quinta-feira, 13 de março de 2014

Josias Passos

Publicado por Osmário Santos/Memórias, em 07/03/2014.

Josias Passos.
Por Osmário Santos.

Sempre foi decidido, nunca gostou de rotina e, por isso, deu-se bem no trabalho. Um homem guiado pelo tino comercial. De Saco do Ribeiro, povoado de Itabaiana onde é hoje Ribeirópolis, ele é de uma região que deu frutos de natureza comercial.

Por aquelas bandas nasceram Oviêdo Teixeira, Mamede Paes Mendonça, ele e outros que bem souberam aproveitar o sangue de suas veias fenícias, sabendo tirar proveito da herança de seus antecedentes.

Quando jovem, chegou a ser professor. Concluiu o primeiro grau com boas notas e foi convidado a ensinar, passando um pouco do seu saber aos meninos de Saco do Ribeiro.

Gostava de ensinar matemática, pois tinha facilidade com os números desde pequeno. Chegou a ser chamado de professor Josias, com grande significação para aqueles que receberam os seus ensinamentos. Ensinou em escola primária, mas continua impregnado do espírito de mestre, sempre passando adiante o seu saber, conquistado com esforço ao longo dos seus 76 anos de freqüência constante à universidade da vida.

É uma pessoa de comunicação fácil e que sabe atingir com precisão os seus objetivos. Quando quer uma coisa, ninguém segura o homem. O escritor escocês Robert Louis Stevenson disse: “Todos nós, mais cedo ou mais tarde, somos forçados a tomar lugar num banquete de conseqüências.” De há muito, Josias Passos vem consientemente tomando parte desse banquete, sempre dentro das regras, aplicando a lógica que foi sistematizada por Aristóteles, pautando sua vida no caminho da coerência.

Uma parte de sua vida foi reservada à música. Seus ouvidos ouviram muitos dobrados, na época que fazia parte da banda de música da sua cidade natal, tocando clarineta. Trilhou o caminho da Justiça, sendo adjunto de promotor público do termo de Ribeirópolis, no período de julho de 1936 a fevereiro de 1945, nomeado pelo então interventor federal Eronildes Ferreira de Carvalho. Sempre gostou de política e com ela esteve envolvido por algum tempo. Ocupou o cargo de secretário-tesoureiro da Prefeitura Municipal de Ribeirópolis por cinco anos. Sempre os números... Foi agente de estatística durante dez anos e, em 1940, chefia o recenseamento da sua encantada Ribeirópolis.

Um homem de percepção, que sabe acompanhar o tempo. Junto com o filho e mais sete colegas fundaram a TV Sergipe. Foi com Josias à frente do grupo, sabendo cavar as oportunidades, aproveitando um coquetel, já aquecido nas devidas proporções, para falar com o ministro das Comunicações, coisa que não conseguia via gabinete ministerial, para solicitar a concessão de uma TV para Sergipe. Recebe um sim do ministro. Não acreditou! Mas o fato se concretizou.

Explosivo quando pisam nos seus calos, mas com “um coração que concilia as coisas contrárias”, como bem disse o francês La Bruyère. Fez a volta ao mundo por duas vezes, conquista que considera de grande valor na sua vida.

Foi presidente da Associação Comercial de Sergipe no período de 1975 a 1979, quando teve a honra de participar de um seminário na Câmara Brasil–Estados Unidos. Exerceu a presidência do Clube de Diretores Lojistas de Aracaju no período de 1968 a 1970. Ocupou a presidência do Sindicato dos Lojistas por sete anos consecutivos.

FOLCLORE - Um Josias Passos de muito folclore, de muitas histórias, como aquela de que a cidade de Maceió deveria se chamar “Bomceió”. São tantas que daria um bom livro, como admite na sua cativante simplicidade. Um Josias marido exemplar, casado com Creildes de Oliveira Passos, companheira de todos os momentos, que só lhe tem dado conforto, alegria, ajudando no seu progresso. Pai dedicado aos cinco filhos, é um avô que curte os netos e que fica super feliz quando reúne a todos na chácara em São Cristóvão. Haja felicidade!

