Garimpado por Antonio Corrêa Sobrinho nos arquivos da Gazeta de Sergipe, um texto de Luiz Antonio Barreto aos 27 anos.
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Não a Volta, Um Primeiro Retorno.
Por Luiz Antônio Barreto.
Antes era aqui: a mesma paisagem verde. Tardes nas praças
sentado no banco do povo, noites na galeria Álvaro Santos; o mesmo papo. Um dia
se deu a arribação, e eu montei o grande cavalo branco voador e desci. Muita
mistificação na cabeça, muita vontade de aparecer no lugar grande, e, acima de
todos os pesos, uma imensa carga para sustentar. Vaguei por empresas de
notícias e escritórios de advocacia; sobrevivi algum tempo. Depois foi o
Instituto Nacional do Livro, a Assessoria Cultural. Muitos planos, muitos
trabalhos, muitas viagens pelo Brasil, muito viver entre as gentes das várias
regiões, muita gente conhecida dos meus olhos, muitos cursos e muitas
conferências; era o começo.
Depois de um ano e pouco de trabalho, saí. Fui, por conta e
risco de Antônio Simões dos Reis, sergipano de boa raça, promovido a editor.
Fiz planos, juntei gente comigo: Fausto Cunha, Assis Brasil, Flávio Moreira da
Costa, Fernando Py, e publiquei duas dezenas de bons livros. Larguei tudo,
entreguei a distribuição da editora à “Civilização Brasileira” e os destinos de
edição a Fausto Cunha, e fiz o meu primeiro retorno. A Universidade foi a casa
que me abrigou. Saí menino e voltei de terno, com a responsabilidade do que
fazer pendendo sobre os meus ombros. Não demorarei, ficarei só o tempo de
criar.
Não terei tempo de sentar nos bancos das praças, mesmo
estando dentro da paisagem verde. Os amigos se espalharam e com eles as ideias.
Não os meninos, as ideias dos meninos estão borbulhando em muitas cabeças
novas. Aqui estou presente, com 27 anos feitos e talvez vividos, com o corpo
magro e o nariz denunciando uma presença judia embora eu seja a favor dos
árabes na luta do Oriente Médio, e com os olhos perdidos na saída da barra:
esperança de partir de novo.
Aqui estou presente e de pé, não mais poeta, não mais
compositor, não mais artista, só um cidadão começando a estudar e a aprender as
coisas do povo. Aqui estou de terno, mas humilde, caminhando por entre as
cidades que conheci e vivi, por entre fileiras de homens que identifico a cada
um com um gesto ou com o silêncio dos meus lábios. Aqui estou com a coragem de
querer ser, ao mesmo tempo, palavra e diálogo, verdade e esperança, certeza e
fé; adormecer todas as mentiras e as ilusões.
Acordar com o peito cheio de liberdade, sair correndo pela
relva limpa depois da colheita, atravessar os rios e destruir as fronteiras,
oferecer uma flor à primeira pessoa que passar pelo meu caminho, e caminhar até
me perder, tombando ou caindo nos braços mais fortes da mulher amada e
companheira, ou da ¬¬terra: lugar do último retorno; a volta definitiva. Já
estou presente e qualificado.
Demorarei pouco. Mais de um ano. E partirei de novo,
descendo a estrada, seguindo querendo a cidade (que não é tão grande como eu
pensava quando fui pela primeira vez), abençoado e tudo.
Gazeta de Sergipe – 11/02/1971.
Texto e foto reproduzidos do Facebook/Linha do Tempo/Amaral
Cavalcante.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 22 de julho de 2013.
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