Elóida Ferraz.
Helena Abud.
Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 05/08/2011.
Duas Mulheres, Duas Artistas.
Por Luíz Antônio Barreto.
Sergipe, que deu ao Brasil algumas gerações de intelectuais,
médicos, militares, bacharéis e juristas, filósofos e artistas, também é pátria
de mulheres ativas, que conquistaram espaços generosos com seus fazeres e
pensares, suas criações e suas participações na militância possível da
sociedade. Etelvina Amália de Siqueira, professora da Escola Normal,
jornalista, poeta, engajou-se na campanha abolicionista, integrando a Sociedade
Libertadora Sergipana, liderada por Francisco José Alves, participou da Hora
Literária, que antecedeu a Academia Sergipana de Letras, escreveu e publicou
poemas e livros, podendo ser, simbolicamente, a representante feminina no
século XIX e primeiras décadas do século XX, sem demérito de outras tantas
mulheres engajadas nas lutas culturais, como Ítala de Oliveira, médica, Maria
Rita Soares, magistrada, Quintina Diniz, professora, Deputada Estadual
Constituinte, em 1935. Outros nomes, apanhados na prática dos seus fazeres por
Lígia Pina ( A Mulher na História), podem ser referenciados nas pessoas de
Ofenísia Soares Freire, de Estancia, e Maria Thetis Nunes, de Aracaju, vocacionadas
para o magistério e para as lides culturais, ambas da Academia Sergipana de
Letras, ambas falecidas.
Duas mulheres nascidas em Aracaju – HELENA ABUD e ELÓIDA
FERRAZ – atuaram no Rio de Janeiro e construíram suas biografias com o selo do
trabalho intelectual e da fibra inquebrantável, levada de Sergipe para ganhar o
mundo com suas artes. Além de bem sucedidas na arte musical, elas cumpriram
outros caminhos e construíram biografias que merecem o destaque do
reconhecimento, como a imposição justa das homenagens de que são credoras.
HELENA ABUD, de família de comerciantes estrangeiros, cursou
a Escola Normal de Aracaju e antes mesmo de concluir o curso liderou uma
campanha pela criação do Jardim de Infância, levando ao Interventor Augusto
Maynard, além da idéia, um montante de dinheiro, arrecadado de subscrições
voluntárias, produto do esforço de algumas normalistas, empolgadas com a idéia
de uma casa de ensino para as crianças menores de 6 anos. O resultado foi a
instalação, em prédio especialmente construído segundo projeto de engenharia,
que levava em conta preceitos pedagógicos, assinado pelo engenheiro Leandro
Maciel, que mais tarde faria carreira política e governaria o Estado.
Além de ver sua idéia vitoriosa, HELENA ABUD ajudou no
funcionamento do Jardim, como professora, com seu piano e seu talento. O piano
foi instrumento comum nas casas de família e era vendido em casas comerciais,
ensinado por vários mestres, como José Sanz, e HELENA ABUD se tornou exímia
pianista e abriu curso de piano em Aracaju. Depois foi para o Rio de Janeiro,
casou, em 1942, com o maestro Lorenzo Fernandes, que tinha sido seu professor
no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, dirigido por Villa- Lobos
passando a assinar HELENA LORENZO FERNANDES, e tornando-se valorizada como
solista de muitos concertos, sendo designada Embaixadora da Música brasileira
nas Américas. Nos anos de vida conjugal, até 1948 quando perdeu o marido, o
piano e a sensibilidade de HELENA ABUD ganharam destaque no Brasil e muitos
países do mundo. Autora de vários trabalhos, traça o itinerário de sua carreira
artística em Caminhos por onde andei (Rio de Janeiro: Gráfica Vitória, 1985).
HELENA ABUD morreu no Rio de Janeiro.
ELÓDIA FERRAZ, nascida em Aracaju, cresceu no Rio de Janeiro
e tornou-se, desde muito cedo, aluna de piano, canto, harmonia e contraponto,
regência e composição, dos quais serviram em sua carreira Filha de Lizipo
Ferraz, neta de José Augusto Ferraz e sobrinha do grande empresário e
benemérito Thales Ferraz, célebre Diretor da Fábrica Sergipe Industrial.
Artista plástica premiada em várias exposições, mantém-se, ainda, em atividade,
conciliando o canto lírico e as artes plásticas. A idade não tem impedido a sua
participação em exposições nacionais e no exterior, onde dá mostra do seu
reconhecido talento artístico.
Além do canto lírico e das artes plásticas ELÓDIA FERRAZ faz
poesias, escreve livros, como Testemunhos do Inconsciente, Encontro e
Sublimação e Saltérius da Lua Nova. Em 2010 publicou O Som nos Domínios Físicos
e Extrafísicos (Rio de Janeiro: CCAA Editora), o que atesta a sua vitalidade e
o seu compromisso com a arte musical e a cultura brasileira. Apesar do peso do
tempo, ELÓIDA FERRAZ, que passou a assinar-se ELÓIDA FERRAZ MACEDO, em razão do
casamento, evoca Aracaju e sua família, como patrimônios que conserva
carinhosamente, juntando papéis, recortes de jornais e organizando uma
informação sobre os FERRAZ, principalmente o tio Thales Ferraz, falecido no já
distante 1927.
Texto e imagens reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de março de 2015.
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