Josias Passos é um exemplo de comerciante que honra a sua classe. Continua dedicando-se ao trabalho. Continua na ativa no Clube de Diretores Lojistas e, nas reuniões, brinda a todos com suas sábias interferências.

Cinco horas da manhã já está acordado. Daí até chegar a hora do café, o hábito da leitura. “Depois do meu cafezinho, vou andando até o trabalho, chegando entre oito e meia e nove horas.” Assim começa o dia do comerciante Josias Passos.

31 ANOS DE SACO DO RIBEIRO - No dia 28 de janeiro de 1914, em Saco do Ribeiro, nasce Josias Passos, filho do casal Maria do Céu e Felimino da Costa Passos. Seu pai era comerciante e agricultor de plantar feijão, mandioca e fazer farinha. Comerciante do ramo de secos e molhados.

Era gente importante e querida na cidade. Chegou a ocupar o cargo de sub-delegado de polícia. Pessoa valente, educou os filhos à custa de muito trabalho. Josias herdou muitos ensinamentos do velho: “Meu pai tinha amor ao trabalho, bom senso, de forma que herdei muitos ensinamentos, que hoje se tornam novos e que transmito aos meus filhos.

Era muito ponderado, do diálogo, nunca foi violento, um homem que estava na cabeceira dos homens de bem da região.” De 1914 até 1945, sua vida foi vivida em Saco do Ribeiro. Fez até o quinto ano primário, “o que existia para aquela região.” Bom aluno, continuou recebendo os ensinamentos “da competente professora Cacilda”, que ensinava ao Josias “naquele tempo, vamos dizer, o curso secundário.”

Em troca das aulas especiais, pois o ensino só chegava até o primário, Josias também dava aulas, tendo sido professor por um período de três anos. “É verdade! Me chamavam de professor Josias”.

Ensinava todas as matérias. Vou ser franco: não tinha especialidade, mas confesso que sempre gostei de matemática.” Josias fez sucesso como professor. “Ensinava todos os alunos do primário: já estava formado no quinto? Com galhardia, não é? Nota boa, diploma e, naquele tempo, sem ofensa a ninguém, o ensino era mais sério do que hoje.” Ensinava pela manhã e recebia de recompensa aulas do secundário pela tarde. “Estudava mesmo, não tinha dúvida, quebrava a cabeça.” Depois do feito de professor e aluno, finda a fase secundária, passa a seguir a “universidade da vida”, iniciando com a ajuda ao pai no comércio, nos dias de feiras.

SEMPRE FELIZ - “Sempre fui muito feliz. Na minha infância, brinquei, me distraí.” Com os irmãos e seus amigos, uma boa turma que dava mais vida ao Saco do Ribeiro. Aos dezesseis anos, entra oficialmente no ramo do comércio, montando o próprio estabelecimento comercial, contando com a ajuda do pai. “Ele me ajudou na instalação e aí segui no mesmo ramo de estivas e molhados, montando a Casa Oriente, pois no meu modesto estudo tinha uma simpatia pelo Oriente, por isso e aquilo outro.

Oriente é uma coisa que está se levantando, não é? Vai em progresso, no meu entender.” Foi no dia 29 de julho de 1939 que estabeleceu-se no comércio. Mas a Casa Oriente foi registrada com o nome do seu genitor, pelo fato de não ter alcançado ainda a maioridade. Na primeira feira, tirou mil réis, um bom dinheiro para a época.

Também foi precoce na política, pela qual foi apaixonado. Com o seu jeitinho, consegue votar antes do tempo previsto na lei. Aos 16 anos, e um pacote político previamente preparado, entra na prefeitura para ocupar o cargo de secretário-tesoureiro.

ADJUNTO DE PROMOTOR E LÍDER POLÍTICO - Quanto ao ingresso na Justiça como promotor público adjunto, ele disse: “Naturalmente eles achavam que eu tinha uma modesta competência e que podia exercer bem o cargo. Por nove anos exerci esse cargo em Ribeirópolis.”

