Imagem para ilustração de artigo, postada pelo Grupo do Facebook/MTéSERGIPE.
Foto: Felippe Araújo.
Publicado originalmente no site Osmário Santos, em
13/03/2006.
Erivaldo de Carira e seu autêntico forró.
Por Osmário Santos.
Erivaldo Cícero de Oliveira nasceu a 16 de outubro de 1949,
na cidade de Carira/SE. Seus pais: Manoel Cícero de Oliveira e Maria Julita
Quinto de Oliveira.
O pai foi agricultor, trabalhador de roça por excelência e
nos finais de semana pegava a sanfona de oito baixos e tocava nas festas da
região para ganhar um dinheiro a mais e ajudar no sustento da família.
"Minha mãe, eu e Erivalda, minha irmã".
Do pai conta que herdou a honestidade e a simplicidade.
"Isso eu carreguei no capricho. Posso dizer que ele faleceu e nunca chegou
alguém para prestar uma queixa dizendo que tinha feito alguma coisa errada.
Isso passo para os meus filhos, pois um homem só tem valor se for honesto,
correto em suas atitudes e ter dignidade".
De sua mãe, que além de cuidar da casa e dos filhos,
começava o dia logo ao amanhecer trabalhando na roça, herdou a disciplina, seu
lado de bondade e amor aos filhos.
Com a prima Judite, numa escola pública, o menino Erivaldo
aprendeu as primeiras letras na cidade de Carira. Em vista de mudança de seus
pais para a cidade de Porto da Folha, deu continuidade aos estudos com a
professora Zezinha, numa escola municipal no povoado Lagoa Redonda. Com ela
estudou até o terceiro ano do curso primário e a partir daí deixou os estudos
de lado.
Da mudança de residência para Porto da Folha, conta que só
aconteceu pela dificuldade financeira que seu pai passou após empréstimo no
banco para plantação em seu terreno. "Como no ano do empréstimo a seca
bateu e não deu nada, teve de vender o terreno que tinha dentro da cidade de
Carira para pagar o banco".
Desesperado, pegou o cavalo e saiu em direção ao rio São
Francisco. No município de Porto da Folha encontrou um terreno com boas
condições para plantação. Comprou e, na volta, avisou a mulher e aos filhos da
compra da área de terra e anunciou a mudança de cidade.
"Nós saímos num dia de segunda-feira ao meio-dia,
depois das compras da tradicional feira da cidade. Saímos em três carros-de-boi
com a mudança. Foram dois dias de viagem de Carira a Lagoa Redonda. Mesmo
estando com cinco anos de idade, até hoje me lembro de todos os momentos da
viagem".
"Quando chegamos em Poço Redondo, numa casinha, que era
uma tapera velha, toda furada, lugar onde Lampião fez morada quando das suas
passagens pela região. Minha mãe chorava, arrependida por ter ido para aquele lugar,
mas foi lá que a gente começou a morar e a trabalhar. Como meu pai se
interessava pelo futuro dos filhos, arranjou uma professora e botou para
ensinar a gente".
Ainda menino começa a trabalhar. Estudava pela manhã e pela
tarde era ajudante de carreiro. "Por isso tenho uma música que relata
minha vida na roça de nome Fazenda Velha. ‘Carriei com quatro boi dento do
carro/. Me levantei muito cedo para tirar o leite do gado/. Do tempo que eu era
novo, meu pai não tinha empregado/. Essa música é a história da minha
vida’". Trabalhou no campo até os 18 anos.
Com 10 anos de idade, sempre que o pai saía a para tocar nas
festas acompanhado de mais dois músicos, formando um conjunto pé-de-serra,
Erivaldo o acompanhava como músico. "Tocava zabumba nas festas de Lagoa
Redonda. Com 12 anos, já comecei a tocar na sanfona de meu pai". "Aos
domingos, as meninas do povoado e alguns amigos iam lá pra casa para dançar. Eu
ficava tocando com a cabeça baixa e não olhava para ninguém, com vergonha das
meninas. Minha mãe ficava tirando onda com a minha cara e dizia que eu mijava
nas calças com 10 anos de idade (risos). Aí eu ficava mais envergonhado (risos
e mais risos). Quando uma das meninas me chamava para namorar eu ia para o
canto da sala e começava a chorar" (risos e mais risos).
O pai sai dos oito baixos e aumenta o seu número de tocadas
nas festas da região. Em uma delas, na Serra do Boi, Lagoa Redonda, começou a
tocar e quando deu meia-noite, chama o filho, entrega a sanfona e pede para ele
segurar a animação da festa. "Tocava sentado num banquinho e a festa era
iluminada a luz de candeeiro, onde o ambiente ficava envolvido de fumaça e com
cheiro de querosene. O velho pegou a mulher e foi dançar e eu lá... sentado,
num banquinho, metendo cacete (risos e mais risos). Filho de peixe, peixinho é
(risos). Toquei até o dia nascer e mais algumas horas (risos). Depois dessa
festa comecei a ganhar um dinheiro com a sanfona de meu pai".
Sendo o filho de Manezinho de Carira, como era chamado seu
pai pelo povo de Lagoa Redonda, Erivaldo passou a ser chamado artisticamente de
Filho de Manezinho de Carira. Logo tratou de procurar um outro nome, mas isso
só aconteceu quando passou a tocar nas emissoras de rádio em Aracaju. "A
saudosa Dona Valdice, mulher de Josa, o Vaqueiro do Sertão, ela foi quem
batizou o nome Erivaldo de Carira".
Como o pai desde cedo colocou na cabeça do filho que viver
da música não dava certo, aos 18 anos Erivaldo começa a trabalhar como
motorista. Aproveita a oportunidade da compra de um Jipe pelo cunhado e começa
a dirigir depois de algumas instruções passadas pelo marido de sua irmã. Pouco
tempo depois, o cunhado compra um caminhão e entrega a Erivaldo para pegar
cargas. Mais adiante o caminhão é passado para o nome de Erivaldo. "Saí da
roça e resolvi morar em Carira com o caminhão, fazendo linha de feira
(pau-de-arara). Aí, quando foi num dia de segunda-feira, lá na fazenda de
compadre Almeida, vi que a cidade de Carira estava cheia de guardas do Detran.
Quando percebi a presença do pessoal que usava gorro branco na estrada logo
fiquei com medo, pois não tinha carteira de motorista (risos). Quando cheguei
lá, o caminhão ficou preso e mais tarde tive de arranjar um motorista para
conseguir a liberação do caminhão. Como não podia mais dirigir, fui para Aracaju
e tirei a minha carteira de habilitação como motorista profissional".
Passa um tempo, vende o caminhão e vem para Aracaju para
trabalhar como motorista de ônibus. "Passei quatro anos na Viação São
Pedro. Viajava para Nossa Senhora da Glória, Dores, Santo Amaro, Porto da Folha
e outras cidades. Mas quando encostava o ônibus em excursão e tinha uma
sanfona, fazia a festa (risos)".
Quando voltou a Carira para trabalhar com caminhão
constituiu família. Quando conquistou espaço na Viação São Pedro fixou residência
na cidade de Nossa Senhora da Glória. Quando sai da empresa de ônibus, volta a
Carira. "Meu pai vendeu a propriedade de Lagoa Redonda, comprou um terreno
em Carira e um caminhão, um Ford F-600, e fui tomar conta. Voltei a fazer linha
de feira, levando o pessoal da cidade de Carira para as demais feiras das
cidades da região. Depois comprei um outro caminhão e comecei a carregar lenha,
esterco para a cidade de Itabaiana e carvão para diversas cidades, inclusive
Aracaju, Arapiraca, Paulo Jacinto e Palmeira dos Índios em Alagoas. Passei um
tempo de quase seis anos com essas viagens. Vinha para Aracaju carregado de
carvão e vendia o produto pelas ruas dos bairros da cidade. O caminhão em
marcha lenta pelas ruas e os carregadores gritando: olha o carvão. Um saco para
um, para outro, e assim conseguia vender toda a carga. Também carregava o saco
nas costas e fazia a entrega do carvão quando parava o caminhão. Ficava preto e
branco só os dentes (risos). Foram cinco anos nessa luta. Depois comecei a carregar
tomates em Cocorobó (Bahia) para a Fábrica de Frutos Tropicais em
Sergipe".
