quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Feirinhas de Natal

Foto: acervo Jaime Gomes Junior

Feirinhas de Natal
Por Fernanda Cabral Guerra.

Desde que me entendo por gente, que as festas natalinas em Aracaju eram comemoradas no Parque Teófilo Dantas, mais conhecido como o parque da Catedral. A Prefeitura se encarregava da decoração com enfeites natalinos e com a iluminação. O parque ficava feericamente iluminado, conferindo-lhe uma beleza deslumbrante. Era uma beleza tão aguda, tão espantosa que emprestava uma suntuosidade perturbadora às árvores cobertas de luzes coloridas.

Era isso que havia de admirável nas feirinhas de Natal – era um desfile de humanidade, como se uma espécie de democracia brotasse entre as várias classes sociais.

O que me aquecia a alma era justamente essa multidão de pessoas, todas amontoadas, todas se encostando de leve, uma massa de corpos em busca de calor, proximidade e refúgio uns nos outros. A multidão era formada por pessoas de todas as raças e cores, de todas as classes sociais, tanto assim que homens de ternos elegantes trocavam pilhérias com os menos afortunados, homens de sapatos furados.

As famílias mais tradicionais tinham um banco com o nome da família gravado nele. Lembro do banco da nossa família que tinha pintado nele em letras grandes: Família Cabral. E me perguntava... E os menos afortunados, sentam aonde?

Mas o que me encantava era a profusão de cores. Uma explosão de verde, amarelo, vermelho, azul, lilás, rosa... Um verdadeiro arco-íris compondo assim os matizes formados pelas lâmpadas coloridas que enfeitavam as árvores, pelas roupas alegres das senhoras e das crianças e pelas centenas de balões que os vendedores vendiam.

Porém, para a criançada o ponto alto dessas feirinhas era o Carrossel de Tobias com seus cavalinhos pretos, brancos e marrons. Tobias era um boneco negro, em tamanho natural que ficava no centro do carrossel. Usava um chapéu, e se não me falha a memória, segurava em uma das mãos um caneco de chopp. Quando o carrossel estava para começar sua corrida desabalada, o homem que o manobrava apertava um botão e um apito estridente se ouvia no parque inteiro.

Eu adorava andar nos cavalinhos brancos. Então me sentia a própria mocinha de filme de faroeste. A minha imaginação fértil criava uma porção de perigos e sempre aparecia um mocinho para me salvar daqueles perigos imaginários. Que delícia era ser criança!

Por trás do carrossel, ficavam as barraquinhas de roletas, de jogos de argolas, enfim dos jogos proibidos para a criançada, pois eram jogos em que entrava dinheiro nas apostas.

Do outro lado da Catedral, ficava a roda gigante. Também muito disputada pela criançada. Como era gostoso quando a roda girava e o banco onde estava sentada ficava parado no alto. Era como se quase pudesse tocar o céu com as mãos. As nuvens ficavam pertinho e nas nuvens me sentia como se estivesse no colo de Deus.

Então, eu sonhava... Os sonhos são como vento, você os sente, mas não sabe de onde eles vieram e nem para onde vão. Eles inspiram o poeta, animam o escritor, arrebatam o estudante, abrem a inteligência do cientista, dão ousadia ao líder. Eles nascem como flores nos terrenos da inteligência e crescem nos vales secretos da mente humana, um lugar que poucos exploram e compreendem.

Não posso deixar de citar o cachorro quente de “Seu” João. Era feito de pão de sal com um molho onde entrava tudo, menos salsicha. Mesmo assim era disputadíssimo o ano inteiro. E ele colocava por cima alface cortada bem fininha. Nossa! Ainda lembro-me do cheiro e do gosto.

Ao terminarem os festejos natalinos, o parque voltava a ser o que era antes: apenas uma praça com árvores. Ele despia a beleza natalina que ficava guardada esperando por um novo Natal, onde a crença das crianças em Papai Noel seria renovada.

Aracaju, 02 de março de 2009.

Texto reproduzido de e-mail de Fernanda Cabral.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 17 de setembro de 2013.

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