sergipe, às 8 horas da noite, depois da Hora do Brasil, parava defronte ao rádio, acompanhando o crime. Santos Mendonça foi um ícone da comunicação de Sergipe, um homem belo, inteligente, à frente de seu tempo. Depois, já semi-esquecido, abriu uma loja de discos, "Cantinho da Música", onde o bom gosto musical que tinha trazia os melhores discos para a população, na rua de Laranjeiras. Passava lá sempre para dar-lhe um abraço, jogar uma conversinha fora, já ficando mocinha. Ele era sempre farto em carinho, palavras de afeto e reconhecimento. Era Santos Mendonça, um dos maiores comunicadores que Sergipe já produziu, um dos maiores nomes do rádio sergipano, sem dúvida o maior na especialidade dele. Obrigada, Graziela, por esse momento quando a memória me levou a uma era quando Aracaju era um jardim florido de arte e cultura e do qual eu menina, era uma florzinha brotando daquelas pessoas maravilhosas do quilate de Aglaé Fontes, Santos Mendonça, Ribeirinho (Sodré. Júnior), Clodoaldo de Alencar Filho, Hugo Costa, Raimundo Luiz, Hunald Alencar, Carmelita Fontes, Gizelda de Moraes, até hoje meus mitos, meus amores, parte das minhas mais belas recordações.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 9 de julho de 2013.

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