As Três Cores da Saudade *
Por Lilian Rocha.
Verde, vermelho e branco. Eram essas as cores da Associação
Atlética, um dos maiores clubes de Aracaju nos meus tempos de menina. Ficava na
rua Vila Cristina, entre a praça Camerino e a Rua Senador Rollemberg. Além da
Associação Atlética, outros clubes também disputavam as atenções dos
aracajuanos, como por exemplo, o Iate Club e a Associação Atlética Banco do
Brasil (AABB), que por muito tempo funcionou na Rua Riachuelo, lugar onde hoje
é ocupado por uma agência do Banco do Brasil.
Naquele tempo, era muito difícil entrar num clube. Difícil e
caro. Era preciso ser sócio e para ser sócio, era necessário apresentar uma
proposta de admissão, que era cuidadosamente analisada pela Diretoria. Aprovada
a proposta, o ‘candidato a sócio’ tinha que pagar uma elevada quantia, chamada
‘joia’, que equivalia, aproximadamente, a 20 vezes o valor da mensalidade em
vigor e que, por sua vez, era dividida em inúmeras prestações...
Mas parece que todo esse sacrifício valia a pena, pois uma
carteirinha de sócio abria as portas para o mundo encantado dos clubes, ou
seja, o sócio e seus dependentes tinham direito à piscina, lanchonete, quadra
de tênis, campo de futebol, festas, bailes de carnaval... Tudo naquele tempo
acontecia nos clubes! Por isso, todo mundo queria ser sócio de um clube. Até
eu.
Meu pai era bancário e consequentemente, logo virou sócio da
AABB. Mas como o acesso a este clube era restrito aos funcionários do Banco do
Brasil, ele sentiu necessidade de se associar a outro. E escolheu o Iate.
Portanto, nunca fui sócia de verdade da Associação Atlética,
mas usufruí de todas as vantagens de um associado, graças a meu tio Afrânio
Bastos, que era sócio e morava pertinho de lá, na rua Senador Rollemberg. E meu
tio honrava o título de sócio, pois era um verdadeiro atleta. Nadava, remava,
jogava, entendia de todos os esportes.
E de tanto gostar de esportes, um dia ele cismou que
tínhamos de aprender a nadar, eu e Márcia, a filha dele, minha prima e amiga
inseparável. E foi assim que entrei, pela primeira vez, na piscina da
Associação Atlética, para aprender a nadar com ele. A piscina era gigantesca,
uma piscina olímpica, na verdade, com blocos, raias e um trampolim enorme. Ele
não sabe, mas nunca consegui aprender a nadar de verdade, pois sempre achei
muito difícil administrar, de uma só vez, braços, pernas, respiração e não sei
mais o quê... Mas graças a ele, perdi o medo de piscina e mesmo sem técnica,
consigo ir de uma ponta a outra e sentir, dentro d´água, o mesmo prazer de
todos os grandes nadadores...
Além da piscina, o clube tinha quadra de tênis, quadra de
futebol, sauna e um grande salão de bailes que ficava no andar superior da
sede. Para chegarmos ao salão, subíamos por uma escada bastante curiosa, que
começava reta e depois se abria para os dois lados, em formato circular.
Em 1972, a Associação Atlética também viria a ser palco de
uma das lembranças mais marcantes da minha vida. Ali, logo na entrada e
sentados no chão, assistimos a um show de uma banda quase desconhecida ainda,
formada por um monte de baianos cabeludos e uma única mulher, dona de uma voz
doce e meiga que dançava freneticamente no palco, exibindo uma barriga enorme,
de quase 9 meses de gravidez. Foi assim, cercada pelos muros da minha
Associação Atlética, que fui apresentada aos “Novos Baianos”...
E entrou por uma perna de pato e saiu pela de pinto...
O clube fechou as portas e durante alguns anos ficou
agonizando em meio ao mato que cresceu ao redor, à espera, talvez, de um
príncipe que a libertasse do seu abandono, tal como acontece nos contos de
fada...
Mas o príncipe, mais uma vez, não veio. Como também não apareceu
para libertar o Colégio N.S. de Lourdes, nem o Cine Rio Branco, nem a casa de
dr. Augusto Leite, nem a casa dos Vila Nova, nem tampouco o Hotel Parque dos
Coqueiros. Todos foram sumariamente destruídos. E junto com eles, foram-se,
também, mais algumas páginas da história de Aracaju...
Não resisti hoje e entrei no que um dia foi a Associação
Atlética. De pé, encontrei apenas um resto do que foi uma arquibancada, 3
blocos de onde os nadadores se preparavam para cair na piscina, uma parede da
sauna, a cobertura da boite Catavento e uma escada intacta que hoje não leva
mais a lugar nenhum. Uma escada pintada de verde, vermelho e branco, as três
cores com as quais escolhi pintar minha saudade de hoje... (Lilian Rocha –
28.05.13).
Fotos e texto reproduzidos da página do Facebook do
Grupo "RECORDANDO", postagem de Austeclino Rocha *
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 30 de maio de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário