Infonet > Blog Luíz A. Barreto > 11/04/2009.
Aracaju Bye Bye.
Por Luiz Antônio Barreto.
O capítulo biográfico de Mário Cabral na Bahia, porquanto
seja igualmente rico de vastidão crítica, sua obra, no geral, é uma obra
sergipana, mesmo quando universaliza suas leituras e exerce a crítica literária
Morreu quinta-feira, dia 2 de abril, em Salvador, na Bahia,
onde vivia desde 1953, o advogado e professor, poeta e crítico, ficcionista e
cronista de Aracaju Mário de Araújo Cabral, que em 26 de março completara 95
anos. Nasceu em Aracaju e a esta cidade dedicou parte de sua vida e de sua
obra. Aqui iniciou-se no jornalismo, publicando em 1934 artigo de desagravo a
memória de Tobias Barreto, maltratado pela virulência de Agripino Grieco.
Começava ali uma vocação que duraria para sempre e responderia por uma vasta
obra que representa uma enorme contribuição à cultura brasileira, com
especialidade a Sergipe e a sua capital. Sócio de Paulo Costa no Sergipe
Jornal, velha folha política que serviu a Graccho Cardoso e a Pereira Lobo,
contando com as penas geniais de Clodomir Silva e Artur Fortes, mas colaborou
com A República, dirigido por Gonçalo Rollemberg Leite, e com outros jornais
sergipanos, deixando um rastro de luminosidade em suas páginas.
Advogado, Procurador do Município e nesta condição Prefeito
de Aracaju, deixou seu nome gravado, de forma indelével, na edição primacial da
Revista de Aracaju, seleta de textos antológicos, de autores que formaram,
entre a primeira e a segunda década do século XX, na escola dos grandes que
dobraram o século XIX e fixaram seus nomes nas páginas da história cultural
brasileira. Mário Cabral é um sobrevivente da geração de Fernando Porto, José
Calasans, Lauro Fontes, Passos Cabral, Omer Monte Alegre, Raimundo Souza
Dantas, Paulo de Carvalho-Neto, José Sampaio, que ilustraram os jornais
sergipanos com seus ensaios, poemas, suas opiniões e posições políticas. E com
a morte dessa constelação ele permaneceu só, recluso em sua casa na Barra, na
capital baiana, mas atento aos amigos novos, aos intelectuais que surgiram,
estimulando com suas palavras sinceras, ajustadas ao espírito, a tantos quantos
batiam à sua porta ou se valiam da comunicação epistolar, a mais recorrente, ou
telefônica. Morreu, portanto, o último dos grandes.
Em 1995, na casa de José Calasans, estiveram reunidos
Fernando Porto, Mário Cabral e Lauro Fontes, ases de um jogo lúdico e lúcido,
cujas cartas revelavam Sergipe em todos os naipes, e Aracaju como o coringa.
Foi um encontro, que promovi e presenciei com Aglaé d’Ávila Fontes e Jackson da
Silva Lima, que fez de Aracaju o tema central de evocações e lembranças, visões
e sentimentos marcantes na biografia de cada um. Dos quatro, apenas Fernando
Porto ficou aqui, para expressar seu talento de pesquisador e de intérprete,
dentro e fora das salas de aula. Os demais tomaram a Bahia, onde estudaram e
adquiriram formação superior, para acenderem o facho luminoso de suas
inteligências, aumentando a riqueza da cultura brasileira na Bahia.
O capítulo biográfico de Mário Cabral na Bahia, porquanto
seja igualmente rico de vastidão crítica, sua obra, no geral, é uma obra
sergipana, mesmo quando universaliza suas leituras e exerce a crítica
literária. É que tudo em Mário Cabral lembra Sergipe, Aracaju, suas
recordações, suas amizades, conservadas carinhosamente por décadas seguidas.
Acadêmico da Academia Sergipana de Letras desde 1941, era o decano do
sodalício, ocupando a Cadeira que tem como Patrono o médico Ascendino Ângelo
dos Reis e como primeiro ocupante o magistrado e intelectual Manoel dos Passos
de Oliveira Teles, que neste ano completa 150 anos de nascido, e que foi
responsável pelo primeiro ordenamento das Obras Completas de Tobias Barreto.
Sua atuação cultural, desde os anos de 1930, foi coroada com a entrada
acadêmica e, posteriormente, com a cátedra das Faculdades de Direito e Católica
de Filosofia, novidades que abriram a década de 1950, pela visão de homem
público de José Rollemberg Leite. Parte de sua obra literária, como Caderno de
Crítica, Roteiro de Aracaju, e Crítica e folclore, editados entre os anos de
1944 e 1952, irretocável, serviu de peão de ordenamento para muitos livros que
expõem, para sempre, seu valor como intelectual. Um deles, confeccionado na
oficina da alma – Aracaju bye, bye, embora publicado somente em 1995, é uma
declaração de amor a sua cidade, um suspiro saudoso de suas lembranças. O
último deles, já resenhado neste espaço, foi Seleções, uma antologia de versos,
de 2008, o que significa que a velhice não retirou do poeta seu poder criador.
A pesquisa sobre o folclore das crianças de Aracaju,
apresentada inicialmente em conferência, e depois incluída em livro, é um
registro do maior interesse, que salva a lúdica infantil do descaso e do
esquecimento, e merece, de há muito, nova edição, para servir, didaticamente,
às escolas aracajuanas e sergipanas. A Prefeitura de Aracaju, que expediu Nota
e decretou Luto pela morte de Mário Cabral, tem todas as condições de organizar
e editar uma seleta ou editar o livro de folclore infantil, como forma de
prestar a mais digna das homenagens, divulgando a obra do intelectual e
ex-prefeito.
Texto e imagem reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 13 de fevereiro de 2016.
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