A vida de sanfoneiro por muitos anos foi atrelada à vida de
motorista. A música acontecia nos finais de semana e feriados. "Comprei
uma safoninha quando saí de Lagoa Redonda e fui morar em Carira. Muito tempo
depois, uma sanfona 120, paga com o dinheiro do caminhão".
A primeira vez que canta e toca no rádio em Aracaju
aconteceu no programa de José Benício, na rádio Liberdade AM. Devido ao sucesso
da apresentação, logo recebe convite para se apresentar na rádio Difusora e
canta no programa de José Cláudio.
Não esquece da primeira grana gorda recebida como artista.
"Foi na Fazenda São Cristóvão, do saudoso José Luís, no município de
Carira, na divisa com Glória. Foi uma pega-de-boi no mato. Aí meu nome passou a
ser conhecido na região como bom sanfoneiro e começou a chover convites.
Atendia todos eles e toca e muito. Começava às 3 horas da tarde e terminava no
outro dia, às 5 ou 6 da manhã, acompanhado de zabumba e triângulo".
Tem 33 anos de música, muito trabalho e conquistas. Conta
que ao tomar a decisão de viver exclusivamente compondo, tocando e cantando
forró, vende o caminhão e compra um Opala no ano de 1973. "Comecei fazendo
shows em circos pelas cidades do interior de Sergipe. Saía de casa na
sexta-feira e chegava na segunda, sem ter um conto no bolso. A mulher dizia: ‘o
senhor está bonito! Como é que vai fazer a feira?’. O circo não dava nada. Mas
eu comecei! Meu sonho era gravar um disco. Isso aconteceu em 1984".
"Levei um ano juntando dinheiro. A vida de tocar em
circo era muito difícil. Mas não fique só em circo. Comecei a cantar em
touradas, vaquejadas e outras festas. Até que conseguirmos gravar o disco em
São Paulo, na Fama Som, e que recebeu como título ‘Forró a Brasileira’. Na Fama
Som do meu amigo Antônio Poderoso gravei três discos. Gravei em vinil quatro
discos e quatro CDs. O último, ‘Do Jeito que eu Gosto, Erivaldo de Carira, o
Autêntico Forró, Volume X’, está sendo lançado este ano".
Uma longa jornada de trabalho, mas gratificada pelo
reconhecimento de seu trabalho artístico pela mídia e pela conquista de um
grande público em especial os adeptos do forró.
"Já cantei em São Paulo, já gravei no programa de
televisão Amigos do Forró, apresentado pelo Nerivan Ivan Silva, na TV Gazeta,
em São Paulo. Mas a dificuldade para chegar nas emissoras de televisão do Rio e
de São Paulo é grande. Em Aracaju venho sendo convidado para o palco principal
do Forró Caju que leva o nome de Luiz Gonzaga. Faço questão de registar que a
mídia sergipana sempre abre espaço para o nosso trabalho e por isso sou muito
grato ao pessoal da imprensa do meu Estado".
Sente-se uma pessoa realizada pelas graças de Deus e tem a
felicidade de ter dois filhos sanfoneiros: Erivaldinho do Acordeon, Erivaldo
Oliveira, o Mestrinho do Acordeon, e ainda a cantora Tháis Nogueira.
Casou com Noélia Santos Oliveira, da cidade de Nossa Senhora
da Glória, e com ela três filhos: Erivaldo Santos Oliveira, Elizangelo Santos
de Oliveira e Erickson Santos Oliveira. Do segundo casamento, com a baiana
Benildes Alves Nogueira, três filhos: Erivaldina Alves de Oliveira, Erivaldo
Júnior Alves de Oliveira, Thaís Nogueira Alves de Oliveira. Do terceiro
casamento, com Isabel Mendonça de Oliveira, da cidade de Frei Paulo, dois
filhos: Stefany e Stela Vine.
Texto reproduzido do site:
usuarioweb.infonet.com.br/~osmario
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE. de 3o de janeiro de 2016.
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