Foto postada para ilustração do artigo, por Facebook/GrupoMTéSERGIPE.
Publicado originalmente pelo site Osmário Santos, em
07/02/2011.
João Costa: o mestre do teatro sergipano
Por Osmário Santos.
Professor de português de várias gerações, continua em plena
forma ocupando como sempre , posição de destaque em sala de aula, o seu segundo
mundo. Um patrimônio do ensino em Sergipe, uma existência de dedicação ao
ensino da língua portuguesa.
Um homem e de palco, onde o teatro, sua grande paixão,
sempre ocupou lugar privilegiado em sua vida. É responsável pelo lançamento de
inúmeros atores sergipanos.
A história do teatro sergipano não pode ser escrita sem o
seu nome. Fundou o teatro da Sociedade de Cultura artística e com ele uma
página de glória e de conquistas na arte cênica.
Sergipe passou a mostrar lá fora que tinha teatro, quando
duas peças de sua autoria foram vencedoras de festivais. O Norte e Nordeste
realizado na Paraíba com o prêmio de melhor espetáculo e o de melhor direção, e
o festival Nacional de Teatro, onde conseguiu o prêmio de melhor espetáculo.
Um de seus trabalhos de escritor de teatro recebeu corte
pela censura federal na época do regime militar. Hoje, está afastado do palco,
mas não está desanimando. “ O que falta é amparo financeiro. A UFS não tem
dinheiro. Os governos n]ao têm dinheiro e, quando têm, consideram que teatro é
investimento de última categoria”.
Filho de Cedro de São João
Nascido no município de Cedro do São João, Sergipe, é filho
de pais pernambucanos: José Costa Pau D’ Alho e Josepha Ferreira Costa.
Curso primário
Concluído em Ribeirópolis, em escola isolada, quer dizer:
escola pública estadual, cuja professora Valdice Carvalho Santos, fazia uso de
métodos de ensino hoje fora de moda. “Ensinou-me subsídios de gramática
portuguesa de que ainda me sirvo para orientar meus alunos, tanto como fiz na
universidade, como os cursos de pré-vestibulares. Tudo isso porque a gramática
de uma língua não é assim mutável durante uma vida e, como se sabe, a língua é
dos elementos constituintes da vida social o mais reacionário. Portanto, o que
aprendi em criança ainda é novo.
Curso médio
“ Houve um período e ligação entre o primário e o ginásio.
Estudei no Colégio Jackson de Figueiredo, onde vim a estudar na 5ª série
primária. Isso em 1947.Viajamos juntos no mesmo ônibus, José Sebastião, hoje do
Pio Décimo e eu. Matriculamo-nos ambos no Jackson. Tomamos rumos diversos: ele
na Escola Técnica de Comércio de Sergipe, eu, Colégio Estadual de Sergipe, o
antigo Atheneu na Av.Ivo do Prado. Fiz no Atheneu a 1ª série e, a partir da 2ª
ginasial até o 3º científico, estudei interno no Colégio Tobias Barreto”.
Curso superior
“ Fiz vestibular para letras neolatinas – português, latim,
espanhol e Italiano, na Faculdade Católica de Sergipe, que funcionava à noite,
no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, cuja entrada para nós, era pela rua
Itabaianinha. Lá cursei o 1º e 2º ano, fincando devedor de latim e espanhol,
cadeiras que me reprovaram, dado que a cobrança dos conhecimentos exigia o
método onde tudo era decorado. Concluir o curso na rua Campos, onde hoje
funciona o Ipês”.
Curso paralelo
“ Enquanto cursava a Faculdade de Filosofia, seguia estudos
na Aliança Francesa com Madame Rolland ( Monique Rollnad) , que foi a primeira
professora da Aliança Francesa em Aracaju e que funcionava numa casa que não
mais existe, avenida Ivo do Prado, 14, que hoje, cedeu espaço para a construção
da Assembléia Legislativa. Por causa dos estudos de francês na Aliança,
tornei-me professor de francês em Aracaju, chegando a ser professor catedrático
de francês do Instituto de Educação Rui Barbosa, nomeado pelo governador
Leandro Maciel, por intermédio do pedido de Francisco Modesto dos Passos, hoje
ainda muito conhecido como deputado estadual. A princípio o pedido de Chico
Passou causou estranheza ao governador. Um lugar de professor de Francês no
Estado para a um rapaz de Ribeirópolis, chegava a provocar risos, pois no
interior não existem cursos de língua estrangeira. Tudo depois se esclareceu
com a interferência do Dr. Heribaldo Dantas Vieira através ainda, do seu
sobrinho Hugo Vieira, que era o meu colega de Aliança Francesa”.
