Aracaju Vista do Alto.
Por Luiz Antônio Barreto.
Em julho de 1923, quando o Almirante Protógenes Guimarães,
comandante da Defesa Aérea do Litoral, à frente dos hidro-aviões que fizeram o
raid Rio-Aracaju, os aracajuanos tiveram a primeira oportunidade...
Em julho de 1923,
quando o Almirante Protógenes Guimarães, comandante da Defesa Aérea do Litoral,
à frente dos hidro-aviões que fizeram o
raid Rio-Aracaju, os aracajuanos tiveram a primeira oportunidade de ver a
cidade do alto, com seu traçado moderno, de quadras simétricas, correndo
rapidamente para ocupar os espaços arenosos e pantanosos do centro para o
norte, para o oeste e para o sul. Os aviões do raid, que deslizaram pelo
estuário do rio Sergipe, vieram equipados com maquinário para fazer fotos e
filmar a visita. Vários grupos, de homens e mulheres, sobrevoaram a cidade,
gostaram de tudo o que viram e guardaram fotos tiradas por Kfuri. O médico
Carlos Menezes, um dos passageiros dos vôos turísticos, guardou um conjunto de
fotos aéreas, que testemunham aquele momento lúdico da cidade. A empresa cinematográfica
Belmonte Filmes ficou encarregada das imagens em movimento, cobrindo o programa
do raid. As cenas filmadas em Aracaju foram mostradas ao presidente Graccho
Cardoso e outros convidados, na sede do Automóvel Clube, no Rio de Janeiro.
Em maio de 1930, a empresa de Loeser & Cia,
representante da Sindicato Condor, trouxe um hidro-avião para Aracaju, para uma
demonstração. Era um avião Jangadeiro, que voou aproximadamente 30 minutos, com
muitos convidados em sua cabine de passageiros. Um deles assim descreve o
passeio sobre Aracaju:
“As oito horas e
cinco minutos da manhã de domingo último já nos encontrávamos confortavelmente
sentados na espaçosa cabine do Jangadeiro, um dos mais possantes hidro-aviões
do Sindicat Condor. Dentro de instantes fez-se ouvir um rápido apito, ordem
para início da decolagem, e não tardou que aos nossos olhos aparecesse, vista
do alto, a nossa formosa Aracaju.
Cortando os ares em rumo de Atlântico, a certa altura o Jangadeiro retornou e
na direção sul-norte, correndo paralelamente a cidade, fez que a víssemos na
variedade admirável de seus quadros, no irrepreensível de sua disposição, nos
tons mais diversos dos seus jardins, e de seus parques, no vermelho vivo dos
seus telhados, dos quais disse um dia Xavier Pinheiro, ‘que de tão limpos
pareciam que nunca foram maculados pelo pó’. Logo após, chegou a vez da ilha
fronteira (Ilha de Santa Luzia, atual cidade de Barra dos Coqueiros), que
atravessamos bem alto, de oeste para leste: os seus imensos coqueirais davam a
impressão de rasteiros arbustos e os vários caminhos que internamente a
recortam eram como estreitíssimas carreiras de formigas”.
Ainda que o registro, publicado na edição de O Liberal, de 6
de maio de 1930, não esteja assinado, é possível que tenha sido de autoria do
professor Artur Fortes, Diretor do jornal, ou de outro componente da redação,
pois o jornal agradeceu a Loeser &
Cia, ainda sob a direção de Carlos Loeser, pelo “vôo de recreio” do Jangadeiro.
O Graf Zepelin, o grande dirigível alemão, cruzou o céu de
Aracaju muitas vezes. O Comandante,
Eckner teve oportunidade de expressar sua opinião sobre a cidade, conforme
depoimentos de viajantes sergipanos. Oto Prazeres publicou, na edição de 12 de
fevereiro de 1932, no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, um diálogo travado,
a bordo do Zepelin, entre o seu
Comandante e um oficial da Marinha brasileira. Conta Oto Prazeres:
“ Numa das suas viagens ao Brasil, comandando o Graf
Zepelin, Eckner passou por cima de
várias capitais dos Estados brasileiros. Dessas capitais a que mais
impressionou o hábil comandante foi Aracaju. Eis ali, disse ele, uma cidade que, vê-se logo, foi traçada
por um moderno urbanista, conhecedor profundo do assunto. Um oficial da Marinha
brasileira, passageiro do dirigível, contestou
a afirmativa, dizendo que Aracaju era uma das capitais dos Estados
brasileiros mais genuinamente nacionais. Tudo que ali existe foi devido à
imaginação e ao trabalho dos sergipanos, natos ou adotivos. Pois olhe –
replicou Eckner, ainda com um grande ar de dúvida – eu não vi ainda na América
do Sul uma cidade que seguisse tanto e tão bem as linhas que são o resultado
dos últimos estudos urbanos. Daqui desta altura em que estamos, é que podemos
bem avaliar quanto o seu traçado foi bem inspirado. Eu juraria que se tratava
de obra de um urbanista consumado e não de simples inspiração de filhos da
terra, os quais, certamente, jamais estudaram questões urbanas, nos seus
últimos detalhes.”
Oto Prazeres, que no seu artigo evoca Aracaju do seu tempo
de menino (1887), termina dizendo que “Aracaju de hoje (1932) é uma das mais
belas, embora pouco conhecidas cidades do Brasil, com as suas ruas bem
traçadas, calçadas com cuidado a paralelepípedos, iluminada a luz elétrica, com
bondes modernos, também elétricos, esgotos e água. As suas ruas estão sempre limpas,
bem tratadas e há uma avenida beira rio que empresta novos encantos à cidade, já de si muito
bonita.”
“Sultana dos Mares”, “Lindíssima Cidade”, foram expressões
que deram a Aracaju um lugar destacado entre as cidades brasileiras. O
Comandante Eckner estava certo, a beleza de Aracaju saiu da prancheta dos
engenheiros militares, a frente deles Basílio Pirro, engenheiro contratado pela
Província, morador da Barra dos Coqueiros, onde nasceu um filho do mesmo nome,
também militar, igualmente de biografia consagrada.
Aos 150 anos, Aracaju continua atraindo os olhares
entusiasmados dos visitantes e turistas. E assim tem sido festejada,
continuamente, sua história.
Fonte: "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet".
Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
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Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 9 de junho de 2013.
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