Publicado no Blog cronistas-se, em 12 de janeiro de 2012.
Mais um Encontro Cultural de Laranjeiras.
Por: Emanuel Araújo
Há alguns dias era noite de Natal, menos ainda estávamos na
virada do Ano Novo. E 2012 já está se encaminhando. Como o tempo corre
depressa. (esse déspota terrível!) E chegou mais um Encontro Cultural de
Laranjeiras. Fiz esse texto pra ajudar a gente, leitor amigo, a respeito de
coisas que pensei recentemente.
"Laranjeiras, Sergipe tem saudades de ti."
Parece uma loucura falar de folclore, de cultura popular num
contexto em que a força da tradição cada vez mais se esfarela. A tentação atual
é exorcizar a lembrança das experiências e o valores das gerações que já
passaram. Porque é que Laranjeiras insiste ? Porque não se rende as modas
importadas de outros cantos ? Porque ainda inventa de falar em sergipanidade ?
São algumas perguntas que aparecem, leitora amiga, principalmente quando a
gente se dá conta de que nossos costumes, nossos hábitos agora passam a tratar
do passado como um trambolho velho, um zero a esquerda.
Faça essas perguntas a Seu Deca (do Cacumbi), ao Mestre Zé
Rolinha (da Chegança), ao Mestre Sales (do São Gonçalo do Amarante), a Dona
Nadir (do Samba de Pareia), a Bilina (das Taireiras). Eles não vão arrumar nem
palavra bonita, nem discurso arrumado. Vão falar com a simplicidade. Por isso,
com autoridade. Talvez seja o cumprimento da profecia de Jesus Cristo, Deus se
esconde aos soberbos e dá sua graça aos humildes. Laranjeiras sabe respeitar
sua história. Sabe de onde veio. Foi do horror da escravidão. Ah... se a gente
pudesse ir até um tronco de açoite, ou a um canavial e ver um negro ser judiado
e perguntasse a ele do que tinha mais saudade. E, certamente, ele diria da
saudade louca que os pretos guardavam de sua terra África. E por isso cantavam,
batucavam, dançavam.
Todos os anos, na primeira semana de janeiro, aquelas velhas
calçadas de pedra-sabão se arrepiam diante dos cortejos. É como se o passado se
fizesse presente. Lembrança que o tempo não apagou. A cidade serve de cenário
para o espetáculo ao ar livre. Contam-nos a glória de tempos passados
monumentos e altares. Laranjeiras das lutas abolicionistas e da propaganda
republicana. Laranjeiras, arrodeada de colinas, parece um ninho de onde as
Águias da Inteligência decolaram seus vôos. Não existe melhor cenário para
expressar nós sergipanos. A proliferação de engenhos favoreceu um enorme vigor
econômico. O número de escravos superava a de brancos. A força catequizadora
dos descendentes de europeus não foi capaz de apagar os valores afro daquela
gente.
Não compreendo uma sociedade que pretende ser o 'país do
futuro' e ainda resiste a valorizar sua história. Os Encontros Culturais de
Laranjeiras, prestes a completar 40 anos, são um sinal, um farol para nossa
sergipanidade. Se a gente for fiel ao que aprendemos, ao que vimos e ouvimos
daqueles que nos precederam nossa identidade vai estar garantida. Não se trata
uma apologia a uma cultura ancestral, uma teoria fria, uma realidade extinta. É
defesa. Principalmente para uma época em que tudo vai se homogeneizando. Claro
que ninguém precisa deixar de tomar coca-cola, usar facebook ou escutar Michel
Teló. Afinal, nós também fazemos história, mesmo que não nos demos conta.
E quem não gostou do que leu, paciência!
Fotos e texto reproduzidos do blog:
cronistas-se.blogspot.com.br/2012.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 21 de julho de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário