Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 27/02/2009.
Volta Seca, o Cangaceiro (sergipano) de Lampeão.
Por Luíz Antônio Barreto.
São desencontradas as informações sobre Volta Seca, cangaceiro
sergipano e um dos mais conhecidos e destacados cabras do bando de Lampeão. Em
29 de abril de 1929, quando assistiu missa em Poço Redondo, com seus “rapazes,”
o próprio Virgulino Ferreira da Silva entrega ao padre Artur Passos, então
vigário de Porto da Folha, uma folha de papel pautado, escrita a lápis, com os
nomes, os apelidos e as idades dos integrantes do seu grupo de dez cangaceiros.
No precioso papel, que é documento daquela que pode ser
considerada a primeira entrada de Lampeão em Sergipe, o último a ser citado,
com o nome de Antonio Alves de Souza, e a idade de 18 anos, com a observação
“menino,”, e tem o apelido de Volta Seca.
Preso no início de 1932 e levado para a Casa de Detenção da
Bahia, Volta Seca foi procurado por alguns sergipanos interessados em recolher
informações sobre o cangaço no Nordeste e sua presença em Sergipe. Joel
Macieira Aguiar, representando o Jornal de Notícias, acompanhado de Hernani
Prata e de João Prado, estudantes de Direito na Bahia, encontrou Volta Seca
tocando realejo, entrevistando-o, em começo de abril de 1932, fixando estes
dados pessoais: sergipano, nascido no Saco Torto, povoado de Itabaiana, filho
de Manoel Santos, que trabalhou no Engenho Contadouro, de propriedade de
Antonio Franco, freqüentou o Engenho Central, onde trabalhava Antonio de
Engraça, conheceu Aracaju, e conheceu bem sua terra, Itabaiana, e Malhador.
Volta Seca declarou, ainda, que entrou para o cangaço com 12 anos, a convite do
próprio Lampeão, em Gisolo, no sertão da Bahia.
12 anos depois, em março de 1944, Joel Silveira, já um
jornalista importante no Rio de Janeiro, viaja a Salvador, e na Penitenciária
da Bahia entrevista Volta Seca e outros cangaceiros presos, como Ângelo Roque,
Deus Te Guie, Caracol, Saracura, Cacheado. Joel Silveira anota o nascimento de
Volta Seca em Itabaiana e diz que ele entrou no cangaço com 14 anos. Um
documentário sonoro, feito na década de 1950, gravado em 1957, narrado por
Paulo Roberto, locutor da Rádio Nacional, afirma que Volta Seca tinha o nome de
batismo de Antonio dos Santos, e que entrara para o cangaço com apenas 11 anos.
A Todamérica grava o documentário comercialmente, apresentando Volta Seca como
compositor e intérprete de diversas músicas que estão ligadas ao ciclo dos
cangaceiros, como: Se eu soubesse; Sabino e Lampeão; Mulher Rendeira; Acorda
Maria Bonita e outras.
Há, portanto, divergência de nome, idade e data de entrada
de Volta Seca no grupo de Lampeão.
Considerado valente, tendo brigado com o próprio chefe,
Volta Seca não mereceu elogios do padre Artur Passos, no encontro de Peço
Redondo em 1929. O padre, que demonstrou simpatia com Moderno (Virgínio
Fortunato, cunhado de Lampeão) e com o próprio Virgulino, não gostou de Volta
Seca, e sobre eles diz: “Não têm, inclusive Lampeão, cara repelente, como
imaginamos nos bandidos em geral, devendo frisar, porém, o olhar especial de um
deles, o fedelho de 16 a 18 anos, que os acompanha.”
No contato com Joel Silveira, Volta Seca, sob o testemunho
de antigos companheiros, reafirmou sua coragem, disposição, e narrou episódio
de uma briga com o chefe, em 1931, por causa de um socorro dado a Bananeira,
ferido em combate. Lampeão achava que o atraso poderia ocasionar problemas
sérios, de confrontos com a polícia, enquanto Volta Seca agia solidariamente,
sem querer deixar para trás o companheiro atingido por tiros. O ambiente ficou
tenso, e por pouco os dois cangaceiros não se enfrentaram. A fama de valentia,
contudo, ampliou-se dentro e fora do grupo, apesar de Volta Seca ganhar,
também, uma imagem lúdica, de compositor e de cantor, responsável por salvar
parte do repertório dos grupos de cangaceiros. O disco da Todamérica é um bom
exemplo, e foi reproduzido, em parte, décadas depois, por um álbum, long-play,
dos Estúdios Eldorado, de São Paulo, com o título de A Música do Cangaço. Nele,
além das canções atribuídas e cantadas por Volta Seca, já citadas, figuram
artistas como Luiz Gonzaga, Sérgio Ricardo, Teca Calasans e Antonio Carlos
Nóbrega.
Além de tocar realejo, compor e cantar, Volta Seca foi
submetido, na prisão, ao trabalho forçado de fazer flores e outras artesanias,
predominantemente feitas por mulheres. Ele não se abateu, casado, pai de um
filho, ele esperava cumprir sua pena de 20 anos, para deixar a prisão e
recomeçar a vida. E o fez pela música, ainda hoje uma referência, tomada por
empréstimo por Luiz Gonzaga e por outros artistas nordestinos, que concorreram
para fixar uma estética do cangaço, da qual Frederico Pernambucano de Mello é
especialista.
Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 27 de outubro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário