Publicada em 05/05/2013 Jornal do Dia online.
SEU CONRADO, QUEM FOI ELE?
Por Luiz Eduardo Costa.
Jose Conrado de Araújo, seu Conrado, foi prefeito de Aracaju
entre os anos cinquenta e sessenta. Eleito numa renhida eleição direta, ele
quatro anos depois tornava-se um político santificado pela gente da periferia e
detestado pela classe média. Faz neste mês de maio cinquenta anos que Seu
Conrado morreu.
Logo cercaram de mistérios e suspeitas a sua morte que, na
verdade, nada mais foi do que um acidente com a própria arma, que caiu-lhe da
cintura quando ele levantava-se de uma rede onde descansava. A arma, um
Colt-45, tinha uma bala na agulha, e na queda o percursor bateu com força no
chão e a pistola disparou. O projétil atravessou o peito de Conrado que estava
reclinado, erguendo-se da rede, e foi furar o telhado. Qualquer perito criminal
desfaria imediatamente a suspeita de assassinato, mas isso não aconteceu, e
então ocorreu o episódio da pipoca. Num casebre da periferia uma mulher fazia
pipoca numa panela ao fogo. Uma delas saltou, coisa comum quando se torra o
milho, e caiu ao chão, a mulher logo abaixou-se para apanhá-la, e então veio o
susto:
Gravada na pipoca estava a cara de seu Conrado. Logo o
¨milagre¨ espalhou-se. Alardeado na rádio Liberdade por Silva Lima causou uma
romaria à casa onde seu Conrado aparecera na pipoca, que era exibida numa
campânula de vidro, dessas que se usam para cobrir imagens de santos. A dona da
pipoca cobrava pela entrada, mas logo perdeu o objeto de tanta atração. A
campanula virou, e um rato devorou a pipoca.
O rosto enxergado na pipoca não passou de uma ilusão
coletiva, mas era verdadeira a força de liderança que Conrado exercia no povo
esquecido da periferia, na faixa majoritária dos que não pertenciam a
sindicatos, despolitizados, na maioria analfabetos, afundados no sub-emprego,
ou desempregados,
Conrado foi o primeiro prefeito de Aracaju a valorizar a
periferia, a concentrar a maioria das suas ações no subúrbio mais distante,
onde nem mesmo havia vias de acesso. A liderança que ele exercia em Aracaju
somente se repetiria mais de 20 anos depois, quando Jackson Barreto, primeiro
prefeito eleito após a ditadura retomou o caminho da periferia, deu força `a
organização popular com as associações que se transformaram em instrumentos de
conquistas para o povo.
Texto reproduzido do site: jornaldodiase.com.br
Foto reproduzida do blog: aracajuantigga.blogspot.com.br
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 7 de maio de 2013.
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