Publicado originalmente no Facebook/Petrônio Gomes, em
16/10/2014.
Calçadas.
Por Petrônio Gomes.
"Calçadas são pisos revestidos em torno de casas,
edifícios, ou, simplesmente, sobre ruas e avenidas de uma cidade.”
De posse desta valiosa informação do dicionário, podemos
agora comparar as diversas superfícies do solo em que pisamos na cidade de
Aracaju. Chegaremos à conclusão de que as verdadeiras calçadas de nossa capital
são raríssimas, pelo menos as que podem responder à definição oficial. Vejamos:
Em primeiro lugar, o revestimento pode ser escolhido,
segundo a ideia de qualquer proprietário ou inquilino do imóvel. Existem os
pisos brilhantes, espelhados, geralmente colocados à frente de lojas, cujos
artigos ameaçam perder o brilho, se não forem logo adquiridos. Esses
revestimentos são um perigo para os representantes da terceira idade, uma vez
que os seus esqueletos já não possuem a mesma resistência de outros carnavais.
As quedas espetaculares dos velhos sempre terminam de modo dramático. E quando
um deles se levanta, sorridente, depois de um tombo, é quase certo que o riso
também não seja normal...
As "calçadas desdentadas" são aquelas que ficam à
entrada dos imóveis alugados a preços já defasados. Nem o dono as conserta por
não ter dinheiro, nem o inquilino se dá ao trabalho de fazê-lo, por não ser o
dono. Constituem também outro perigo para todos os transeuntes.
Há também as "calçadas interrompidas", isto é,
quebradas ao meio para o declive da entrada do automóvel. Cada interrupção é
motivo para uma “topada”, mas como a maioria dos passantes usa tênis, ninguém
escuta o barulho. Além do mais, a queda é silenciosa, discreta.
Não é aconselhável usar a rua para se colocar material de
construção a ser utilizado. Por isso, os proprietários costumam despejar o
cimento e a areia grossa sobre as calçadas. O processamento da massa de
alvenaria é também feito no mesmo local. O sol cálido do verão em Aracaju
transforma em montículos de pedra o resto do cimento que não foi usado. Temos, então,
a "calçada ondulante", pronta para outro tipo especial de quedas, as
que exigem um espaço maior para maltratar o descuidado...
As raízes das árvores, por sua vez, levantam as pedras dos
alicerces do passeio e se esparramam à luz do sol, contribuindo para ilustrar a
paisagem. São as "calçadas vivas".
Houve uma Administração Municipal que se preocupou com os
deficientes físicos em Aracaju. Contratou uma empresa para instalar rampas na
cidade, em todas as calçadas. Por elas, as cadeiras de rodas poderiam trafegar
com mais segurança. A medida foi elogiável, sem dúvida alguma. Entretanto, a
firma contratada para o serviço encheu a cidade de rampas, inclusive em locais
perigosos, onde ninguém se atreve a passar em pleno gozo de saúde de ambas as
pernas, quanto mais sobre uma cadeira de rodas! Ainda hoje podemos vê-las, às
vezes duas em uma só calçada, dando a impressão de que Aracaju é a cidade que
possui maior número de deficientes físicos na América do Sul. Foram as
"calçadas hospitalares".
Mas não devemos desanimar. Em uma bela e radiosa manhã,
surgirá uma ideia luminosa na mente de um vereador predestinado pela História.
Ele descobrirá a possibilidade de fazer com que as calçadas sejam construídas
em obediência a um plano racional, isto é, que possam cumprir o seu papel de
calçadas. Bastaria a esse parlamentar que visse no dicionário a definição
singela de uma calçada normal.
Afinal, não se pedem tantos absurdos ao povo em nome de
tanta coisa sem sentido? Não se votam outros nomes para as mesmas ruas, pelo
simples fato de não se lembrarem do que deveriam fazer?
Sem dúvida que esse vereador extra-terrestre teria que
implorar aos seus pares uma votação, sob regime de urgência urgentíssima, pois
todos os seus colegas haveriam de invejar-lhe a fortuna de haver descoberto a
pólvora...
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Fan Page/Petrônio
Gomes.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de outubro de 2014.
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