Foto da família, vendo-se Silvio Leite pai de Leite Neto, que está sentado,
de chapéu de palhinha e Francisco Leite, pai de Júlio Leite,
que está de chapéu de palhinha, em pé.
O garoto é Armando Rollemberg.
Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 02/10/2004.
"O Chefe Invisível".
Por Luíz Antônio Barreto.
A figura do senador Júlio César Leite serviu a que o seu
neto, advogado e jornalista Ricardo Leite revistasse os álbuns de família e as
páginas da história, construindo uma biografia política, sublinhada pela
admiração, a começar pelo título do livro: Júlio Leite, o chefe invisível
(Aracaju: Instituto Tancredo Neves/Banese, 2004). É um livro sincero, algumas
vezes apaixonado, que ocupa lugar destacado na história política e republicana
de Sergipe, revelando o seu autor como um pesquisador consciente do objeto de
suas pesquisas.
Poucos são os personagens sergipanos que têm biógrafos.
Homens como os generais Manuel Priscialino de Oliveira Valadão, José de
Siqueira Menezes, José Joaquim Pereira Lobo, José Calasans, Augusto Maynard Gomes,
como os médicos Felisbelo Freire, Rodrigues Dória, os bacharéis como Martinho
Garcez, Ciro de Azevedo, que tiveram papéis destacados na política e na
administração pública do Estado, são personagens que estão a espera de quem
possa biografá-los, no contexto dos cenários de suas épocas.
Os políticos, em sua grande maioria, passam nas páginas dos
livros com citações, mesmo porque são poucos os autores que trabalham com a
análise dos fatos, com a compreensão do fenômeno político. Os livros de Ibarê
Dantas são praticamente únicos e cobrem décadas importantes, nas quais surgiram
movimentos, como é exemplo a década de 1920 com as revoltas tenentistas. O
último livro de Ibarê Dantas historia a República, detalhando o itinerário
prático decorrente dos ideais republicanos, passando em revista as
administrações, abarcando longo período, chegando a resenhar a dupla gestão do
governador Albano Franco, o que dá precisa atualidade ao livro recentemente
lançado.
Ricardo Leite cumpre, então, um papel de historiador ao
focar suas pesquisas e análises no senador Júlio Leite (1896-1990), bacharel
pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, com curso na Escola Superior
de Guerra, Delegado, Chefe de Polícia, Inspetor Escolar, Secretário – Geral do
Estado de Sergipe, banqueiro do Banco Mercantil Sergipense,( casa fundada em
1924, tendo como companheiros o Coronel Gonçalo Rollemberg do Prado, seu sogro,
e Moacir Rabelo Leite) , industrial da Fábrica Santa Cruz, (de propriedade da
Companhia Industrial de Estância, fundada pelo comendador João de Souza
Sobrinho, e mais tarde adquirida pelo coronel Gonçalo Rollemberg do Prado) e,
ainda, da Fábrica Senhor do Bonfim, (de propriedade da Empresa Industrial
Estanciana, que organizou com Constâncio Vieira, que também possuía as fazendas
Limeira e Peripery, onde criavam gado Zebu, e as fábricas de descaroçar algodão
Modelo e Sulina, respectivamente em Riachão e em Boquim), integrante do Partido
Republicano, organizado em 1945, quando da redemocratização do País, e que em
Sergipe foi herdeiro da velha União Republicana, liderada pelo médico Augusto
Leite, irmão do biografado.
Discreto, qualidade presente na família, a ponto de ser tido
como “invisível” em suas articulações, Júlio Leite dedicou-se às atividades
empresariais, parecendo deixar a participação política eleitoral em segundo
plano. Candidato a senador em 1950 ganhou o mandato em disputa, com 42.832
votos, derrotando Augusto Maynard Gomes que obteve 38.258 votos. Cumpridos 8
anos, voltou a disputar a cadeira de senador, em 1958, perdendo-a para
Heribaldo Vieira, da UDN, por pouco mais de 3 mil votos. Na eleição seguinte,
em 1962, conquista novo mandato para o Senado, tendo a outra vaga ocupada pelo
seu sobrinho Leite Neto.
Nos 16 anos que passou no Senado Federal Júlio Leite soube
ser um bom representante do Estado, muito embora sua imagem estivesse sempre
associada as articulações políticas, onde parecia estar mais à vontade para
exercer seu papel de líder, que dividiu com Armando Rollemberg e com outras
lideranças setoriais do Partido Republicano. Ricardo Leite selecionou discursos
do segundo mandato, deixando de listar os temas tratados entre 1951 e 1959,
fase de efervescência política, que cobre o fim da Era Vargas e o Governo de
Planos e Metas do presidente Juscelino.
Muito justamente, o autor destaca a presença de Júlio Leite
na Estância, dirigindo a Fábrica de Tecidos e concorrendo com sua visão social
para a harmonia entre o capital e o trabalho, certamente influenciado pelas
ações vanguardistas do Dr. Thales Ferraz, ao dirigir a Fábrica Sergipe
Industrial, a primeira de Sergipe, de propriedade da família Cruz, instalada em
Aracaju. Ainda hoje é possível verificar os equipamentos sociais, desportivos e
culturais das Fábricas Santa Cruz e Senhor do Bonfim.
Igrejas, residências para os funcionários graduados e vilas
operárias, gabinete dentário, Salão de Diversões, Teatro e Centro Recreativo
fazem lembrar o Parque Sergipe Industrial, montado em 1913, pela visão de
Thales Ferraz, o mais completo complexo de lazer que já teve a capital
sergipana, ponto de atração de famílias inteiras e de jovens aracajuanos,
ávidos por diversão. Thales Ferraz, que não foi político, é um personagem a
espera de um biógrafo, não somente pelo Parque, mas pelas revolucionárias
atitudes sociais.
Júlio Leite, o chefe invisível de Ricardo Leite é um
tributo, pessoal e familiar, a um político que influiu na história de Sergipe,
muito especialmente nas décadas que exerceu mandatos como representante do
Estado no Senado Federal. Sua família, toda ela de sensibilidade política,
revelou os filhos Augusto, executivo de fino trato e competência, Fernando, que
foi deputado estadual pelo PR, de 1963 a 1967 e suplente de deputado federal,
na eleição de 1966, e que na condição de presidente da Assembléia Legislativa
assumiu o Governo do Estado, na ausência do governador Celso de Carvalho, que
governava desde a deposição e prisão do governador Seixas Dória. A terceira
geração vai bem na política, como é o caso de Otávio Leite, virtual vice
prefeito da cidade do Rio de Janeiro, depois de ser vereador e deputado
estadual na Cidade Maravilhosa, honrando a biografia do avô.
Bem ilustrado, reproduzindo alguns documentos, o livro de
Ricardo Leite pode figurar na estante sergipana de história como uma
contribuição significativa de resgate de um personagem e uma época.
Texto e fotos reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet".
institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 5 de novembro de 2014.
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