Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 02/12/2006.
Homenagem a Pinduca
Por Luíz Antônio Barreto.
Desde o ano passado, quando sugeri ao prefeito Marcelo Deda
uma Medalha comemorativa dos 150 anos Aracaju ao maestro Luiz D’Anunciação, ou
apenas Pinduca, músico que tem parte de sua vida ligada, com intimidade, à
história do rádio e dos clubes aracajuanos, que a eficiente responsável pelo
Cerimonial da Prefeitura anunciou que a honraria seria outorgada. O tempo
passou, e com ele a festa da cidade, e Pinduca não foi agraciado. Agora, a
Sociedade Filarmônica de Sergipe fez o resgate justo e, na modéstia das suas
possibilidades, prestou a homenagem da entrega de uma placa, significando o
apreço, o reconhecimento, a admiração da parte da cidade que a SOFISE
representa, músicos, cantores, maestros, e outros artistas, ao grande músico.
Luiz D’Anunciação nasceu em Própria, em 1928 e desde menino
aprendeu a tocar com o seu pai, na banda local. Aos 8 anos tocava piano e
assombrava os ouvintes, sendo trazido para Aracaju e mostrado, com sua
precocidade, como um artista talentoso e de futuro. Cresceu com a música e
formou, ao lado de jovens de sua idade para mais velhos, grupos musicais que
marcaram época na capital sergipana. Murilo Mellins, seu primo e contemporâneo,
brilhante memorialista de Aracaju, encarregado pela professora Olga Andrade,
dirigente da SOFISE, percorreu as ruas do passado, cassinos, clubes, reuniões,
farras, festas, tudo enfim que emoldurava a vida da cidade. Pinduca, com sua
Rádio Orquestra, esteve no centro dessa geração que ganhou notoriedade com a
instalação, pelo Governo estadual, da Rádio Difusora ( hoje Aperipê), instalada
inicialmente no Palácio do Governo, para servir de comunicação ao DEIP –
Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda – instrumento do Estado Novo, e
depois, em prédio compartilhado com o Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe.
Tempos bons, de Alberto Horácio Bissextino de Carvalho
Teles, simplesmente Bissextino, baterista, cantor, nascido em 29 de fevereiro
de 1924, que também foi Escrivão, já falecico; Urcino Fontes de Araújo Góis, o
Carnera, nascido em Boquim, em 26 de julho de 1920, reinventor do modo de tocar
violão, vida longa, morto há pouco tempo; Cláudio Silva, nascido em Riachuelo,
em 30 de outubro de 1903, era o mais velho do Grupo e tinha a família, a
começar por Wolney Oliveira Silva, que nasceu em 15 de abril de 1932, foi
locutor da Voz da América, emprestou sua voz a eventos especiais no Rio de
Janeiro e morreu, de repente, no trânsito carioca, deixando mais dois irmãos
ligados ao rádio: José Romário e Paulo Silva; Oscar Pessoa dos Santos, o “Seu”
Oscar, pandeirista, diretor de Escola de Samba, presença freqüente nos
auditórios das rádios sergipanas, vítima de preconceito, porque apresentado
como “o pretinho da alma branca. “Seu” Oscar era, também, de Riachuelo, e
nasceu em 21 de fevereiro de 1914. Outros nomes surgiram: João Melo, o cantor
máximo de Sergipe, criado em Boquim, José Santos Mendonça, Arnulfo Santos
Santana, José Ribeiro, com o pseudônimo de Sodré Júnior, de uma família de
radialistas e radiologistas, Nelson Souza, que nasceu na Bahia e fez rádio e
política em Sergipe, Alfredo Gomes, e muitos e muitos outros, que trafegaram
nos mesmos espaços, e reuniram o que de melhor Sergipe produzia naquele tempo,
e que digam Carvalhal, José Moreira, e o próprio Pinduca.
Mais do que um músico de múltiplas faces, capaz de sair da
Bahia, onde fazia sucesso, para comprar um instrumento usado, em Aracaju – um
Vibrafone -, enfrentando a má vontade de Augusto Luz, arrendatário da Rádio
Difusora, Pinduca estudou, buscou aperfeiçoar-se, no País e no exterior,
exercendo longo tempo de maestria em orquestras nacionais, estúdios de
gravação, programas de rádio e de televisão, construindo uma biografia de
sucesso, desdobrada, nas últimas décadas, em estudos e publicações que revelam
as qualidades e as singularidades dos instrumentos populares, de percussão,
identificando os sotaques diferenciados, que têm maravilhado os ouvidos do
mundo.
O Pandeiro e o Berimbau, dentre outros, são os instrumentos
que o maestro Pinduca estuda, como atesta o seu mais novo livro – Os
instrumentos típicos brasileiros na Obra de Villa-Lobos (Rio de Janeiro:
Academia Brasileira de Música, 2006), edição bilíngüe, português-francês,
acompanhada de um CD do músico, com o mesmo título.
Na sua vinda a Sergipe, para receber a homenagem da SOFISE,
o maestro Pinduca apresentou seu novo livro, encontrou velhos amigos, e ficou
feliz pelas horas que a festa permitiu evocar do passado, povoadas por muitas
lembranças.
Texto e foto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 16 de novembro de 2014.
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