(Justificando a Ausência).
É a vida... ou a morte
Tenho vindo muito pouco nestas paradas para comentar com
vocês sobre a vida, principalmente a alheia, não é verdade? Agora me justifico.
Fui criado nas calçadas da noite para onde as famílias
instalavam, depois do jantar, os seus melhores assentos, suas mais confortáveis
cadeiras movidas da sala de estar para a fresca na calçada, onde se falava de
um tudo, desde os achaques da tia incomodada com o seu inevitável caritó à
virgindade da filha da vizinha, das piadas cruéis com os desafetos às invejosas
menções aos conhecidos que progrediam enriquecidos com a aquisição de um novo
sofá.
Sentadinho numa pequena cadeira de balanço e quase
invisível, eu era todo ouvidos aprendendo os meandros da vida social e os
truques da boa conversa. Desde então, venho me dando muito bem quando converso.
Aqui nas redes sociais, na mesa de um bar, na fila do supermercado, na ante-
sala dos poderosos cooptando intransigentes secretárias ou simplesmente em
casa, agradando a uma visita com um papo que a incentive a voltar.
Mas o que eu quero é lhes dizer que ando meio ausente do
Facebook, macambuzio por questões de vida ... ou morte. Diabético, senti umas
chuchadas no peito do pé, um sintoma alarmante que, se não cuidado, levará à
gangrena e à amputação, o que me levou imediatamente ao médico, de onde saí com
uma caralhada de exames prescritos e com o susto aplacado: com certos cuidados
não será grave. Só que o plácido doutor, candidamente me receitou uma picada
diária de insulina, o que eu sempre temi. Coisa mais sem graça!
O bocapio de remédios que ele prescreveu chegará amanhã,
quando eu terei que começar a obedecer a uma intrincada tabela, complicadíssima,
com ingestões programadas meia hora antes, quinze minutos depois e durante as
refeições, tarefas às quais eu tenho que me adaptar com enorme prejuízo para
minha pobre cabeça que não esperava isto, tão ocupada em inventar
tranquilidades cotidianas que me permitam poetar a vida a cada instante sem
tantas obrigações. A partir de agora devo passar o dia fazendo contas,
engolindo a pílula certa. esquecendo aquela, tomando o remédio errado, ô cabeça
de vento! Já não vai mais valer a pena falar da vida alheia, a minha será
sempre mais miserável.
Hoje decidi matar as latinhas que me sobram, relatando o meu
miserê para vocês. Mas por favor, não me venham com emplastros, chás
milagrosos, indicações médicas de comprovada eficiência ou comiserações que
tais, que não me interessam. O meu médico é caro e é exclusivamente a ale que
eu ouço.
Agora sim!
Amaral Cavalcante.
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 12 de março de 2014.
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