Publicado originalmente no site Lagarto Net, em 30 de
janeiro de 2011.
Prof. João Costa: um formador de gerações
Por Rusel Barroso.
Do lado do Tejo, de Camões a Pessoa, o caminho é português;
para além do Tejo, de Vieira a Guimarães, há a América e aqueles que mimam a
sua língua com alento poético. O professor João Costa é um desses exemplos que
se manterá vivo em nossa história. Teatrólogo, pesquisador, exímio mestre e
infatigável cultor da Língua Portuguesa, de cujo nome não é fácil falar,
contribuiu, ao longo dos anos, para a formação de gerações.
Muitos profissionais simplesmente passam; outros, da estirpe
de João Costa, deveras iluminados, acompanham-nos no pensamento, com lições de
vida que certos bens não podem pagar. Estes nos deixam um cabedal tão precioso
e nos cativam de tal maneira, que os manter em nossa memória é um leniente que
palavras são incapazes de traduzir.
Participar de suas aulas, na Universidade Federal de Sergipe,
era muito mais que uma viagem através de histórias surpreendentes, a ilustrar
com clareza, dinamismo e criatividade os aspectos inesgotáveis da língua, um
verdadeiro mergulho no âmago do nosso vernáculo com uma velocidade e sutileza
semelhantes ao voo de uma abelha voraz. O que era ensinado, a cada aula,
enriquecia-nos muito além da vida profissional. Sua capacidade de guardar
informações, com tamanha naturalidade, provocava invídia, até mesmo, a alguns
estudiosos.
Sobremodo organizado no exercício da profissão, vale lembrar
que João Costa, um dos mais envolventes mestres da FAFI, abria seu peito à
paixão dos estudantes. Com fala bem posta, articulada e clara, estimulava os
alunos com aulas de sutilezas filológicas e de completo domínio dos segredos da
língua portuguesa. Sua excelência intelectual, não raro, colava-se a seu jeito
impulsivo e exigente, numa franqueza que lhe rendeu desencantos, mas,
sobretudo, admirações.
Como o tempo passa depressa e não se importa com os
benefícios ou danos que possa causar! Seria tão bom se pudéssemos voltar no
tempo para começar tudo outra vez. Que pena não haver mais essa possibilidade!
Conforta-nos, apenas, a certeza de que guardaremos a sua fala em nosso
pensamento, tal qual ele mesmo, certa vez descrevera aquela casa da Avenida
Angélica, de Maria José Dupré. Enfim, todas as vezes que sentirmos o aroma de
erva-doce ou que observarmos o abacateiro que já não carrega mais, seremos
transportados àquela casa, que, em sua fala, nos conduzia ao seu tempo de
menino numa pequena cidade das Alagoas.
Morre João Costa, janeiro de 2011, mas ficam conosco as suas
marcas nas ideias, nos exemplos, nas contribuições que se multiplicarão para a
posteridade. E, como exemplo de vida, guardaremos a frase: “Procurem ser
cuidadosos com a fala, pois agora fazem parte da elite cultural. Lembrem-se de
que ela é a arte de fazer amigos ou inimigos, portanto, sejam cautelosos ao
utilizá-la”, de sua autoria.
O registro que faz Aurélio Buarque de Holanda em seu
Dicionário da Língua Portuguesa, diz que SAUDADE é “lembrança triste e suave de
pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a
vê-las ou possuí-las; pesar pela ausência de alguém que nos é querido,
nostalgia”.
Uma grande parte das composições poéticas e musicais
brasileiras se serve da saudade como motivo de suas criações. A saudade está
nos provérbios como ensinamentos de vida; é a companheira dos que não têm
companhia.
Li, certa vez, que à proporção que avançamos em anos, a
experiência, mestra da vida, nos desafia aliada às decepções que nos esperam. O
que era encanto e poesia aos olhos infantis, agora se transforma em monotonia,
e as saudades, estranhas e místicas, rondam noite e dia. Saudade de uma época
pueril, de nossos entes passados, dos sonhos primaveris, das poéticas e
formosas visões que nos povoam a mente imatura, uma doce sensação de paz que
nos toma.
A saudade não é apenas o recordar, mas o ir através do tempo
e do espaço, o reviver instantes felizes que não voltam mais.
No mundo da educação, a saudade pairou no ar, já que não
mais pôde ser difundida, mas ficam na lembrança a voz, os caderninhos, os
gestos, as palavras, os sorrisos e os momentos guardados por tanta gente que
teve o privilégio de receber seus ensinamentos – tesouros que nos ajudarão a
preencher essa grande lacuna que o mestre e amigo João Costa nos deixa – um
blackout que nos silencia, pois fica apenas a sensação de sua voz guardada no
cerne das recordações.
* Rusel Barroso é escritor e pesquisador lagartense, membro
do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da Associação Sergipana de
Imprensa, integrante do Comitê Gestor e do Conselho de Ética da Faculdade AGES.
Texto e imagem reproduzidos do site: lagartonet.com
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 30 de janeiro de 2016.
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