sexta-feira, 21 de março de 2014

Maria Lygia Maynard Mulher - Cidadã

Foto reproduzida do site: acertenamidia.

Publicado por A Tribuna Cultural, em 20/03/2014.

Opinião :

Maria Lygia Maynard Mulher - Cidadã. 
Por José Paulino da Silva *

Para comemorar o dia internacional da Mulher, o Congresso Nacional realizará em 25 de março próximo, uma Sessão Solene, ocasião em que entregará o Diploma Mulher -Cidadã Bertha Lutz, a cinco brasileiras, entre elas, à sergipana, Maria Lygia Maynard Garcez Silva. A inspiradora deste diploma, Bertha Lutz, foi uma militante da causa feminina, nascida em São Paulo em 1894, tendo vivido no Rio de Janeiro até 1976.

Fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Bertha Lutz é uma referência quando se fala em luta pela valorização da presença feminina na sociedade. Com este diploma, instituído há alguns anos, o Congresso Nacional quer cumprir o seu papel institucional de reconhecer e destacar a importante presença das mulheres em nossa sociedade. Como sabemos o Brasil desde os primeiros períodos de sua colonização até início do século XX, sempre reservou às mulheres um lugar subalterno, apresentando um histórico de país machista. Isto acarretou conseqüências negativas, na educação, nos costumes, no mercado de trabalho, na legislação enfim, no cotidiano da sociedade. Há, portanto, neste ato do Congresso, não apenas uma dimensão simbólica para dar maior visibilidade e vlorização à mulher, mas uma atitude eminentemente educativa, sobretudo para as gerações atuais e vindouras.

Pelo que sei, embora a outorga deste Diploma seja conferida pela maior Instituição Política de nosso país, os critérios de escolha dos nomes que são homenageados nada tem a ver com coloração política/partidária e ou ideológica. É a história de vida de cada uma das escolhidas que pesa na avaliação. O senado é muito parcimonioso na escolha. Apenas cinco mulheres de todo o Brasil são selecionadas a cada ano para esta honraria.

O nome da sergipana, Maria Lygia Maynard Garcez Silva foi proposto para análise e avaliação do Senado pela Associação Integrada de Mulheres da Segurança Pública em Sergipe. Trata-se de um procedimento que obedece a normas específicas sendo os nomes submetidos aos integrantes do Conselho do Diploma Mulher - Cidadã Berta Lutz do Senado.

Quem é Lygia Maynard Poderia situar o leitor com as seguintes informações: no âmbito familiar, a homenageada é uma exemplar esposa, mãe, avó, tia e sogra cuja base de atuação é o amor, o apoio, a dedicação a todos os membros de sua família. Como funcionária pública, foi uma gestora honesta e competente. Exerceu o cargo de Procuradora Federal, vindo a ser Presidente da Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB) em Sergipe, quando atuou com justiça e firmeza, na delicada questão do controle de preços, em um dos momentos mais conturbados da economia brasileira, durante o primeiro ano do governo Sarney. É fundadora da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos de Sergipe (APADA), hoje uma ONG reconhecida de utilidade pública Federal, Estadual e Municipal, que após 22 anos de luta ininterrupta, tornou-se uma referência no Estado de Sergipe, atendendo diariamente a jovens carentes, encaminhando os mesmos para o mercado de trabalho, e cursos profissionalizantes.

Indagada como se sentia com esta homenagem, respondeu-me que não se sentia merecedora de tamanha homenagem, mas agradecia a Deus pelo pouco que pôde fazer com a vida que Ele tem lhe dado. È a partir desta sua visão de mundo e exemplo de vida que eu gostaria de acrescentar outros dados de seu currículo vitae que, no meu entender, a credencia receber este importante Diploma de Mulher Cidadã.

A construção da cidadania de um povo, é uma obra invisível na qual se costura o tecido social. Tecido este que é composto pelo entrelaçamento do misterioso fio da vida cotidiana de cada um. Se o ser humano em sua individualidade é fortalecido, valorizado, respeitado, a sociedade como um todo fica fortalecida. Se esta individualidade se esgarça, se enfraquece, se corrompe, automaticamente o todo sofre as conseqüências. A relação entre direitos e deveres e a sua concretização na vida de cada um é um dos indicadores para se reconhecer a cidadania em suas dimensões individual e social.

A homenageada é uma das pessoas cujas qualidades fortalecem e dignificam a cidadania brasileira como um todo. Autenticidade aliada ao senso de justiça é uma das marcas de sua personalidade. Estas qualidades lhe conferem um apurado amor à verdade, às coisas certas, corretas, sendo impossível sua convivência com a desonestidade, com 'mutretas', ou com o faz de conta. O jeitinho não faz parte de sua forma de agir. Por outro lado, tais qualidades não a tornaram uma pessoa misantropa, austera, ácida. Sua intransigência com as coisas erradas é movida pelo alto sentido de honestidade, zelo e amor à verdade, qualidades cujas raízes vêm do berço familiar no seio do qual foi criada. Sua refinada educação, jamais a distanciou do lado simples da vida do povo, jamais apagou seu gosto pela música, o amor aos times de sua predileção (Associação Desportiva Confiança, e Fluminense). Sua fé em Deus e suas convicções de católica apostólica romana, tem ajudado a compreender a vida como um bom combate que vale a pena combater,como lembra o apóstolo Paulo.

Se me pedissem, para resumir em uma palavra, a vida e a obra da homenageada Maria Lygia Maynard Garcez Silva, eu diria: integridade. Integridade cuja tradução melhor vou encontrar nestes versos do poeta Fernando Pessoa:

"PARA SER GRANDE, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive" .

* Doutor em Filosofia e História da Educação.

Texto reproduzido pelo site: atribunacultural.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 21 de março de 2014.

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