Desfile de Carros Alegóricos - Av. Barão de Maruim - 1932.
Foto: Jornal Gazeta de Sergipe nr. 7.017 - 21 a 24/02/1982.
Imagem reproduzida do Blog: aracajuantigga.blogspot.com.br
De José de Oliveira B. Filho.
Carnaval no município de Pirambu/SE.
Foto: Luize Ribeiro.
Desfile de Blocos no Pré-Caju de 2002.
Foto: Márcio Garcez.
Publicação originária da página "Sergipe
Cultura"/Infonet.
O Carnaval Sergipano: Do Entrudo ao Pré-Caju.
O Carnaval foi trazido para o Brasil a partir de 1008 com a
transferência da corte portuguesa para o nosso território. Aqui a festa ganhou
estilos próprios, incorporando a musicalidade dos negros e elementos das
culturas indígenas.
Em Sergipe a chegada do Carnaval representou a quebra da
monotonia de uma sociedade que sofria pela falta de novidades e de momentos
festivos e de lazer.
O Entrudo
O Entrudo foi a expressão mais antiga de festa carnavalesca
em Sergipe. Trazida de Portugal para o Rio de Janeiro no início do século XIX
se espalhando pelo Brasil, chegando até nossa Província.
Foi na cidade de São Cristóvão e nas Vilas de Maruim e
Laranjeiras que o Entrudo foi mais festejado. A festa carnavalesca acontecia,
como acontece até hoje, nos três dias anteriores a Quarta-feira de cinzas que
marca o início da Quaresma.
As pessoas se divertiam em cortejos de maracatus, ou seja,
grupos passeando pelas ruas cantando, tocando tambores e outros instrumentos de
percussão e bebendo cachaça. Nesses dias os senhores liberavam seus escravos
para poderem participar da festa, esses realizavam batucadas em becos, quintais
e terrenos baldios.
Havia ainda a "guerra de limão de cheiro". O
"limão de cheiro" era uma bola feita de cera ou parafina contendo
água, perfume ou xixi dentro. As pessoas jogavam umas nas outras e todo mundo
se molhava, tudo com muita correria, risos e mangações. Esse tipo de
brincadeira ainda existe em Japaratuba no Carnaval e na festa de Santos Reis
(06 de janeiro), o nome é que mudou, hoje chama-se "Guerra das
Cabacinhas" (por terem pequenas cabaças como fôrmas).
O Zé Pereira e os bailes de máscaras
Os passeios ou corridas de "Zé Pereira" foram
outra expressão carnavalesca muito popular no final do século XIX. Grupos de
foliões saiam pelas ruas e praças tocando cornetas, batendo tambores e cantando
num ritmo agitado e alegre, muitos deles usando máscaras e fantasias de
palhaço, animais, políticos, diabos, etc. O "Zé Pereira" era uma
festa popular, de gente pobre e de escravos. Seu ritmo frenético e muito
barulhento atraia até os mais tímidos. O grupo desfilava sem nenhuma
disciplina. Os passeios de Zé Pereira dominaram o Carnaval sergipano entre as
décadas de 1880 a 1900.
A elite também entrava na farra, não nas ruas, mas nos
salões fechados das residências luxuosas. Por influência francesa eram
realizados os disputados bailes de máscaras, onde chovia confete e serpentina.
As fantasias eram cuidadosamente elaboradas, não faltando o brilho de
lantejoulas e paetês. Os motivos das fantasias quase sempre obedeciam os
padrões e costumes europeus: Pierrôs, Colombinas, Arlequins, Piratas, etc.
Os Clubes Carnavalescos
Entre o final do século XIX e a década de 1920, no carnaval
sergipano se destacaram os blocos e clubes. Em Laranjeiras existiam os mais
ricos blocos e clubes carnavalescos de Sergipe, a exemplo do
"Minerva", com foliões ostentando fantasias luxuosas e deslumbrando
os expectadores acostumados a vida pacata.
O Carnaval de Laranjeiras era bem divulgado e comentado nos
jornais de Aracaju, o que veio estimular a formação de blocos e clubes também
na capital.
Em 1894 o tenente Henrique Silva organizou em Aracaju o
primeiro grupo de foliões, que desfilou pelas ruas arenosas da capital ao toque
de cornetas e zabumbas. No ano seguinte já existiam dois clubes: O
"Mercuriano" e o "Cordovício". O "Mercuriano" era
organizado por comerciantes e comerciários ( na Roma antiga o deus do comércio
chamava-se Mercúrio), suas cores eram o azul e o vermelho, possuía ricos carros
alegóricos puxados por animais e enfeitados com flores, nos quais desfilavam
mulheres belas e sensuais. O "Cordovício" também desfilava com
belíssimos carros e um grande número de foliões trajando fantasias criativas e
originais.
Em 1903 surgiram novos grandes clubes carnavalescos em
Aracaju: o "Arranca" e os "Filhos de Baco". A partir
daquele momento o Carnaval aracajuano já superava o laranjeirense. Aracaju já
se impunha como o principal centro urbano do estado de Sergipe. O
"Arranca" era um clube popular enquanto os "Filhos de Baco"
tinha a participação de famílias ricas.
Os desfiles aconteciam na rua Pacatuba até a frente do
Palácio do Governo. Milhares de pessoas assistiam a passagem dos blocos, com
seus magníficos carros alegóricos e ricas fantasias.
