Post Scriptum.
Às Mestras com Carinho.
Por Clóvis Barbosa*
Nesta foto de alguns anos atrás, no corredor da Reitoria,
estou ladeado por duas grandes mestras que dignificaram a educação em Sergipe:
Glorita Portugal e Ofenísia Freire. Elas já nos deixaram, mas tenho por ambas o
maior apreço, impagável gratidão e muita saudade. Glorita foi minha professora
de francês no Colégio Estadual de Sergipe e examinadora na prova oral de
francês no vestibular de direito a que me submeti na Universidade Federal de
Sergipe. Meiga, atenciosa, tinha um jeito gostoso de estimular os alunos a
conhecer a literatura e gramática francesas. Ela ficou encantada quando certa
vez levei pra ela um texto de Montaigne, onde ele fazia a defesa dos índios
canibais brasileiros.
Montaigne, o grande autor de Ensaios e observador crítico e
irônico da comédia humana, baixava o sarrafo nos espanhóis que tentavam
justificar a escravidão dos índios em função da prática do canibalismo. A
apologia de Montaigne aos canibais, portanto, era uma reação à política dos
espanhóis na América. Sobre Ofenísia, tínhamos duas identificações: a de termos
nascido em Estância e a de militar no Partido Comunista Brasileiro. Ela a
partir do fim da década de 1940, eu na década de 60 a 80. Não cheguei a ser seu
aluno, mas como dizia Luiz Antônio Barreto, não precisava sê-lo, pois existe um
sentimento incontido de admiração, de homens e mulheres, diante da excelência
da professora. Fui seu vizinho de sala na Reitoria da UFS durante muitos anos.
Eu como procurador, ela como revisora de textos. Conversávamos muito e sempre
lhe pedia que desse uma olhada nas minhas defesas nos processos de interesse da
instituição. Ela tinha um respeito grandioso pelo pensamento exposto, mas nunca
deixava de explicar a formatação de uma estrutura que levasse o texto à
fluência, à clareza e um estilo. Certa vez, entramos em rota de colisão sobre
quem seria o maior poeta português. Eu, um pessoano fervoroso, ela uma
admiradora de Camões, notadamente da obra Os Luzíadas. Chegamos a um acordo:
ambos tínhamos um bom gosto poético. O pouco do que sei no campo da escrita
devo a Ofenísia. Obrigado, meninas, por tudo que fizeram pela educação em
Sergipe!
*Clóvis Barbosa - Blogueiro e Conselheiro do TCE-SE.
Texto e imagem reproduzidos do site: primeiramao.blog.br
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE. de 4 de fevereiro de 2016.
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