quarta-feira, 19 de março de 2014

É a vida... ou a morte


(Justificando  a  Ausência).

É a vida... ou a morte

Tenho vindo muito pouco nestas paradas para comentar com vocês sobre a vida, principalmente a alheia, não é verdade? Agora me justifico.

Fui criado nas calçadas da noite para onde as famílias instalavam, depois do jantar, os seus melhores assentos, suas mais confortáveis cadeiras movidas da sala de estar para a fresca na calçada, onde se falava de um tudo, desde os achaques da tia incomodada com o seu inevitável caritó à virgindade da filha da vizinha, das piadas cruéis com os desafetos às invejosas menções aos conhecidos que progrediam enriquecidos com a aquisição de um novo sofá.

Sentadinho numa pequena cadeira de balanço e quase invisível, eu era todo ouvidos aprendendo os meandros da vida social e os truques da boa conversa. Desde então, venho me dando muito bem quando converso. Aqui nas redes sociais, na mesa de um bar, na fila do supermercado, na ante- sala dos poderosos cooptando intransigentes secretárias ou simplesmente em casa, agradando a uma visita com um papo que a incentive a voltar.

Mas o que eu quero é lhes dizer que ando meio ausente do Facebook, macambuzio por questões de vida ... ou morte. Diabético, senti umas chuchadas no peito do pé, um sintoma alarmante que, se não cuidado, levará à gangrena e à amputação, o que me levou imediatamente ao médico, de onde saí com uma caralhada de exames prescritos e com o susto aplacado: com certos cuidados não será grave. Só que o plácido doutor, candidamente me receitou uma picada diária de insulina, o que eu sempre temi. Coisa mais sem graça!

O bocapio de remédios que ele prescreveu chegará amanhã, quando eu terei que começar a obedecer a uma intrincada tabela, complicadíssima, com ingestões programadas meia hora antes, quinze minutos depois e durante as refeições, tarefas às quais eu tenho que me adaptar com enorme prejuízo para minha pobre cabeça que não esperava isto, tão ocupada em inventar tranquilidades cotidianas que me permitam poetar a vida a cada instante sem tantas obrigações. A partir de agora devo passar o dia fazendo contas, engolindo a pílula certa. esquecendo aquela, tomando o remédio errado, ô cabeça de vento! Já não vai mais valer a pena falar da vida alheia, a minha será sempre mais miserável.

Hoje decidi matar as latinhas que me sobram, relatando o meu miserê para vocês. Mas por favor, não me venham com emplastros, chás milagrosos, indicações médicas de comprovada eficiência ou comiserações que tais, que não me interessam. O meu médico é caro e é exclusivamente a ale que eu ouço.

Agora sim!

Amaral Cavalcante.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 12 de março de 2014.

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