Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 10/12/2010.
João Ribeiro, um sábio completa 150 anos
Por Luíz Antônio barreto.
Nascido do útero de Laranjeiras, no dia 24 de junho de 1860,
JOÃO RIBEIRO de Andrade Fernandes, conhecido em todo o Brasil como João
Ribeiro, mestre da língua, da história e do folclore, foi um dos mais ilustres
filhos de Sergipe, formando ao lado dos grandes como Tobias Barreto, Silvio
Romero, Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, Felisbelo Freire, Laudelino Freire,
Jackson de Figueiredo, Justiniano de Melo e Silva, Manoel Bonfim, e outros que
elevaram a terra sergipana a ser reconhecida como “pátria de filósofos.”
Sergipe foi, na segunda metade do século XIX, também, “pátria de poetas”,
“pátria de juristas”, numa consagração que se fez o maior dos bens que a terra
pode ter.
João Ribeiro não fez o caminho recifense dos demais, na sua
formação de professor e de bacharel em Direito. Sua convivência maior foi com o
Rio de Janeiro, bacharelando-se em 1894, na Faculdade Livre de Direito,onde
Silvio Romero foi professor. Alternando atividades na cátedra e nos jornais,
João Ribeiro produziu uma vasta obra, que se tornou referência essencial aos
estudos da história, da filologia e do folclore, sempre mantendo a categoria de
mestre, que o tempo foi tornando sábio. Em 1895 foi para a Alemanha, estudando
as novas teorias em discussão sobre o folclore. Iniciou uma série de
publicações, em jornais, vulgarizando a ciência, que então mudava a compreensão
do mundo e da vida. E com suas Cartas, mandadas da Alemanha, fez estudos de
literatura comparada, lamentavelmente sem convertê-los em livro.
Sobre o Folclore, João Ribeiro deu um Curso na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro, em 1913, dando suporte científico às pesquisas
pioneiras de Silvio Romero e de outros coletores das coisas do povo. Valendo-se
das teorias alemãs, do folclore étnico, fazendo a exegese dos autores
solaristas, o curso dedo foi publicado nos Anais da BN e, em 1919, com alguns
poucos acréscimos foi editado pela casa impressora de Jacinto Ribeiro dos
Santos. Mesmo vivendo 15 anos após a edição de O Folclore, João Ribeiro não
conseguiu complementar seu texto, com anotações importantes, que ficaram de
fora da edição de 1919. Somente em 1963, graças as iniciativas de Edson
Carneiro, Joaquim Ribeiro (intelectual, filho e curador da obra de João
Ribeiro, foi pensada a reedição, que esbarrou no patrulhamento feito pelos
militares que tomaram o Poder. Anos depois, quando a Campanha de Defesa do
Folclore Brasileiro era dirigida pelo diplomata e folclorista Renato Almeida,
contando com a colaboração de Vicente Sales, o livro saiu, em co-edição com a
Organização Simões Editora.
O Brasil das universidades e centros de pesquisas e estudos
passou a contar com um livro bem ordenado e fundamentado, atualizado, e que
servia de roteiro interpretativo da cultura popular brasileira, fundamental
como estudo da psicologia coletiva. O Folclore de João Ribeiro é, hoje, um
livro raro, inacessível ao grande público interessado, de todo o País. É
importante registrar que Sergipe é berço de Silvio Romero, que iniciou as
coletas folclóricas do Brasil, em parte interpretadas pelo sergipano João
Ribeiro e,posteriormente, por Clodomir Silva, José Calasans, Mário Cabral, e
mais recentemente, por Jackson da Silva Lima. No campo do estudo da língua
portuguesa no Brasil, os lvros de João Ribeiro serviram de teoria aos cursos
médios e universitários, e o mesmo se pode dizer dos estudos de história.
João Ribeiro escreveu, com seu patrício e amigo Silvio
Romero, o Compêndio da História da Literatura Brasileira, editado em 1906,
reeditado em 2001, pela Editora IMAGO, do Rio de Janeiro. A edição coincidiu
com as homenagens prestadas a Romero, quando o Brasil celebrava os seus 150
anos de nascimento. O Sesquicentenário de João Ribeiro não teve,
lamentavelmente, a repercussão merecida. Suas obras raream nos sebos, embora o
saber que nelas circula é um doas capítulos mais relevantes da cultura
brasileira. Dois eventos, talvez apenas estes – uma conferência no Palácio
Museu Olimpio Campos e um Seminário na UNIT, bem coordenado pelo professor
Antonio Bitencourt – “salvaram a Pátria”, rompendo com o silêncio constrangedor
da indiferença.
Sábio, autor de grande obra, João Ribeiro tem um enorme
crédito em Sergipe e precisa ser quitado, principalmente junto a massa
estudantil, onde sua magnífica obra é referência sem precedentes na cultura
brasileira.
Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 27 de outubro de 2014.
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