“ Em 1959 ganhei do governo francês uma bolsa de viagem com
tudo pago na França, onde passei 45 dias, estada essa que muito me valeu no
sentido cultural. Quando o poder público gasta dinheiro com bolsa de estudo
está fazendo investimentos com lucros certos no futuro”.
Atividade profissional
“ Sempre fui professor e isso desde o começo. Desde quando
comecei a trabalhar. Cito por ordem cronológica os estabelecimentos onde
ensinei: Colégio Tobias Barreto, Escola Técnica de Comércio de Sergipe, Ginásio
Pio Décimo, Colégio do Salvador ( ainda hoje o melhor colégio do Estado, onde o
modelo de ensino perfeito até hoje se mantém até hoje. Basta dizer que os meus
alunos de francês e analisavam sintaticamente Estância de os Lusíadas de
Camões. Mais ainda: na primeira série ginasial, hoje, 5ª série, o exame oral de
francês era feito dialogando em francês com os pequenos e as pequenas de 11
anos de idade”.
“Outros estabelecimentos: Colégio Patrocínio de São José,
Instituto de Educação Rui Barbosa, Colégio Estadual de Sergipe ( Atheneu
Sergipense),Colégio Estadual Castelo Branco, quando comecei a ver o descaso que
se pode conceder ao ensino. Quero dizer: funcionar um colégio sem o mínimo
compromisso de responsabilidade para que alguém aprendesse qualquer coisa e por
aí vai”.
Sociedade de Cultura Artística
“ Comecei a colaborar na Sociedade de Cultura Artística de
Sergipe –SCAS, ao lado da presidência de José Carlos Teixeira e daí, anos
depois, fui presidente da SCAS por três períodos, época em que, com a absoluta
orientação de José Carlos, foi construído o edifício sede da SCAS. Ainda me
lembro da voz embargada de José Carlos durante seu discurso de inauguração do
prédio. É que ele sempre amou a Cultura Artística e sempre esperava que o povo
inteiro se cultivasse no teatro, na música, e nas artes plásticas. Hoje percebo
que uma vida, mesmo longa, é muito curta para ter esse prazer”.
Continuação de arte
“ Foi sob a minha orientação que se fez o teatro da SCAS,
tanto dirigindo peças como interpretando ou escrevendo, além de contratar
diretor do sul do país para o trabalho de direção. Assim é que a SCAS montou as
seguintes peças: ‘Chuva’de Colton e VClements, ‘Dias Felizes’ de C.A. ‘Puget,
Armadilha pra um Homem Só de Robert Thomas’. ‘A Prima Dona de José Maria
Monteiro’. ‘ O Pedido de Casamento’ de A. Tchecov. ‘O Banquete de Lúcia
Benedetti’. ‘ Natal na Praça’ de Henri Ghéon. ‘O Boi e o Burro no Caminho de
Belém’ de Maria Clara Machado.
De minha autoria a SCAS montei ‘ Três de Dez de Mil
Novecentos e Tanto. Um Milhão a partir do conto de Maupassant. A Dança de Ouro
e Recital Sem Opus’, que me valeu a recepção de três prêmios: Melhor Espetáculo
no Festival do Nordeste na Paraíba. Melhor Direção no mesmo festival. Melhor
Espetáculo no Festival Nacional de Teatro no Rio de Janeiro”.
“Daí para cá, apesar de não montar peça nenhuma, tenho
trabalhos inéditos, como a ‘Casa de Bernada Alba’, de Frederico Garcia Lorca,
peça que eu já dirigi ( Não a minha tradução) para a Escola Normal com cenário
de Pernambuco de Oliveira e produção da SCAS. Além dessa de Lorca, traduzi ‘Lês
Femmes Au Tomabeau de Michel de Ghelderode”.
