Publicado originalmente no Facebook/Petrônio Gomes, em
12/02/2015.
Duas Pontes.
Por Petrônio Gomes.
Há alguns anos, pedi ao meu amigo e fotógrafo Lineu que
colhesse para mim umas imagens de pontos tradicionais da cidade. Ele teve o
cuidado de executar sua tarefa nas primeiras horas da manhã, evitando, assim, a
interrupção do tráfego e aproveitando a iluminação do alvorecer. Coisa de
artista, e Lineu era e é um artista. Dias depois, recebi em casa as fotos da
igrejinha do Santo Antônio, do velho casarão dos Rollemberg, na rua da frente,
e da Ponte do Imperador, entre outras. Guardo-as ainda comigo neste meu pequeno
gabinete de trabalho, onde estão protegidas pelo meu ciúme.
Nada poderá ser dito a respeito da Ponte do Imperador, além
do que está escrito na importante obra de Ana Maria Medina. Ali se encontra
toda a história de sua construção, dos seus vários batismos e até de suas
vicissitudes.
O que é fato é que a Ponte do Imperador ainda evoca a
própria cidade quando surge num retrato, muito tímida, sobre o último trecho do
rio preguiçoso. Quando menino, eu morria de inveja dos outros colegas corajosos
que se atiravam de sua cobertura para o gostoso mergulho no rio, sempre que a
maré alta coincidia com as tardes de domingo.
Durante os anos de minha ausência, no Rio de Janeiro, soube
que haviam montado um bar ou uma sorveteria na Ponte, não me recordo direito.
Mas todos aprovaram a ideia e a Ponte não foi diminuída com isto. Pelo
contrário, não fora mais um tributo ao seu recanto poético? Uma ponte de
brinquedo, que tinha medo de molhar os pés e que nunca levou alguém a lugar
algum...
Depois, por uma iniciativa também nascida do bem que se quer
à cidade, a Ponte chegou a ser transformada em um museu, o que não deixou,
também, de ser uma atitude louvável. Mas não se pode tirar dela o que sempre
representou, pelo menos para quem não se acanha de ter saudades.
Muitos anos mais tarde, uma segunda ponte foi inaugurada,
bem acima de onde se encontra a primeira: um assombro de empreendimento que,
por muitos meses, ocupou o tempo dos comentaristas e bisbilhoteiros de todas as
épocas. Mas toda a cidade engoliu em seco, quando a esteira de luzes riscou a
superfície do rio, abrindo um novo capítulo na história da cidade e do nosso
Estado.
Ao contrário da Ponte do Imperador, construída para receber
o Monarca e sua real comitiva, esta segunda ponte foi feita para mostrar ao Brasil
que nosso pequenino Estado sabe o que quer e possui competência e tenacidade
para consegui-lo.
Não vai muito distante o tempo em que a simples procedência
nortista de alguém era considerada entre risos, levada no deboche. E ainda hoje
não é muito raro encontrar-se uma pessoa no sul que ignore completamente as
noções mais elementares de nossa geografia. Já fui perguntado, certa vez, se
Sergipe ficava no Ceará...
Dentro de poucos anos, quando cessarem as marolas das
paixões, a nova e bela ponte entrará tranquilamente nos anais dos grandes
empreendimentos do Estado. Do alto de sua inegável imponência, ela estará,
desde agora, a acompanhar a marcha do nosso progresso, enchendo nossos corações
de justo orgulho.
Texto e fotos reproduzidos do Facebook/Petrônio Gomes.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 12 de março de 2015.
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