Nos desfiles, os clubes faziam críticas à política da época,
dominada pela corrupção e a violência, o que provocava aplausos, gritos e
gargalhadas da multidão espremida nas calçadas. Outros temas dos desfiles dos
clubes eram a natureza, deuses da Grécia antiga, os astros, navios, etc... O
carnaval fazia o povo desabafar, fugir do tédio do dia-a-dia e esquecer o
sofrimento por três dias.
Os grandes desfiles de blocos com carros alegóricos,
sofreram declínio a partir de 1915, quando o Carnaval aracajuano foi
fechando-se nos clubes e salões da elite a exemplo do Cine Rio Branco. Mesmo
assim o povo nunca deixou de brincar o Carnaval, a festa da alegria, do prazer,
da musicalidade e da sensualidade.
O carnaval não pertencia a ninguém, era do povo, era de
todas as classes sociais. A elite e a classe média festejava nos desfiles de
blocos e nos bailes dos clubes. O povo vindo dos bairros operários assistia com
entusiasmo aos desfiles, vaiando, aplaudindo e cantando.
Também eram organizadas bandinhas e charangas para os
passeios de "Zé Pereira" pelas ruas arenosas da pequena capital.
Grupos de foliões realizavam batalhas de confete, serpentina e lança-perfume.
Quase todo mundo entrava na folia.
O Carnaval no interior
Nas últimas décadas do século XX o Carnaval sergipano
manifestou-se através de desfiles de escola de samba, de blocos, de trios
elétricos, etc.
Em Neópolis acontece um dos maiores Carnavais de Sergipe,
uma festa com influência pernambucana, com muito frevo, bandinha de Zé pereira
e blocos de fantasias.
Em Pirambu o Carnaval segue mais o estilo baiano, com trios
elétricos tocando na praia e realizando "arrastões" pela orla
marítima ata as ruas da cidade.
Em Ribeirópolis acontece a tradicional "festas das
caretas" na qual centenas de foliões percorrem as ruas da cidade, alguns
vestidos de mulher, outros usando máscaras horrendas, tocando zabumbas e
"assustando" os transeuntes.
O Carnaval também é muito animado em Tobias Barreto e na
praia do Abais (Estância).
O Carnaval em Aracaju
Ao longo das últimas décadas (1970 - 1990) o Carnaval
aracajuano existiu em diversas expressões: desfiles de escolas de samba e de
blocos, bailes carnavalescos nos clubes (Cotinguiba, Iate, Associação Atlética
e o Vasco), concursos de músicas e o Carnaval de rua.
Ficaram famosos os bailes do Hawai, do Tricolor, do
Almirante dos Artistas e das Atrizes. Nos desfiles de rua destacaram-se as
escolas de samba Império Serrano, Império do Morro, Império do Samba,
Acadêmicos do Samba, Brasil Moreno, Tubarão da Praia, etc. e entre os blocos
destacavam-se Italianas, Bebé, bloco da Paz, Rebu e Fera.
Haviam também os desfiles de foliões em carretas e nos
famosos "calhambeques", carros usados, geralmente sem capotas,
fantasiados de desenhos com frases cômicas e propagandas comercias. No final
dos bailes dos clubes, no amanhecer da Quarta-feira de Cinzas os calhambeques
com seus ocupantes se dirigiam para a praia de Atalaia onde acontecia a
perigosa e divertida "Corrida dos Calhambeques" na qual os carros
realizavam os "pegas" e manobras arriscadas como os "cavalos de
pau".
Também na quarta-feira de Cinzas acontecia o célebre e
concorrido encontro das bandas rivais do Iate clube de Aracaju e do Cotinguiba
Esporte Clube nas proximidades da praça Inácio Barbosa.
Na atualidade, o Carnaval aracajuano acontece ao som de
trios elétricos nas manhãs de sol na praia de Atalaia e na praça dos mercados
centrais, o famoso "Clube do Povo", no qual dezenas de milhares de
pessoas dançam ao som de bandas que se apresentam no palco. Acontece também a
eleição e aclamação e do Rei Momo e da Rainha do Carnaval que recebem do
prefeito a "chave da cidade".
O Pré-Caju
Em 2002 o Pré-caju (Prévia Carnavalesca de Aracaju)
completou dez anos de existência. Ao longo desse tempo essa grande festa
carnavalesca foi se tornando cada vez mais democrática. Multidões de dezenas de
milhares de pessoas assistem os cortejos dos blocos e trios elétricos nas
avenidas de trajeto, nas arquibancadas e camarotes do "corredor da folia".
Os blocos de foliões estão cada vez mais numerosos e diversificados a exemplo
dos blocos "oficiais" que desfilam ao som do "axé music";
os blocos "alternativos"; grupo de Zé Pereira de Neópolis, com seus
clarins; "Bloco da Prevenção", formado por centenas de agentes de
saúde distribuindo camisinhas e conscientizando a população sobre o perigo das
doenças sexualmente transmissíveis e aids; bloco de idosos; blocos de crianças
e adolescentes; cortejos de grupos folclóricos do interior do estado;
"Bloco Arco-Íris" reunido homossexuais, travestis e simpatizantes, os
"Cajuranas" contando com a participação de homens fantasiados de
mulher, e o seu antônimo "as Machuranas", mulheres fantasiadas de
homens; trios elétricos com cantores e músicos sergipanos cantando e tocando
forró acompanhados por quadrilhas juninas. A "pipoca" é a parte dos
foliões que não tem acesso aos blocos, que acompanham os trios elétricos fora
dos cordões de isolamento.
Texto reproduzido do
site:usuarioweb.infonet.com.br/~sergipecultura
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 01.03.2014
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