Publicado originalmente na página do Facebook/Petrônio
Gomes.
Relíquia ao Lixo.
Por Petrônio Gomes.
Lembro-me, com tristeza, dos últimos anos de agonia da
Associação Atlética de Sergipe: o grande salão de festas destruído pelos
vândalos, suas paredes em ruínas, os velhos e queridos locais de todas as
alegrias da juventude de outrora transformados em pontos lúgubres de abandono.
Não consigo recompor as cenas que outros tempos nos legaram, quando tento
remover pelo pensamento esses escombros.
Era a princesa da rua Vila Cristina, uma edificação até
modesta diante do que verdadeiramente significava para as gerações sucessivas
de associados. A sacada do pavimento superior, de onde os namorados vinham
contemplar a rua, nos intervalos de cada festa, tinha menor altura do que a de
qualquer apartamento do primeiro andar dos edifícios fronteiros, erguidos muito
depois dela. Atravessou todas as fases que a nossa música popular manifestou
através dos seus ídolos, muitos deles acolhidos com orgulho pela Associação.
Lembro-me de um dos seus presidentes, o Dr. Alberto
Bragança, que era também uma das figuras ilustres de nossa sociedade, cuja
memória está indissoluvelmente ligada à glória da Escola de Química de então.
Ele tinha a Associação como um prolongamento do seu próprio lar, e ninguém se
achava com direito de interrogar suas decisões a respeito do clube. Diriam hoje
os liberalistas de plantão que ele era um “ditador”, mas eu refutaria, em sua
defesa, que somente aqueles que amam podem ser severos e também queridos.
Cheguei a entrar para o seu elenco de associados, mas isto
só aconteceu muitos anos depois, quando do meu regresso a Aracaju, por desejar
abrir uma nova opção de recreio para os filhos adolescentes. A piscina, as
quadras esportivas, o ambiente sempre alegre, o restaurante que não tinha
portas, com suas mesas espalhadas a esmo, tudo era um convite permanente aos
bons momentos que enfeitiçam as mentes dos jovens e dos adultos.
É verdade que Aracaju era outra cidade, como é verdade que
envelhecemos talvez mais do que a Atlética. Nosso estado de espírito de agora
não pode ser medido senão com o compasso impiedoso do relógio. Não é verdade
que achamos graça hoje do que antes aplaudíamos? Assim como as canções que nos
irmanavam, fomos aos poucos guardando essas lembranças naquele recanto sagrado,
para mostrá-las apenas aos visitantes que solfejaram as mesmas notas.
Não é ocioso repetir: Aracaju era outra cidade. Eram outros
os desejos dos moços, também outras as oportunidades. Tinha-se mais tempo para
tudo, porque o tudo era muito menos do que agora se pretende. Quem duvidar,
compare as melodias das músicas de agora com as daquela época, as letras das
músicas e até o modo de dançar. Tanto se acha graça na maneira de dançar de
outrora como se acha ridículo o modo atual para quem conheceu. O que mudou,
então?
Nossa maneira de ver o mundo, nosso critério. O mesmo que
está nos levando a depreciar o que deveríamos conservar, assim como reservamos
as salas nos museus para mostrar às gerações futuras como éramos.
Aracaju está jogando fora suas relíquias, atirando-as no
lixo do descaso. Um a um nossos cartões postais estão sendo rasgados
impiedosamente e jogados na cesta dos papéis imprestáveis. Fica-se esperando
pelo dinheiro que poderá chegar com qualquer “tombamento” oficial e deixar a
responsabilidade com o poder federal. Mania velha dos governantes de todos os
tempos.
Restou-nos apenas, dizer também adeus à Associação Atlética
de Sergipe, uma agremiação que nada teve a ver com atletismo, mas que foi a
alegria de várias gerações...
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Petrônio Gomes.
(imagem: sergipeemfotos.blogspot.com.br).
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 4 de outubro de 2014.
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