Chegou a ser candidato a cargo eletivo, já no tempo em que residia em Aracaju. Contava com as experiências de Saco do Ribeiro: “Não era um chefe político, mas um auxiliar forte.” Cabo eleitoral? “Naquela época não se explicava nem se chamava cabo eleitoral. A pessoa de confiança do chefe é que coordenava todos os segmentos.” Fazia campanha? “Não tenha dúvida.” Partido? “No tempo de Eronildes era poder discricionário, depois veio a União Republicana de Sergipe, que tinha como chefe o Dr. Augusto Leite. Algum tempo depois passei para a UDN. Desde a minha juventude, me filiei à política chefiada pela família Franco. Comecei por Zezé Franco, conhecido por Zé do Pinheiro, depois veio o Walter com muita influência e Dr. Augusto chegou no fim.”

Sua admiração política pela família foi fruto de uma amizade que iniciou pelas passagens por Ribeirópolis, em diversas vezes, do coronel Antônio Franco, que tinha fazenda para o lado de Carira. “Na sua passagem, havia palestras e boas conversas. Nos tornamos amigos. Veio a política e nisso ingressamos com a família Franco.” Josias lembra que naquele tempo não havia comício, aconteciam reuniões e encontros nas portas das lojas e na feira.

UM BOM NAMORADOR - “Meu tempo foi bom, viu? Idade boa! Freqüentava as festinhas da redondeza: Frei Paulo, Itabaiana, Dores, Nossa Senhora da Glória e até Serra Negra. A gente farejava as festas e ia de bicicleta a motor. Só tínhamos eu e Gumercindo Góis, meu companheiro de farras. Quando o barulho das máquinas chegava aos ouvidos das meninas, a festa estava feita. Chegávamos, éramos bem atendidos, bem recebidos e voltávamos tarde da noite ou no outro dia, conforme as coisas. Enfrentamos as estradas de piçarra com grande segurança, pois nossas máquinas eram alemãs e não quebravam. Era um colosso!” Tinha garupa? “Tinha, mas nós carregávamos combustível.” Não dava para carregar ninguém? “Carregar quem? Um concorrente eu não queria carregar.

Uma mulher, naquele tempo, não se usava, era um tempo todo diferente.” Namorava muito? “Um bocado. De noivar não! De conversa, galanteio, nunca gostei de compromisso.” Nisso, a sua fama de conquistador circulava. “Namorava uma menina em Frei Paulo, acabava, às vezes tinha um pai na dança, cortava logo. Compromisso não era comigo.”

O CASAMENTO - Mas acabou se comprometendo. Em janeiro de 1940, casa em Ribeirópolis com Creildes de Oliveira Passos. Conheceu aquela que seria a esposa lá mesmo. “Filha de um fazendeiro da região de Porto da Folha que fugiu de sua propriedade com medo de Lampião, montando uma casa de negócio em Ribeirópolis”, fato que até hoje o coração de Josias agradece. Afinal, até Lampião o ajudou. “Pouco tempo de namoro: meu negócio sempre foi muito decidido.

O sujeito namora para casar, o que adianta passar dez ou mais anos para isso? Casei logo, liquidei a fatura.” O casal teve cinco filhos: Getúlio Dantas Passos, Sônia Passos, Josias Dantas Passos, Suzana Dantas Passos, Gonçalo Dantas Passos. Treze netos, três noras e dois genros formam a família Passos.

TRANSFERE-SE PARA A CAPITAL - No ano de 1945, transfereriu-se para a capital, permanecendo no ramo do comércio. Já estava com um bom capital, pois soube aproveitar bem as oportunidades surgidas com a Segunda Guerra Mundial. “Quando estourou a guerra, eu estava no Recife, participando de um Congresso Eucarístico Nacional e aproveitei a oportunidade em face dos ensinamentos que recebi do meu pai, com a Primeira Grande Guerra. Eu me danei a comprar mercadoria alemã.