Do seu lado de escritor
“ Nunca tive a pretensão de ser escritor no sentido lato,
pois as minhas manifestações literárias não passaram até hoje de peças teatrais
. Não quero esquecer: tenho uma peça inédita que é a ‘Missa’, da qual ainda
conservo um cópia devolvida pela censura federal toda cortada de caneta Bic
Azul. Uma pena! Uma selvageria tal, que amortece o ânimo de qualquer pessoa que
escreva. Ainda havia um recado ( carta de censura) – Dizer ao professor João
Costa ou Sr. João Costa, para refazer a peça teatral de encomenda, com torta ou
roupa, ou construção de casa.O Negócio é bem outro. Eu não posso retocar o
sorriso da “ Gioconda”- de Da Vince”.
Primeiros passos de ator
“ Com Paulo Barreto do Cinema Rio Branco. Fiz uma ponta. Um
policial de revólver na mão, vestido de terno branco de linho, chapéu e
gravata. Um verdadeiro policial. Depois representei ‘Ladra’ de Silvimo Lopes,
peça que lançou Alencarzinho o ex-reitor da UFS, Clodoaldo de Alencar Filho,
como artista. Representamos ‘Ladra’ em Aracaju e no Rio de Janeiro no 1º
Festival de Teatro Amador no Teatro Dulcina”.
Sempre gostou do teatro
“ Não desanimei quanto ao teatro. O que me falta é amparo
financeiro. Os governos consideram o teatro como investimento de última
categoria. Sei que diante de um depoimento assim veemente, haverá defensores da
causa pública. Sei largamente disso. Dirão: temos feito muita coisa etc, etc”.
Do seu lado poético
“ Dizem que de poeta e louco, todos nós temos um pouco, Já
fiz pouco mais de uma dizia de poemas, porque essa é uma tendência natural de
quem gosta de literatura”.
Música popular
“ Depende do que se considera música popular. A grosso modo
não gosto de cantor ou cantora do Brasil ou de outro país qualquer, salva as
honrosas exceções, a exemplo de Carmem Miranda, Nana Mouskouri, Gal Costa,
Chico Buarque e tantos mais que não formam fileira dentro da minha predileção.
Presente de grego
“ Quanto a dizerem que eu atirei pela janela um disco
popular que me foi dado de presente, quem me conhece jamais me ofereceria um
disco popular. Dará, sim, um clássico. Dos meu compositores preferidos: Bach.
Beethoven, Haendel, Vivaldi, Mozart, Verdi, Donizetti e Dvorak. A série é bem
mais longa, dado que os compositores eruditos são tão bons que permanecem na
história da arte para sempre”.
Espetáculos primários
“Sim, acho bonito, quando pessoas que apresentam um espetáculo
primário, sem nenhuma qualidade técnico-artística e dizem estar fazendo arte. É
bom ingenuidade. Os ingênuos são felizes”.
Aposentadoria
“Já me aposentei da Universidade Federal de Sergipe em
abril. Hoje estou dando aulas de português no Curso Unificado. Tanto é bom para
o espírito, como para o bolso. As duas coisas se interligam. Isso porque
ninguém trabalha por lazer, apesar de eu estar com Benjamin Franklin, quando
diz que o homem deve ocupar-se com qualquer atividade, mesmo que não seja rentável”.
Família
“ A minha família é pequena. Assim foi a casa de meus pais.
Assim é a minha. Com meus pais dois filhos, um casal. Eu sou o sobrevivente. Da
minha, há o casal e três filhos varões. Fernando, com 29 anos, médico, ora em
Copenhague. João Carlos, 28 anos, advogado da Petrobras em causas trabalhistas.
Rodolfo, 23 anos, no terceiro ano da UFS.
Política
Não, nunca me assentou essa atividade ou posição. No âmbito
governamental, fui diretor do Ipes, nomeado pelo governador Seixas Dória,
continuando com Celso de Carvalho, sem do demitido a pedido, por Lourival
Baptista. Durante esse tempo percebi que eu não seria útil politicamente, pois
eu atendia a ricos e pobres, ao contrário de outras opiniões da direção, que
barrava benefícios aos pobres e abria as comportas para pessoas ligadas a
partidos políticos tais e tais. Como vêm eu estava servindo erradamente, usava
de equidade e política não aceitas fazer o bem sem olhar a quem.
Texto reproduzido do site:
usuarioweb.infonet.com.br/~osmario
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 30 de janeiro de 2016.
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