Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 06/08/2005.
Quatro Vozes de Aracaju.
Mais do que historiadores e intérpretes de Aracaju, José
Calasans, Mário Cabral, Fernando Porto e Lauro Fontes são personagens ilustres
da cidade, que deram contribuição de excepcional qualidade, formando um
referencial teórico que funciona como uma luz.
Quem for pro Aracaju
Me faça uma caridade
No cabelo das meninas
Ponha um ramo de saudade.
(Quadra popular).
Mais do que historiadores e intérpretes de Aracaju, José
Calasans, Mário Cabral, Fernando Porto e Lauro Fontes são personagens ilustres
da cidade, que deram contribuição de excepcional qualidade, formando um
referencial teórico que funciona como uma luz, abrindo caminho à revelação e ao
conhecimento dos fatos da vida aracajuana.
Em 1995, quando Aracaju completou 140 anos, José Calasans
abriu sua casa, na avenida Sete de Setembro, em Salvador, para receber dois
outros sergipanos que moram na capital baiana: Mário Cabral e Lauro Fontes, e
mais Fernando Porto, da mesma geração, que foi de Aracaju especialmente para o
encontro, juntamente com Luiz Antonio Barreto, Jackson da Silva Lima e Aglaé
d’Ávila Fontes.
O encontro, cheio de lembranças e evocações, gerou uma
fortuna crítica notável, tocada pelo sentimento de saudade, pelo carinho e pelo
amor dos escritores à cidade idealizada por Inácio Barbosa. Dos seus longos
depoimentos, extraiu-se o seguinte, como declaração lúdica, pessoal, íntima:
“O meu amor pela minha terra pode ser traduzido pelo que eu
tenho escrito através de toda a minha vida. Mas Aracaju é uma cidade que me
comove muito, me comove pela cidade em si, pelo traçado da cidade, pela
paisagem humanista, pela paisagem urbana. Aracaju para mim é poesia, é trecho
de céu, é farrapo de eternidade. Eu amo Aracaju.”
Mário Cabral, 91 anos, escritor nascido em Aracaju,
jornalista, advogado, membro da Academia Sergipana de Letras, residente em
Salvador desde a década de 1950, autor de uma vasta obra de poesia, de ficção e
de crítica.
“Sempre eu tenho Aracaju nas minhas evocações. Quando vou a
Aracaju, eu não vejo diferença nenhuma, porque ela está sempre eterna, dentro
de mim. Ela está viva. Sempre.”
Lauro Fontes, 91 anos, engenheiro, nascido em Laranjeiras,
residente em Salvador, onde atua com escritório técnico e onde escreve seus
textos memorialísticos tendo a vida sergipana como permanente inspiração.
“O meu primeiro trabalho histórico foi sobre a mudança da
capital, acontecimento que eu considero como o mais importante da história de
Sergipe no século passado (XIX). Sergipano ausente, menos por vocação do que
por destino, eu me sinto muito ligado a Aracaju. Gosto de rever a minha
cidade.”
José Calasans, nascido em Aracaju em 1915, historiador,
professor, ex presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe,
fundador - juntamente com Mário Cabral - da Revista de Aracaju, especialista em
Canudos, com biografia intelectual consagrada na Bahia, falecido em Salvador,
em 2003.
“A minha estima por Aracaju não nasceu como um fato
compulsório, decorrente da minha certidão de nascimento, ela nasceu da
contemplação da terra aracajuana, de uma cidade que para mim sempre estaria
sorrindo, de uma cidade em que 50% da população nós conhecíamos e os outros 50%
nós sabíamos quem era. Era uma cidade que, no meu tempo, era fraterna, o povo
não andava correndo, uns sorriam aos outros, e isto fazia como eu dissesse: a
cidade é um sorriso. Ao longo de todo esse tempo eu sempre fui catando,
adubando esta amizade, que hoje é tão grande quanto a de qualquer outro lá
tivesse nascido.”
Fernando Porto, nascido em Nossa Senhora das Dores,
engenheiro, professor, autor de livros sobre Aracaju, falecido recentemente no
interior de São Paulo, aos 94 anos. Os quatro mestres deram a Aracaju uma
contribuição essencial: nas cátedras, nas páginas dos jornais, das revistas,
nas instituições que criaram e ajudaram a transformá-las em fontes da história,
no convívio fecundo com a terra e no esforço permanente de interpretação dos
fatos sergipanos. Cada um deles deu contribuição especial:
Mário Cabral é, antes de tudo, o cronista da década de 1940,
o pesquisador do folclore infantil, o guardião crítico dos vultos eminentes de
Sergipe, como Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso e muitos outros.
Lauro Fontes, filho de Sindulfo Fontes, de uma família de grandes talentos –
José Barreto Fontes, Sindulfo Filho, e outros – levantou, com José Calasans, no
final dos anos de 1930 e início dos anos de 1940, o patrimônio histórico e
artístico, para fins de proteção e tombamento.
José Calasans, com sua tese sobre Aracaju, chamou a atenção
para a mudança da capital, e seguindo as pegadas de Clodomir Silva, mestre e
inspirador, bebeu na fonte do povo, registrando as manifestações da cultura
popular, participando, ainda, dos principais movimentos intelectuais de
Sergipe. Fernando Porto, dedicado à sala de aula da Escola Técnica Federal, da
Faculdade Católica de Filosofia e depois da Universidade Federal de Sergipe,
teve passagem no serviço público, como Prefeito de Propriá, diretor de Obras de
Aracaju, presidente da Energipe.
Mário Cabral, Lauro Fontes, que permanecem atuantes na
Bahia, vencendo as barreiras do tempo com a lucidez dos seus idéias e
compromissos, vibram, neste ano, com os 150 de Aracaju. José Calasans e
Fernando Porto, emudecidos pela morte, são estrelas que brilharão sempre, como
símbolos de luz na vastidão do conhecimento.
Fonte: "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet".
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Foto ilustração e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 12 de setembro de 2013.
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