Rua João Pessoa.
Por Mário Cabral.
"A Rua João Pessoa, por exemplo, é uma rua tipicamente
aracajuana. Chamava-se, antigamente, a Rua do Barão. É uma rua em linha reta,
como, aliás, quase todas as ruas de minha cidade. Começa na Praça General
Valadão e termina na Praça Fausto Cardoso. A Rua João Pessoa equivale, em
síntese, à Rua da Imperatriz, no Recife, ou a Rua do Ouvidor, no Rio de
Janeiro.
Lá estão situadas as melhores lojas, os mais importantes
magazines, da capital sergipana. Ali existe o comércio grã-fino, ali fazem as
compras os burgueses e os novos ricos do pós-guerra. Tudo é mais caro. A classe
média e o proletariado fogem, respectivamente, para o comércio da Rua
Laranjeiras e da vizinhança do Mercado Modelo.
Você visitará a Casa Cristal, frente ao Cinema Rio Branco,
no gênero, a melhor da cidade. No Prato Chinês e na Casa da Louça, você
encontrará um sortimento moderno e de fino gosto. Na Casa Régia, A Capital e na
Casa Vivinha, você encontrará modas e objetos de arte. Lá estão também a Casa
Rochedo, de artigos de eletricidade; a Casa Imperial, Loja Oriente e Casas
Mascarenhas, de calçados e artigos para homens; a Casa Alvorada e a Casa
Aurora, de sedas; a Casa Ianque, de calçados, roupas e chapéus.
Ali estão situadas três grandes casas de automóveis: a
Agência Ford, a Agência Chrysler e a Agência Chevrolet, como também a Drogaria
Confiança, a Farmácia Maria, a Farmácia Sergipe, a Farmácia Santa Cruz, a
Farmácia Popular, a Farmácia Ipiranga e a Farmácia Menezes.
O Bar Record, com serviços de cafés e gelados, possui também
um vasto salão de snooker, o melhormente afreguesado da cidade. Também nessa
rua estão situados os vários cafés: o City Bar, o Ponto Certo, o Bar Vitória e
a Soverteria Chique, ponto exclusivo da sociedade elegante. A Moda de João
Hora, é uma casa comercial que honra a cidade e ao seu fundador. Frente ao
Hotel Marozzi, ficam o Edificio Cabral e as modernas instalações da Casa Singer
e Ótica Santana.
Mas é preciso ir adiante. O Cine Rio Branco tem uma história
de relevo na vida literária, política e artística da cidade de Aracaju. Juca
Barreto, seu proprietário, é um nome muito simpatizado. O Rio Branco é tudo,
serve para tudo. É cinema, é teatro, é recinto de conferência, salão de concerto,
é local de comício político. Lá o aracajuano ouviu Bidu Saião e Tito Schippa,
Plínio Salgado e Agliberto Azevedo, chefes integralistas e chefes comunistas,
como também discursos democráticos e baboseiras literárias, versos infames
recitados pelos corifeus da subliteratura provinciana. Juca Barreto, nisso
tudo, é um abnegado: deseja, apenas, servir e ser agradável aos seus
conterrâneos.
Na Casa Dois Irmãos, há farto e excelente estoque de artigos
para homens. Há, também, a Casa Leal. Dalvo Leal é um centro de atração:
verboso, dogmático, doutrinador, falando com autoridade entre a venda de um
corte de seda e um vidro de perfume parisiense. Lá é o ponto da magistratura.
Juízes e advogados, promotores e desembargadores discutem leis, comentam
acórdãos, criticam sentenças, tudo sob o olhar aprovativo do dono do
estabelecimento, orgulhoso da fauna judiciária que o envolve.
Adiante, na Rua José do Prado franco, ficam os mercados
públicos. Ainda na Rua João Pessoa estão situadas várias livrarias. A Livraria
Regina, a Gráfica Editora e a Livraria Monteiro exibem, em suas vitrines, as
últimas novidades. A Livraria Regina é a principal, espécie, assim, da Livraria
José Olimpio, do Rio de Janeiro. Suas portas, à tarde, ficavam cheias de
literatos da terra, que, entre uma anedota fescenina e uma novidade política,
olham os desfiles das jovens que fazem o footing. Lá você conhecerá Freire
Ribeiro, José Amado, Mário Cabral, Walter Cardoso, Paulo Costa, Santo Souza,
Marcos Ferreira, Manuel Cabral, José Cruz, Seixas Dória, muitos outros. Lá não
estará, porém, o Poeta da Rosa Vermelha – Artur Fortes. E esse a morte levou,
roubando-o, assim, ao nosso convívio e admiração. O Bar Apolo é o lugar certo
do aperitivo diário. Vale ressaltar, ainda, o Palácio das Joias.
Assim é a Rua João Pessoa. Lojas, bares, sorveterias,
hotéis, bancos, barbearias fazem, dessa rua, a mais movimentada da cidade, com
seus transeuntes, com seus flaneurs à porta das livrarias, com os seus ônibus e
seus automóveis, e, antigamente, com seus bondes, morosos e superlotados,
rolando, indecisamente, em direção aos bairros distantes. A cidade de Aracaju,
amiga, começa na Rua João Pessoa."
Texto e foto reproduzidos do Facebook/Linha do
Tempo/Antônio Samarone.
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 3 de febereiro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário