Foto: acervo Jaime Gomes Junior
Feirinhas de Natal
Por Fernanda Cabral Guerra.
Desde que me entendo por gente, que as festas natalinas em
Aracaju eram comemoradas no Parque Teófilo Dantas, mais conhecido como o parque
da Catedral. A Prefeitura se encarregava da decoração com enfeites natalinos e
com a iluminação. O parque ficava feericamente iluminado, conferindo-lhe uma
beleza deslumbrante. Era uma beleza tão aguda, tão espantosa que emprestava uma
suntuosidade perturbadora às árvores cobertas de luzes coloridas.
Era isso que havia de admirável nas feirinhas de Natal – era
um desfile de humanidade, como se uma espécie de democracia brotasse entre as
várias classes sociais.
O que me aquecia a alma era justamente essa multidão de
pessoas, todas amontoadas, todas se encostando de leve, uma massa de corpos em
busca de calor, proximidade e refúgio uns nos outros. A multidão era formada
por pessoas de todas as raças e cores, de todas as classes sociais, tanto assim
que homens de ternos elegantes trocavam pilhérias com os menos afortunados,
homens de sapatos furados.
As famílias mais tradicionais tinham um banco com o nome da
família gravado nele. Lembro do banco da nossa família que tinha pintado nele
em letras grandes: Família Cabral. E me perguntava... E os menos afortunados,
sentam aonde?
Mas o que me encantava era a profusão de cores. Uma explosão
de verde, amarelo, vermelho, azul, lilás, rosa... Um verdadeiro arco-íris
compondo assim os matizes formados pelas lâmpadas coloridas que enfeitavam as
árvores, pelas roupas alegres das senhoras e das crianças e pelas centenas de
balões que os vendedores vendiam.
Porém, para a criançada o ponto alto dessas feirinhas era o
Carrossel de Tobias com seus cavalinhos pretos, brancos e marrons. Tobias era
um boneco negro, em tamanho natural que ficava no centro do carrossel. Usava um
chapéu, e se não me falha a memória, segurava em uma das mãos um caneco de
chopp. Quando o carrossel estava para começar sua corrida desabalada, o homem
que o manobrava apertava um botão e um apito estridente se ouvia no parque
inteiro.
Eu adorava andar nos cavalinhos brancos. Então me sentia a
própria mocinha de filme de faroeste. A minha imaginação fértil criava uma
porção de perigos e sempre aparecia um mocinho para me salvar daqueles perigos
imaginários. Que delícia era ser criança!
Por trás do carrossel, ficavam as barraquinhas de roletas,
de jogos de argolas, enfim dos jogos proibidos para a criançada, pois eram
jogos em que entrava dinheiro nas apostas.
Do outro lado da Catedral, ficava a roda gigante. Também
muito disputada pela criançada. Como era gostoso quando a roda girava e o banco
onde estava sentada ficava parado no alto. Era como se quase pudesse tocar o
céu com as mãos. As nuvens ficavam pertinho e nas nuvens me sentia como se
estivesse no colo de Deus.
Então, eu sonhava... Os sonhos são como vento, você os
sente, mas não sabe de onde eles vieram e nem para onde vão. Eles inspiram o
poeta, animam o escritor, arrebatam o estudante, abrem a inteligência do
cientista, dão ousadia ao líder. Eles nascem como flores nos terrenos da
inteligência e crescem nos vales secretos da mente humana, um lugar que poucos
exploram e compreendem.
Não posso deixar de citar o cachorro quente de “Seu” João.
Era feito de pão de sal com um molho onde entrava tudo, menos salsicha. Mesmo
assim era disputadíssimo o ano inteiro. E ele colocava por cima alface cortada
bem fininha. Nossa! Ainda lembro-me do cheiro e do gosto.
Ao terminarem os festejos natalinos, o parque voltava a ser
o que era antes: apenas uma praça com árvores. Ele despia a beleza natalina que
ficava guardada esperando por um novo Natal, onde a crença das crianças em
Papai Noel seria renovada.
Aracaju, 02 de março de 2009.
Texto reproduzido de e-mail de Fernanda Cabral.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 17 de setembro de 2013.
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