Tomei dinheiro emprestado a seis colegas ecomprei canivetes, cornetas, navalhas, agulhas, tesouras, papel para cigarro e facão. O que vinha da Alemanha, comprava. Me estoquei, faltou mercadoria e, como só eu tinha, ganhei muito dinheiro, pois comprava por dois e vendia por cem.”

PRIMEIRA LOJA EM ARACAJU - Na Rua da Frente, num boxe do Prédio Vaticano, Josias iniciou sua vida no comércio em Aracaju. Sofreu graves conseqüências de um incêndio na firma Pedro Paes Mendonça, bem nas imediações da sua loja. “Foi um incêndio tenebroso. Basta dizer que para acabar o incêndio veio uma bomba do Vale do São Francisco.

Os bombeiros de Salvador já estavam preparados para atender ao chamamento do governador de Sergipe, não vindo graças à presença de um navio, que trabalhou com duas bombas de duas polegadas dia e noite, para não acabar com o Vaticano.”

O COMÉRCIO DE ANTES E DE HOJE - “Naquela época, o comerciante vendia com um lucro baixo, uma média de 10% a 20%, no máximo, bruto, sujeito a todos os impostos: luz, água, empregados. O padrão de vida naquele tempo era modesto, só gastava 10 quando ganhava 15. Depois, as coisas foram se modificando e o comércio passando por essas transformações. Mas a maior crise hoje é a gente gastar mais do que ganha. A outra desgraça é a inflação: quando cheguei em Aracaju, vendia com 20% de lucro bruto. Dava para tudo e ainda comprei alguns imóveis que hoje possuo. Depois dessa inflação, se vende com 100, 200 por cento e nunca mais pude comprar um chão de casa. Apenas conservamos o patrimônio. Considero a inflação, depois da guerra, como a pior desgraça do mundo.”

UM DOS FUNDADORES DA TV SERGIPE - A idéia foi de Francisco Franco e Nairson Menezes. “Chico convidou a mim e ao Getúlio, nós nos reunimos e fundamos a TV Sergipe. Cuidou-se da venda de ações. Fui o seu diretor-presidente na fase de instalação e do licenciamento, quando comi o diabo. Passei muitos dissabores, mas consegui montar a estação de televisão. Quando viajava para o Rio, recebia a gozação do pessoal da Tupi, que dizia que estávamos instalando um ferro-velho.”

Josias viajou muito para resolver os problemas da instalação da TV Sergipe.

“Muitas vezes, para falar com o ministro eu tinha de soltar uma gorjeta para um preto que antecedia a sala. Com a peste junto. Chegamos a ficar desenganados. Um belo dia, já com as instalações prontas, equipamentos comprados e instalados, eu fui convidado para a inauguração de uma casa maçônica em Porto Alegre. Lá pelas tantas, na força do uísque, já no foguinho, eu e o Paulo Vasconcelos, disse: ‘Paulo, sabe de uma coisa, o ministro está aí e nós vamos falar com ele’. Paulo não topou.

Fui ao ministro, nos encontramos num cantinho e contei a novela da nossa TV. No fim da nossa conversa, que foi longa, ele disse: ‘Senhor Josias, o senhor pode se preparar que até o fim da próxima semana o senhor receberá uma comunicação para vim pagar a taxa de registro’. Fiquei arrepiado, tão satisfeito, não sabendo como agradecer tal atitude.

Porém, não fiquei acreditando, pois ali estava na onda do uísque. Estávamos com três anos com a televisão pronta, sem pode funcionar. Mas chegou o momento culminante de emoção de minha vida. Num sábado, recebo um telegrama do ministro me convidando para pagar a taxa de licenciamento.

Tive tanto prazer que chorei!”

CIDADÃO ARACAJUANO - Por indicação do então vereador Luciano Prado, Josias Passos foi aprovado pela Câmara de Vereadores de Aracaju para receber o título de cidadão aracajuano, honraria não concedida até hoje. Pede desculpas e espera uma oportunidade para receber o seu diploma.

Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 13 de março de 2014.

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